João Jorge e Jacobina Maurer

João Jorge e Jacobina Maurer

I m A g E m

I m A g E m
O Velho do Espelho

"Por acaso, surpreendo-me no espelho:
quem é esse que me olha e é
tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus,Meu Deus...Parece meu velho pai -
que já morreu"! (Mario Quintana)

P E S Q U I S A

quarta-feira, 27 de junho de 2018

46. A revolução conservadora

Mudo ando,
mudo passo,
mudo paro 
e o tempo
que não muda,
que não passa
branqueia minha barba,
surrupia-me as melenas
revelando-me, por fim,
cada vez mais conservador.
Não quero abrir mão
de mais nada,
das coisas que tenho,
da serenidade conquistada,
dos momentos felizes
com quem escolhi ficar.
Quero conservar,
manter sem mudar...
O tempo me contou
das coisas que
não vou mais mudar.
Não mudo mais de gênero,
nem de sexo,
nem de esposa
ou família,
nem time de futebol
nem de partido
ou convicções políticas ...
Também não mudo mais
minha sincera
e empedernida convicção
que homens e mulheres,
são diferentes
mas não desiguais
porque todo ser humano
tem direito a justiça da igualdade
e a felicidade que isso proporciona.
Nenhum ser humano
pode ser rotulado
por seu poder de compra
ou faixa de consumo.
Cada pessoa no controle
do próprio corpo,
conduz sua nave
pelo espaço
na busca do prazer
e da felicidade de
amor dar e amor receber...
Me assumo
como conservador,
mantenho e retenho
minha cisma teimosa
que cada um
deve assumir
"a dor e a delícia
de ser o que é"
porque sob todas as formas,
além de todas normas
"toda maneira de amor
vale a pena".

Glnei Andrade

sexta-feira, 15 de junho de 2018

45. MeMóRiA SiNDiCaL (VII)


Depoimento I - Gilnei Andrade
Nascí no dia 07 de abril de 1962, no bairro Quilombo em São Sebastião do Caí. Sou o filho do meio de Amandio Pereira de Andrade e Erna Terezinha Freitas de Andrade. Meu irmão mais velho é o Gilson, que foi dirigente dos bancários em Novo Hamburgo e atualmente trabalha na Caixa Federal em Brasília e a irmã mais nova é a Gislane, que trabalha no TRE em Porto Alegre. Sou neto de pequenos agricultores pelo lado materno e pequenos comerciantes pelo lado paterno. Minha infância foi vivida brincando e correndo na rua e atrás dos balcões dos armazéns do meu pai e do avô paterno, tomando banho no arroio Cadeia e no rio Caí e visitando a propriedade rural dos avós maternos na vila Conceição, interior de S.S. do Caí. Estudei no Grupo Escolar Felipe Camarão cuja diretora era nossa vizinha na estrada Julio de Castilhos, atual rua Esperanto. Essa diretora da escola a dona Ivone Weber, e também a mãe dela a dona Olinda, eram amigas de minha família, deram ajuda e assistência a mim e meus irmãos antes e depois do falecimento de nossa mãe. 
Gilnei Andrade 1976
Com quinze anos comecei a trabalhar, com carteira assinada, na lancheria da Estação Rodoviária local. No final dos anos 70 um grupo de estudantes secundaristas foi atraído para a militância social e partidária por causa de um incidente na cidade entre a ARENA e o José Clóvis de Azevedo. O professor José Clóvis era caiense e dava aula de Geografia e História para várias turmas de sexta, sétima e oitava série da Escola Normal onde todos iam estudar depois de completar a quinta série no Felipe Camarão. Ele incentivou a criação e acompanhava como professor-conselheiro a direção do Grêmio Estudantil. O Grêmio Estudantil passou a editar um boletim informativo falando dos problemas da educação, das multinacionais no Brasil e apresentando biografias de figuras da história mundial, numa edição o Marx, noutra o Lênin, até que deu problema. A direção da ARENA da cidade decidiu intervir no Grêmio e demitir o professor José Clóvis, esse mesmo que acabou sendo o primeiro reitor da UERGS, a Universidade Estadual criada, em 1999 ou 2000, pelo Governador Olívio Dutra. O professor José Clóvis passou a se reunir, nos sábados á tarde, com esses estudantes discutindo o que tinha ocorrido, falando de política, ouvindo músicas do Chico Buarque, do Caetano e do Geraldo Vandré e falando da situação do Brasil. Fizemos alguns curso de formação política e fomos incentivados a fazer militância partidária no Setor Jovem do MDB local.  Esses estudantes não eram da minha idade, eram mais velhos, mas como entre eles estavam o Gilson e o Leo Weber, o filho da diretora, eu acabei participando. 
Américo Copeti
Nas eleições de 1978 lembro que ajudamos na campanha dos candidatos apoiados pela Tendência Socialista do MDB que elegeu como deputado estadual o Américo Copetti que morava em Novo Hamburgo. Numa das ocasiões nessa campanha o Américo Copetti contou a história de um carro DKW que possuiu e cuja porta abria ao contrário. Disse que certa feita dirigindo com um filho ao seu lado no carro não percebeu que a criança abriu a porta do carro em movimento e que a força do vento jogou a porta para trás puxando a criança que passou por baixo da porta e caiu. Disse que olhando pelo retrovisor viu a criança rolando na estrada e os carros que vinham atrás desviando do filho que, felizmente, sofreu apenas alguns arranhões. 
Fabrica de calçados anos 80
Ainda em 1978, com dezesseis anos, fui trabalhar na empresa Reichert Calçados e morei em Campo Bom. A primeira experiência de trabalhador do calçado durou seis ou sete meses. O pagamento da pensão que fornecia quarto e alimentação comprometia quase todo o salário da fábrica. E saí da pensão e fiquei, durante duas ou três semanas, morando numa DKW com dois irmãos de Montenegro que também saíram da pensão. Estacionamos a DKW num beco nos fundos da filial do Reichert onde trabalhávamos e a noite dormíamos, os três, no carro.  Para conseguir esticar as pernas tínhamos que tirar do lugar o volante do carro. Nos fins de semana colocávamos o volante de volta no lugar e voltávamos para o Caí e Montenegro. Dias depois alugamos uma garagem onde havia um banheiro. Desse período da fábrica lembro-me de uma visita, pouco dias antes das eleições de 1978, de dois candidatos da ARENA que passaram na fábrica e apertaram a mão dos trabalhadores. No setor de corte, onde eu trabalhava, havia vários eleitores do MDB que sujaram bem as mãos antes de cumprimentar os senhores Claudio Strassburger e Níveo Friedrich.
Milton Rosa e Lula
Na época nem sabia mas minha ida para Campo Bom era parte de um movimento muito comum no final dos anos 70. Na minha cidade e muitas outras do interior do estado não havia emprego para  todos os jovens e muitos conhecidos e amigos meus tinham saído da cidade para  trabalhar em Novo Hamburgo, Campo Bom e Sapiranga. Lembro dos filhos de uma senhora, a dona Iracema, que trabalhou durante algum tempo como empregada doméstica em nossa casa, no Caí, e todos eles, eram quatro ou cinco, um  a um, foram trabalhar numa fabrica de calçados.  A lembrança permaneceu viva na minha memória porque não conseguia dizer o nomes complicado da empresa Catléia de Sapiranga. Esses jovens, fizeram alguns anos antes, exatamente o que eu vim a fazer tempos depois. Quando cheguei em Campo Bom fui apenas numa fábrica pedir emprego e um dia depois já estava trabalhando. Lembro que no setor do corte da empresa Reichert, onde comecei, eu era o único com segundo grau e isso me promoveu para o setor de expedição de calçados. Na época os carros de som anunciavam pelas ruas as vagas existentes nas fábricas. Nos horários de entrada e saída das fábricas era um oceano de pessoas de guarda-pó azul e andando a pé, de bicicleta ou espremidas nos ônibus. Era comum que as empresas mantivessem ônibus fretados buscando e levando os trabalhadores para suas casas nas cidades vizinhas.
Niveo Friedrich e Orlando Muller
Na filial da empresa Reichert onde trabalhei os empregados usavam um guarda-pó (jaleco) azul, os chefes de seção usavam da cor verde e o chefe ou encarregado geral um vermelho. Claro que este tinha o apelido de cardeal, um passarinho de crista vermelha. Naquele momento havia um novo chefe geral que não foi muito bem recebido, não lembro a razão, mas possivelmente porque o chefe anterior era mais próximo dos empregados ou porque o novo era muito entendido ‘na teoria’ mas nada sabia da realidade do chão de fábrica. Em pouco tempo ele aprendeu que devia relacionar-se bem com todos porque de outra forma não teria futuro na empresa. Essa filial ficava num prédio antigo onde funcionou uma fábrica de vidro, ou talvez de tijolos porque havia um espaço aberto de um grande forno e de uma chaminé alta.  Nas festas de Natal e Ano Novo, de 1978, os meus parceiros de aluguel não voltaram das férias em Montenegro. Sem poder bancar o aluguel sozinho saí da fabrica e voltei para a casa da avó, em S.S. do Caí, onde retomei os estudos e conclui o ensino médio em 1981. Nesse momento aquele grupo de estudantes do professor José Clóvis tinha aumentado com a adesão de mais estudantes, de pessoas ligadas a grupos de trabalho social da Igreja Católica (as CEBs – Comunidades Eclesiais de Base) e de algumas pessoas vindas dos partidos comunistas e suas dissidências. Esse grupo já tinha rompido com o MDB e criado na cidade, em 1980, o PT - Partido dos Trabalhadores. 
Gilnei Andrade anos 90
Entre 1980 e 1982 trabalhei na Blauth Veículos, concessionária Mercedes Benz do Caí cujos proprietários adquiriram parte da Ritmo Veículos, concessionária Fiat em Novo Hamburgo. Em 1980 e 1981 fui presidente do Gremio Estudantil Alceu Masson e fizemos jogos interséries, atividades e promoções culturais. Ajudamos a vender bônus para o Fundo de Greve dos metalúrgicos grevistas do ABC paulista e fizemos um show, com o grupo Tapes, se não me engano, com renda revertida para os colonos sem-terra acampados na Fazenda Anoni em Ronda Alta.  Nesse mesmo período fui delegado do Sindicato dos Metalúrgicos de SSdo Caí no ENCLAT - Encontro da Classe Trabalhadora em Porto Alegre que discutia a fundação da central unica dos trabalhadores. Ao sair da empresa, no início de 1982 fui convidado por um dos sócios para trabalhar na Ritmo Veículos, em Novo Hamburgo. Aceitei o emprego e vim morar com meu pai que, após novo casamento, estava morando em Novo Hamburgo

Olívio Dutra
Lembro de que em dois momentos parte daquele grupo do Caí tinha vindo a Novo Hamburgo: num ato político com uma missa ecumênica de apoio a uma grande ocupação de terras na vila Dois de Setembro, que deve ter ocorrido em 79 ou inicio de 1980 e para a posse da direção eleita do Sindicato dos Metalúrgicos, em 1980. Quando vim trabalhar em Novo Hamburgo já era do PT e conhecia o pessoal da região que articulava o partido.  Entre eles, além do professor José Clóvis, estava o Nelson de Sá, um trabalhador do calçado de Novo Hamburgo que agitava o movimento comunitário, as oposições sindicais e a fundação do PT. Conhecia ainda o João Machado e o Paulinho Haubert, dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos, conhecia o Olívio Dutra, presidente dos bancários de Porto Alegre, o Raul Pont, professor da Unisinos pois já havia movimentação das eleições de 1982 e alguns deles foram candidatos. Logo no início do meu trabalho na Ritmo, em junho de 1982, houve uma greve de dois dias dos metalúrgicos da cidade e participei das assembléias e dos piquetes. Depois vim a saber que a minha função no controle de estoque das peças dos automóveis era ligada a categoria dos comerciários mas eu já havia me associado e permaneci vinculado ao sindicato dos metalúrgicos. 
Edson Mattos, Milton Rosa, Ledi Bobsin, Eloina de Sá, Gilnei
Andrade, Jacó Bittar, Inacio Fritzen, Jair Menegheli, Polidoro
Pacheco, Orlando Muller, Antonio Salonides Nidi Paz, Nelson Sá,
Olivio Dutra e Lula - Sindicato dos Sapateiros NH 1983
Em 1983 participei como delegado dos metalúrgicos de Novo Hamburgo no Congresso de Fundação da CUT, em São Bernardo do Campo.  O Congresso da fundação da CUT foi realizado nos antigos pavilhões da Vera Cruz, a Hollywood brasileira que antes de falir produziu dezenas de filmes principalmente as chanchadas brasileiras. A prefeitura de São Bernardo havia reformado os pavilhões que serviam como um Centro de Convenções.  Foi a segunda vez que vi o Lula, presidente do sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista que estivera antes em comícios em Novo Hamburgo e região. Em outubro de 1983 saí da Ritmo Veículos. No inverno de 1983 houve uma grande e bem sucedida greve geral no Brasil. Em Novo Hamburgo os metalúrgicos e os sapateiros com apoio dos comerciários organizaram piquetes principalmente na saída das garagens dos ônibus municipais.  Embora durante o dia o número de grevistas e brigadianos nas ruas fosse quase equivalente a greve paralisou as escolas, parte do comércio e algumas indústrias. No dia anterior a greve um comboio de carros militares saiu do quartel em São Leopoldo e fez um desfile de advertência de Canoas até Novo Hamburgo, passando pelas ruas centrais de cada cidade, numa demonstração de ameaça. Tive uma segunda e ainda mais rápida passagem pela indústria de calçados. Trabalhei, em 1984, num atelier contratado pela Esfinge e depois trabalhei diretamente nos Calçados Esfinge. Nesse período que trabalhei no atelier da empresa Esfinge, na rua Rincão, conheci o Orlando Muller, presidente do sindicato dos sapateiros, que esteve na empresa em função do atraso no pagamento dos empregados. A Esfinge, uma empresa tradicional da cidade, atrasou os pagamentos porque vinha enfrentando muitas dificuldades. Havia sido vendida para alguns empresários especialistas em golpes com empresas pré-falimentares e realmente faliu algum tempo depois sem pagar ninguém. Daí em diante passei a trabalhar diretamente com a militância sindical e partidária. Fui funcionário administrativo e assessor do Sindicato dos Metalúrgicos de Novo Hamburgo de julho de 1984 a dezembro de 1987, em 1988 trabalhei na sede do PT e na campanha eleitoral e depois fui  assessor do PT na Câmara Municipal de Vereadores entre fevereiro de 1989 e fevereiro de 1995. Foi um período de convívio mais intenso com o Nelson de Sá o principal ativista social e dirigente do PT local daquela época. O Nelson Sá merece ter sua história contada porque agitou o movimento comunitário e sindical durante 30 anos e construiu o PT na região e no estado. Foi o incentivador e organizador dessa retomada do movimento de esquerda em Novo Hamburgo. 

Direção eleita Sindicato dos Metalúrgicos NH 1980 
No sindicato dos metalúrgicos fui um pouco funcionário administrativo e outro pouco assessor político.  O João Machado que venceu as eleições de 1980 foi reeleito em 1983 e 1986. Logo após essa eleição ele transferiu-se para a Federação dos Metalúrgicos, órgão de representação estadual da categoria e seu vice o Paulo Haubert assumiu o sindicato. O ano de 1986 foi efervescente para o movimento sindical na cidade. Estimulada por alguns empresários apresentou-se uma chapa de oposição nos metalúrgicos e a CUT organizou chapas de oposição nos sindicatos dos bancários, construção civil e sapateiros. Nas eleições realizadas na primavera de 1986 os metalúrgicos mantiveram sua direção cutista e as oposições venceram nos bancários com Maira Jean Pinto e com meu irmão Gilson Andrade na chapa e venceu também nos sapateiros com Milton Rosa. A eleição da construção civil foi anulada em função de irregularidades, uma junta governativa assumiu o sindicato e no ano seguinte a oposição ligada a CUT também venceu. 
Gilnei Andrade e Olívio Dutra
Ainda em 1986 houve eleições estaduais e o Nelson de Sá foi candidato a deputado estadual. Não se elegeu mas o PT estreiou na Assembleia Legislativa do Estado com Raul Pont, Adão Pretto, José Fortunati e Selvino Heck. Elegeu ainda como deputados federais constituintes Olívio Dutra e Paulo Paim. Em 1987 sai do sindicato e fui trabalhar para o PT. Fui um dos coordenadores da eleição municipal de 1988 onde o PT elegeu dois vereadores: Milton Fagundes que era o advogado do sindicato dos sapateiros e Alécio Bloss, bancário, que era ligado a grupos sociais da Igreja Católica e mora até hoje no bairro Canudos. No inicio de 1989 virei assessor parlamentar na Câmara Municipal e assumi a presidência municipal do PT em 1992.  Nesse ano o vereador e advogado Milton Fagundes concorreu a prefeito e o PT reelegeu o vereador Alécio.  Ainda como presidente do PT participei da eleição de 1994 na qual o Olivio Dutra perdeu para o Britto no segundo turno. No início de 1995 deixei a presidência do PT e fui trabalhar na empresa Novosat. 
PT NH 1996 - Tarcisio Zimmermann e Gilnei Andrade
Em 1996, concorri a vice-prefeito de Novo Hamburgo na chapa liderada por Tarcísio Zimmermann. O PT cresceu, fizemos quase 14 mil votos e elegemos três vereadores o Alécio Bloss novamente, o pastor luterano Helio Pacheco e o líder comunitário da Boa Saúde, Irovan Couto. Nelson de Sá faleceu em agosto de 1998, durante a campanha, sem festejar a vitória do partido que criou e por quem militou por mais de trinta anos.  Permanecí no comércio até o início de 1999. Com a eleição do governador Olívio Dutra, em 1998 e de Tarcísio Zimmermann e Ronaldo Zulke como deputado federal e estadual da região fui trabalhar na Assembléia Legislativa onde permaneci até fevereiro de 2009.  

A presença de Olívio Dutra no Governo do Estado contribuiu para algumas importantes iniciativas no enfrentamento  e na resistência a crise do setor coureiro-calçadista. Os sindicatos da região criaram a Escola dos Trabalhadores 8 de Março que realizava cursos de formação  sindical, qualificação profissional e elevação do grau de escolaridade para os trabalhadores. A criação de cooperativas de trabalhadores que, em alguns casos, assumiram as ‘massas falidas’ e continuaram produzindo enquanto arrastavam-se os processos de falência das empresas, as iniciativas de auto-gestão e a economia popular e solidária se  intensificaram nesse momento. Eu voltei à presidência municipal do PT em 2000     e
fui ainda coordenador do PT Regional Vale do 
Sapateiro. 


Em 2004 depois de uma eleição municipal tumultuada onde ‘quase’ vencemos o pleito e com as dificuldades iniciais do governo Lula e o episódio do mensalão eu diminui o ritmo da militância partidária e passei a dividir meu tempo com outras atividades mais prazerosas mental e fisicamente. No início de 2005 voltei a estudar e comecei o curso de História na Feevale. Com a vitória do PT e a posse de Tarcísio na prefeitura municipal de Novo Hamburgo em 2008 saí da Assembléia Legislativa e vim trabalhar na cidade assumindo a Diretoria de Relações Institucionais da Secretaria Geral de Governo da Administração Municipal.
Gilnei Andrade 
2009/2010

sexta-feira, 8 de junho de 2018

44 Um anjo caído

 O tempo não existe
para quem o criou.
Aqui na Terra, sim,
somos governados,
sofremos e festejamos
a existência das horas,
de um passado,
um presente e um futuro.

Ás vezes,
só para testar
nossas potencialidades
Ele cria anjos,
como quem sopra
bolinhas de sabão
e os envia para junto
dos seus filhos terrenos.

E esses anjinhos,
caídos e ou enviados,
germinam no ventre
das filhas da Terra.
Essas criaturinhas,
uma gota de sangue coagulado
e duas de sopro divino,
ao nascer dão a luz
que ilumina e dá sentido
a existência nas malocas
e nos palácios.

Pouco tempo atrás,
não importa
quanto tempo exatamente
- porque a medida que
o homem caminha
sobre a Terra
torna-se aliado do tempo
e inimigo das horas -
um segundo anjo
bateu as portas 
de nossa morada.

As bisavós deram a ela,
lá no céu, grandes olhos azuis,
ganhou dos pais, na terra,
bochechas salientes
e tomou emprestado,
na viagem, um brilho de sol
que lhe pintou os cabelos.

No tempo cronometrado
da terra, o anjo cresceu rápido,
falou precocemente
e demorou para andar
porque nunca mais
iria parar de andar.

Deixou de ser anjo,
em anjo-criança
se transformou e
os pais e amigos choraram
pela felicidade que sentiram.

Depois o anjo-criança
seguiu caminhando,
estudou, representou,
cantou e encantou.
O anjo-criança
representou ser adulto
e colocou-se no lugar
dos outros que pensam
que a governam.

E hoje o anjo quer mais.
Sentindo-se forte
e sentindo fogo nas asas 
quer voar para mais longe,
quer conhecer outros lugares
um pouco além da segurança do ninho.

Eu olho esse anjo adultoscente
e vejo nos seus olhos
e no seu rosto
a semelhança da minha mãe
e das minhas avós.
Vejo numa só criatura
a dor e a alegria de gerações,
que no tempo da terra
já se foram,
mas que no tempo do Criador
continuam a nos abençoar.

Anjo do pai e da mãe,
presente do Criador
que cresceu e quer viver.
Que quer sofrer e amar.
O que posso fazer
ou dizer além de abençoar?


Vai, filha descobre o mundo
mas volta antes das dez.
Mostra para eles
do que tu és capaz
mas não esquece
a chave de casa.
Arranca dos outros
os merecidos aplausos,
só não esquece
o agasalho porque
vai esfriar e pode chover.

Feliz aniversário, Thaís.
Só não esquece
que todo mundo passou
pelos vinte para chegar
nos vinte e um.
Uma longa vida
de muita luz, saúde e amor,
filha do amor 
de um pai e uma mãe.
Beijos.


Novo Hamburgo, 
8 de junho 2013
Inverno no Sul

quarta-feira, 6 de junho de 2018

43. Só por isso

Eu não sei como, 
mas sei por quê,                                             
precisamos voltar                   
a nos encontrar                     
e falar de coisas          
simples e substantivas...                                

Cansa muito ficar                                 
 jogando adjetivos               
 em todos, em tudo...                                              
 Vamos continuar                                 
vivendo e morrendo           
no Brasil e                                
- depois de nós -         
nossos filhos
e netos também.                         

Hoje, como ontem,                         
quero um partido...                          
Mas, antes,                                            
queria pra mim.               
Hoje, não,                            
quero para outros...                                 
Pode ser partido ou    
repartido, consentido                             
ou sem sentido.                             
Mas precisa ter,            
preciso ver,                   
 precisa haver... 
... futuro...             

Entrando, de lado,                                 
na curva dos sessenta,              
sou cada vez                                         
menos radical e              
mais anarquicamente humano...                        
Porque há gente e                                   
há vida pra ser vivida.                       
Por isso. 
Acho que,                                              
só por isso ...                                                                                                  

Gilnei.Andrade 
junho 2018

segunda-feira, 4 de junho de 2018

42. Alegria triste



"Não venha com 
teu sorriso falso
alegrar minha 
tristeza verdadeira,
não venha com tua luz
abrir as cortinas 
dos meus olhos 
e iluminar minha penumbra...

Não venha com 

tua canção improvisada
agitar o meu silencio empedernido...
Só hoje e mais um dia, 
me deixe aqui sozinho,
porque no escuro 
e no silencio 
a fraqueza se fortalece 
e as certezas esvaem....

Quando enlouquecem 

os Senhores da Guerra 
e irmão combate irmão,
os mais jovens 
morrem primeiro
e os culpados 
escondem a mão.

Mas todo erro cometido

tem uma ordem dada,
toda ordem uma mão...
toda insanidade orquestrada, 
é um crime sem perdão....

Gilnei Andrade,  junho de 2015