João Jorge e Jacobina Maurer

João Jorge e Jacobina Maurer

I m A g E m

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O Velho do Espelho

"Por acaso, surpreendo-me no espelho:
quem é esse que me olha e é
tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus,Meu Deus...Parece meu velho pai -
que já morreu"! (Mario Quintana)

P E S Q U I S A

sexta-feira, 25 de maio de 2007

As muitas mentiras da mídia venezuelana



 Na Venezuela, até os comentaristas estão engajados na campanha aberta da mídia comercial para derrubar o presidente democraticamente eleito Hugo Chavez. Andres Izarra, um jornalista da tevê venezuelana, diz que a campanha causou tanta violência contra a informação verdadeira que as quatro redes de tevê privadas deveriam perder o direito às suas concessões públicas. "Eu acho que as concessões deveriam ser revogadas", diz ele. É o tipo de pronunciamento que se espera de Chavez, conhecido por apelidar as estações de "os quatro cavaleiros do apocalipse". Izarra, no entanto, é mais difícil de desconsiderar. Um cara certinho, feito sob medida para a TV, trabalhou como editor da CNN em espanhol para a América Latina até ser contratado como gerente de produção do telejornal de maior audiência do país, El Observador, na RCTV.

No dia 13 de abril de 2002, um dia depois que o líder empresarial Pedro Carmona assumiu o poder, Izarra pediu demissão do emprego sob condições que ele descreve como "de extremo stress emocional". Desde então, ele tem soado o alarme sobre a ameaça à democracia que surge quando a mídia decide abandonar o Jornalismo e assume a posição de usar todo o seu poder de persuasão para ganhar uma guerra causada pelo petróleo. [Nota do site: neste período, Chavez tentava assumir o controle da PDVSA, a estatal de petróleo venezuelana]

As tevês privadas da Venezuela são propriedade de famílias milionárias, com vastos interesses econômicos em jogo na batalha contra Chavez. A Venevision, a emissora de maior audiência, é propriedade de Gustavo Cisneros, apelidado pelo tablóide americano New York Post de "o rei da joint venture". O Grupo Cisneros tem parcerias com algumas das mais importantes marcas americanas, entre elas a América Online, Coca-Cola, Pizza Hut e Playboy, tornando-se uma espécie de vigilante do mercado latino-americano. Cisneros é um defensor incansável do livre comércio continental, dizendo ao mundo, num perfil publicado em 1999 pela revista LatinCEO que "a América Latina está agora comprometida completamente com o livre comércio, e completamente comprometida com a globalização. Como continente, já fez sua escolha".

Mas com os eleitores latino-americanos escolhendo políticos como Chavez, isso mais parece um caso de propaganda enganosa: a venda de um consenso que não existe. O que ajuda a explicar porque, nos dias que precederam o golpe de abril, a Venevision, a RCTV, a Globovision e a Televen trocaram a programação regular por insistentes discursos anti-chavistas, interrompidos apenas por comerciais convocando os telespectadores a ocupar as ruas: "Nenhum passo atrás. Saia! Saia agora!". Os anúncios eram patrocinados pela indústria do petróleo, mas as emissoras colocavam no ar como se fossem "de interesse público".
E foram além. Na noite do golpe, a emissora de Cisneros serviu de lugar de reunião para os conspiradores, inclusive Carmona. O presidente do Conselho de Radiodifusão da Venezuela foi co-signatário do decreto que dissolveu a Assembléia Nacional, eleita democraticamente.

E enquanto as emissoras celebravam abertamente a "renúncia" de Chavez, quando forças pró-Chavez se mobilizaram para trazê-lo de volta houve um blecaute completo de notícias.
Izarra diz que recebeu instruções claras: "Nenhuma informação sobre Chavez, seus seguidores, seus ministros ou qualquer outra pessoa que de alguma forma possa ser relacionada a ele". O jornalista assistiu horrorizado enquanto seus chefes ativamente suprimiam as manchetes de última hora.
Izarra diz que no dia do golpe, a RCTV recebeu uma reportagem de uma afiliada dos Estados Unidos dizendo que Chavez não havia renunciado, mas tinha sido seqüestrado e preso.
A reportagem não foi ao ar.

O México, a Argentina e a França condenaram o golpe e se recusaram a reconhecer o novo governo. A RCTV sabia, mas não divulgou. Quando Chavez finalmente retornou ao Palácio Miraflores, as estações simplesmente deixaram de divulgar notícias.
Em um dos dias mais importantes da história da Venezuela, elas colocaram no ar o filme "Pretty Woman" e desenhos animados de Tom e Jerry. "Nós tínhamos um repórter em Miraflores e sabíamos que o palácio havia sido reconquistado por chavistas", diz Izarra, "mas o blecaute de informações foi mantido. Foi quando decidi dar um basta e fui embora".
Desde então a situação não melhorou.

Durante uma greve organizada pela indústria de petróleo, as emissoras de tevê transmitiram em média 700 comerciais pró-greve por dia, de acordo com estimativas do governo.
É nesse contexto que Chavez decidiu peitar para valer as emissoras de tevê, não apenas com sua retórica furiosa, mas com uma investigação sobre a violação dos padrões de imparcialidade e uma série de novos regulamentos. "Não se surpreendam se nós começarmos a fechar emissoras de tevê", disse Chavez em janeiro. A ameaça provocou uma onda de condenações do Comitê de Proteção aos Jornalistas e da organização Repórteres Sem Fronteiras. E há motivos para preocupação: a guerra da mídia na Venezuela é sangrenta, com ataques contra meios de comunicação pró e anti-Chavez.



 Mas as tentativas de regulamentar a mídia não são um "ataque à liberdade de imprensa", como o CPJ afirmou - pelo contrário. A mídia venezuelana, incluindo a TV estatal, precisam de sérios controles para garantir diversidade, equilíbrio e acesso público, à distância dos poderes políticos do momento.
Algumas das propostas de Chavez, como a cláusula que baniria programas que mostrassem "desrespeito" ao governo, claramente vão além do necessário e poderiam ser usadas para calar críticos.
Dito isso, é um absurdo tratar Chavez como a principal ameaça à liberdade de imprensa na Venezuela. A honra é claramente dos próprios donos dos meios de comunicação.

Esse fato foi completamente esquecido pelas organizações encarregadas de defender a liberdade de imprensa ao redor do mundo, que ainda acreditam que todos os jornalistas só querem falar a verdade e todas as ameaças vem de políticos ditatoriais e multidões enfurecidas.
É uma pena, porque nós precisamos desesperadamente de defensores de uma imprensa livre - e não apenas na Venezuela. Afinal, a Venezuela não é o único país do mundo em que há uma guerra por petróleo, onde os donos da mídia pedem "mudança de regime" e onde a oposição rotineiramente desaparece dos telejornais em horário nobre.
Nos Estados Unidos, ao contrário da Venezuela, a mídia e o governo [Bush] estão do mesmo lado".
 
PS - O filme ' A Revolução Não Será Televisionada' mostra clara e cruamente a participação ativa dos meios de comunicação da Venezuela na tentativa frustrada de golpe de estado de abril de 2002. 

por Naomi Klein, publicado na revista Americana The Nation, em 03 de março de 2003.
Fonte: Blog de Marco Weissheimer http://rsurgente.wordpress.com/

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