João Jorge e Jacobina Maurer

João Jorge e Jacobina Maurer

I m A g E m

I m A g E m
O Velho do Espelho

"Por acaso, surpreendo-me no espelho:
quem é esse que me olha e é
tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus,Meu Deus...Parece meu velho pai -
que já morreu"! (Mario Quintana)

P E S Q U I S A

terça-feira, 13 de março de 2018

A triste história de amor da mulher que, vestida de homem, pode ter sido a primeira médica da América Latina

Por Lioman Lima  BBC Mundo

2 horas

Enriqueta Favez
Image captionReconstituição feita pela polícia de Cuba mostra como pode ter sido o rostro de Enriqueta Favez | Foto: Cortesia/Julio César González Pagés
Ameaçado de ter o corpo examinado e de ser forçado a andar nu pelas ruas de Santiago de Cuba, o médico Enrique Favez não mais teve como guardar o segredo que manteve desde que chegou à ilha. Sob pressão, revelou sua verdadeira identidade - e foi punido por esconder quem realmente era.
Até então, muito pouco se sabia sobre o passado do homem que dizia ter nascido na Suíça em 1791, estudado medicina na França e atuado como médico de guerra e soldado nas tropas de Napoleão Bonaparte.Ele contava que ainda havia sido capturado e feito prisioneiro de guerra pelas tropas do general britânico Arthur Wellesley, o duque de Wellington. Solto tempos depois, mas derrotado, sem rumo e com uma guerra no currículo, teria decidido atravessar o oceano em busca de uma vida melhor. E em 1819, desembarcou em Santiago vindo da colônia francesa de Guadalupe, para depois enfim se estabelecer em Cuba, mais precisamente num povoado chamado Baracoa.  
Em 1823, já era um renomado cirurgião que havia se casado com uma moradora local, Juana de León. Levava uma vida tranquila e aparentemente respeitável, apesar de relatos de envolvimento em brigas e de abuso de álcool.Mas na tarde de 6 de fevereiro de 1824, o doutor Favez foi levado a um tribunal. Na ocasião, um grupo de médicos ameaçava submetê-lo a um exame físico ordenado pelo juiz.
Ele fora foi denunciado pela própria mulher, que assegurava que o respeitado médico, o venerado cirurgião e fiel marido não era quem ele dizia ser.Quando os médicos e policiais estavam prestes a cumprir a ordem do juiz, Enrique Favez os interrompeu e contou a verdade: ele era, na verdade, um mulher.

Exame minucioso

Mesmo após dizer que não era um homem, o corpo de Favez foi examinado parte por parte, de forma minuciosa.O processo judicial contra o médico está no Arquivo Nacional de Cuba, onde é possível ler o relatório do exame. A pessoa examinada, diz o documento, "é dotada de todas as partes pudendas próprias do sexo feminino", para então concluir: é uma "mulher real e perfeita". O doutor Enrique era, na verdade, Enriqueta Favez.

BaracoaDireito de imagemAFP
Image captionEnrique se estabeleceu em Baracoa, uma vila no oeste de Cuba onde muitos franceses viviam no século 18


Ler na íntegra:

http://www.bbc.com/portuguese/internacional-43369635


terça-feira, 6 de março de 2018

O dia que a Guarda Municipal do Caí encarou os integralistas

O trabalho de conclusão do Curso de História do conterrâneo caiense, companheiro de lutas sociais e professor Paulo Daniel Spolier é sobre o advogado, banqueiro e politico Egydio Michaelsen. 
Do intenso e aprofundado trabalho de pesquisa um momento em particular me chamou mais a atenção. No ano que Michaelsen elegeu-se prefeito da cidade foi outro acontecimento, ocorrido em fevereiro, que a história registrou com mais ênfase.  

Getulio Vargas com Egydio Michaelsen no Caí

Trabalho de Conclusão de Curso Para a obtenção da Graduação de Licenciado em História Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Curso de História
Autor: PAULO DANIEL SPOLIER

'EGYDIO MICHAELSEN: ASCENSÃO E CONSOLIDAÇÃO HEGEMÔNICA DAS “CLASSES CONSERVADORAS” EM SÃO SEBASTIÃO DO CAÍ – 1935/1944'.
Orientadora: Professora Drª. Sirlei Terezinha Gedoz
São Leopoldo 2005


Num dos capítulos de seu trabalho Paulo Spolier resgata esse episódio, ocorrido em fevereiro de 1935, em São Sebastião do Caí. Após uma manifestação integralista na cidade ocorre um violento confronto entre os camisas verdes e a Guarda Municipal da cidade que resulta em mortes e feridos. Apresento a transcrição do trabalho na parte que trata desse episódio:                                                                                                                                
                                     
                                   O incidente com os integralistas  
                 (O dia que a Guarda Municipal do Caí encarou os integralistas)

O ano de 1935 foi um ano de grandes agitações na cidade de São Sebastião do Caí. No dia 25 de fevereiro, domingo, organizada por grupos que provinham de São Leopoldo, Novo Hamburgo e Caxias do Sul, aconteceu na cidade uma parada da Ação Integralista Brasileira (AIB), com discursos e um desfile com marcha dos camisas verdes pelas principais ruas da cidade. 

O saldo desta passeata será sangrento: três mortos e onze feridos. Em matéria,  - furo de reportagem da época, o Diário de Notícias de 26 de fevereiro de 1935 narra os acontecimentos particularmente violentos, em matéria feita in loco por seus repórteres, algo inusitado para a época, devido às dificuldades de comunicação então existentes.

Segundo a matéria do jornal, os integralistas iniciaram suas movimentações na parte da manhã, desfilando pela cidade e depois se concentrando na Praça João Pessoa (hoje Praça Cônego Edvino Puhl), no centro da vila. De acordo com o depoimento do então prefeito em exercício, Aluísio de Moraes Fortes (Athos, segundo telegrama enviado ao Governo do Estado, estava em Torres), após encerrar as atividades previstas, os integralistas espalharam-se pelas ruas centrais, soltando impropérios aos populares.       

Como era natural, a atitude dos 'camisas verdes‘ provocou logo um sentimento de revolta entre os populares, alguns dos quais mostravam-se verdadeiramente indignados. Pouco depois das duas da tarde, palestrava com dois integralistas graduados, procurando fazer-lhes ver que a atitude de seus subordinados estava revoltando os populares, vi que junto a um dos caminhões onde embarcavam os integralistas se iniciara o conflito (Diário de Notícias, 26/02/1935, p. 05). Pedro Lino dos Santos, habitante da cidade e ex-guarda municipal, que ocupava o posto de motorista da prefeitura, discutia com um integralista, sendo seguro por um guarda municipal conhecido como - Marinho -, na verdade Valdemar Fernandes Reis. Recuando cerca de quatro passos, o integralista (não identificado) saca um revólver da cinta e dispara um tiro que atinge a boca de Marinho, matando-o na hora. Segue-se, então, cerrado tiroteio, que só irá ter fim com a intervenção do tenente Valdomiro Veledo de Albuquerque, delegado da Junta de Alistamento Militar e Comandante do Tiro de Guerra local, que, junto com alguns praças do Tiro, consegue controlar a situação. O tenente Veledo conta, ainda, que depois de ter rendido os integralistas, estes dispararam em correria, sendo seguidos pelos guardas municipais, que atiravam à queima-roupa nestes.


Após a chegada de reforços oriundos do 8° Batalhão de Caçadores de São Leopoldo, finalmente a ordem foi restabelecida. O inventário do conflito foi de um integralista morto (José Luis Schroeder, de São Leopoldo, filho de Jacob Schroeder Junior, proprietário do Hotel Rio Branco), além de outros sete camisas verdes feridos. 

Entre os guardas municipais, o saldo foi de dois mortos: Valdemar Fernandes do Reis (Marinho) e João Pedro Leite, ambos mortos à tiro; e dois feridos. Há ainda um terceiro ferido, baleado no peito quando tentava socorrer o Sr. Frederico Damian, de 67 anos.
Wolfran Metzler, liderança integralista de Novo Hamburgo, que mais tarde viria ser deputado estadual pelo Partido de Representação Popular (PRP), contou à reportagem que José Luis Schroeder foi morto com um tiro no ouvido quando tentava se refugiar em uma padaria numa das ruas adjacentes à praça (local onde hoje fica a agência do Banco Bradesco de São Sebastião do Caí, na Rua Treze de Maio, quase esquina com a atual Avenida Egydio Michaelsen).
* São os integralistas feridos: César Mondim (bala no abdômen), Vicente Canalli filho (ferido no joelho), Benjamin Custódio de Oliveira (ferido por coronhada na cabeça), Arlindo Lehen (coronhada na cabeça), Frederico Damian (ferido à bala no pé e com contusões por pontapés pelo corpo), Arlindo Leger (coronhada na cabeça), Efrain Wagner (bala na cabeça). (Diário de Notícias, 26/02/1935, p. 05)  Os guardas municipais feridos são: Urbano Keller (bala no pulmão), Belarmino Lucas (bala na perna). O popular ferido é Nelson Schemes (idem).

Procurado pela redação do Diário de Notícias, o chefe integralista do Rio Grande do Sul, Sr. Dario Bittencourt apresentou aos entrevistadores uma edição do jornal  O Integralista de 10 de fevereiro de 1935, isto é, quinze dias antes do ocorrido, que acusa o governo municipal de São Sebastião do Caí sobre o tratamento que vinha dando aos integralistas daquela cidade. Transcrevo a última parte do artigo de O Integralista, citado no Diário de Notícias: "O prefeito municipal de São Sebastião do Caí é o bacharel Athos de Moraes Fortes. A ele é confiada a ordem e a liberdade que os camisas verdes do município podem exigir em face da Constituição. Por isso, os camisas verdes do Rio Grande do Sul responsabilizam o Sr. Athos de Moraes Fortes por qualquer violência que se pratique no município que dirige (Diário de Notícias, 26/02/1935, p. 16).

Em telegrama endereçado ao governador do Estado, o prefeito Athos de Moraes Fortes narra os acontecimentos, mesmo assumindo que não se encontrava na cidade naquele dia, afirmando que quase todos os integralistas compareceram armados, trazendo copiosa munição e pelo número de mortos e feridos de nossa parte, V. Exa. Poderá avaliar os intuitos subversivos desses pretendidos regeneradores‖ (Diário de notícias, 26/02/1935, p. 16). O jornal oficial ―A Federação, em seu editorial, afirma que  os camisas verdes, entre nós, acabam de lavrar sua sentença de morte, reproduzindo o dito telegrama do prefeito de Caí ao governador do Estado, que, por sinal, foi editado pela redação do jornal, excluindo a parte em que Athos de Moraes Fortes conta que estava em Torres na hora do ocorrido (A Federação, 27/02/1935, capa).


* A imprensa de língua alemã do Rio Grande do Sul, segundo pesquisa de René Ernani Gertz dividiu-se entre críticos abertos da ação dos integralistas e aqueles que se mantiveram isentos dos fatos, não sendo, em última análise, desfavoráveis aos camisas verdes. O Deutches Volksblatt faz parte do segundo grupo, referindo-se ao terrível tiroteio, reproduzindo a posição do prefeito local e acentuando que, naturalmente, os integralistas defendem ponto de vista oposto. O Kolonie, de Santa Cruz do Sul, faz parte do primeiro grupo, questionando o fato de que é incompreensível ir a um encontro de propaganda armado, além de colocar como uma das causas dos atritos a homossexualidade de um dos líderes da AIB de São Sebastião do Caí (GERTZ, 1980, p. 224 e 225)

O que se pode depreender comparando as diversas versões do ocorrido é que o conflito que houve na tarde do domingo, 25 de fevereiro de 1935, na sede do município de São Sebastião do Caí, entre integralistas e integrantes da guarda municipal, foi o desfecho de um processo de atritos seqüenciais que já vinham sendo noticiados há alguns dias (vide o texto do jornal integralista) entre o governo municipal e os líderes da AIB na cidade. O fato de haverem os integralistas se dirigido ao dito comício armados revela uma intencionalidade de causar, no mínimo, constrangimento aos que lhes observavam pelas ruas da cidade. 

A atitude de Pedro Lino dos Santos, funcionário da prefeitura, discutindo com os camisas verdes (precisando ser seguro pelo guarda Marinho) mostra igualmente o grau de estremecimento que se encontravam as relações entre o setor público municipal, influenciado pelos seus dirigentes, e a Ação Integralista Brasileira. Há, como comprova a matéria do periódico integralista, uma animosidade explícita entre os dois grupos que irão se enfrentar em praça pública. O desfecho não poderia ser diferente, vide o caráter militarizado e belicista dos integralistas e o perfil coronelista dos dirigentes da cidade.

segunda-feira, 5 de março de 2018

39. Meu amigo Doratioto VI (final)

Durante minha graduação em História, na Universidade Feevale, busquei contatar - pelas redes sociais - o professor Francisco Doratioto ainda sob o impacto da leitura de seu livro Maldita Guerra. Para minha satisfação e surpresa Doratioto retornou e durante tres ou quatro anos, a partir de fevereiro de 2007, mantivemos correspondência por e-mail. A conclusão do curso e a agenda atribulada do professor  interromperam 'nossa prosa'... mas ela não se encerrou. Apenas começou e uma hora dessas vamos prosseguir.

Caro Doratioto
 Vou manter o mesmo titulo das ultimas mensagens  que trocamos embora tenha transcorrido novamente um ano. Agradeço as referencias elogiosas ao meu trabalho sobre  Leopoldo Petry e seu arquivo. E embora convidado, não fui olhar esse material que está com a familia. Sou um aprendiz de historiador mesmo. O material do Museu da Imigração Visconde de São Leopoldo eu ajudei a separar e identificar e com o fim do semestre nunca mais voltei lá para  concluir o serviço. Pelo menos continuei interessado no tema e relí a obra de Petry 'O episodio do Ferrabraz' sobre o conflito mucker e retirei ontem na biblioteca da Feevale sua unica obra de contos e ficção o livro 'Carvalhos e Palmeiras'. Pude ler impresso vários dos contos e cronicas sobre a imigração alemã e a vida no Vale do Sinos, no seculo XIX, cujos originais eu tinha manuseado datilografados ou escritos a mão. 

Outra razão para manter o titulo da mensagem é a expressão do desejo que acabe de vez o inverno, o frio,  a umidade e a gripe A. Depois de muitos anos de invernos de faz de conta, em 2009, fez frio para valer. E descobrí que na proximidade dos 5.0 não enfrento o frio com a mesma coragem e destemor da adolescencia, dos 20 , dos 30... Após varias semanas de dor de garganta e quando o número de pessoas com mascaras cirúrgicas nas ruas, próximas a mim, começou a aumentar resolvi ir ao médico. Fui atendido ao ar livre (apesar do frio) numa espécie de quiosque que a 'minha' administração montou ao instalar dois conteiners com um toldo por cima em local aberto. Dessa forma tirou os suspeitos da gripe do contato com os outros doentes no interior dos hospitais e postos de atendimento.O Hospital Publico de Novo Hamburgo com 120 leitos está a mais de dois meses com quase 200 internados. Na cidade houve duas mortes em função da gripe.  Felizmente comigo não era nada de grave apenas o estrago provocado pela súbita mudança de temperatura nos pulmões e na garganta de um vivente. Nós tivemos mais de 30 graus num dia e dez graus no outro na semana passada. Nós temos frequentemente umidade de 80, 90 por cento no ar. As aulas foram suspensas 15 dias além das ferias de inverno... então por tudo isso CHEGA DE INVERNO, que 'venga' a primavera.... 

Mas aqui é assim se não for exagerado a gente inventa e aumenta o causo. Como disse um poeta nativo do alto da humildade típica dos gaúchos: " sou maior que a história grega, sou gaúcho e isso me chega pra ser feliz no universo"... Depois vira piada no Casseta e Planeta e acham ruim.  Essa história do gauchismo eu acho uma 'mentira do bem', mais ajuda que estraga. Nos intriga com os paulistas e os cariocas mas nada muito sério porque incomodação séria por aqui só tem com os castelhanos. Estamos chegando em setembro (te programa uma hora dessas e vem ao Rio Grande em setembro) o frio já passou e a gauchada pilchada se muda para os acampamentos com muita canha, churrasco e música para comemorar o 20 de setembro. A derrota mais festejada da história do Estado (em São Paulo sei que também comemoram uma derrota ocorrida em 1932). Aqui é assim mesmo, o gaúcho que era um gaudério, sem casa, sem bota e sem onde cair morto, que vivia de contrabando do couro do gado selvagem, bandido e ladrão, um bandoleiro que não sabia viver em cidade e não tinha paradeiro, filho da cruza de espanhol ou portugues com indio  virou mocinho do filme, virou simbolo do bem com uma auto-estima tão boa, tao lá encima que nem vale a pena dizer donde mesmo ele veio...

Quero combinar contigo uma palestra na Feevale qualquer hora dessas... A proposito negociei uma bolsa de 12 creditos e estou fazendo tres cadeiras. Me aproximo do 5° semestre, faltam só dois, o que significa uns dois anos mas termino antes dos 50 e isso é o que importa....
 Um abraço  Gilnei Andrade,                                                                                                                 22 agosto 2009

Caro Gilnei,
 Estou em dívida contigo. Você escreveu o e-mail no inicio da primavera e já estamos no final dela quando respondo. Como pode imaginar ando bastante ocupado, mas a demora em responder ao e-mail também se explica por minha proverbial desorganização cibernética. Quando havia cartas eu as respondia  rapidamente, mas isso não ocorre com e-mails. Não encontro explicação exceto, talvez, que eu recebia poucas cartas e recebo muitos e-mails, principalmente burocráticos (universidade, editoras. alunos,...) que acabam se acumulando. Fico contente em saber que avança no curso. Claro que um turismo também vai bem, como vi pelas fotos de sua ida ao Forum Social Mundial em Montevidéu. A última vez que fui a essa cidade foi em....1986! Em junho próximo voltarei lá, para o seminário bianual sobre história paraguaia. Farei apresentação sobre a "Missão Negrão de Lima ao Paraguai em 1947".
Por aqui muito, muito calor. Gosto de Brasília mas a temperatura poderia ser um pouco mais baixa.... Este ano tivemos o ingresso de vários professores novos, um deles gaúcho mas que faz questão de responder "eu sou de Canela", quando perguntado se é gaúcho. NA realidade ele vem do RJ, onde fez doutorado, e diz que a cada dia alguém contava uma piada sobre gaúcho e, aqui, pelo menos no Departamento de História, não contamos; ele está se sentindo no paraíso. Viu o livro do Michael Lillis que saiu sobre Elisa Lynch? Muito bom, cheio de novidades sobre uma personagem importante e sobre a qual pouco sabíamos. No final, ela não era prostituta...Mais uma "verdade" que é desmentida.
Abraços,
Doratioto, 18 novembro 2009

38. Meu amigo Doratioto (V)

Durante minha graduação em História, na Universidade Feevale, busquei contatar - pelas redes sociais - o professor Francisco Doratioto ainda sob o impacto da leitura de seu livro Maldita Guerra. Para minha satisfação e surpresa Doratioto retornou e durante tres ou quatro anos, a partir de fevereiro de 2007, mantivemos correspondência por e-mail. A conclusão do curso e a agenda atribulada do professor  interromperam 'nossa prosa'... mas ela não se encerrou. Apenas começou e uma hora dessas vamos prosseguir.

Caro Gilnei,
Antes de mais nada te desejo muitas realizações em 2009. Te escrevo porque, salvo engano meu, você me enviou, talvez em agosto, um texto seu. Como eu estava com muito trabalho, te prometi que leria depois de outubro. Bom, o excesso de trabalho continuou até o final do semestre letivo. Espero que esteja gostando de seu curso de História.  
 Abraços,Doratioto, 10 janeiro 2009

Caro DoratiotoFeliz 2009 para voce e sua familia. Em função das eleições de 2008 fiz apenas uma cadeira em 2008/2. Vencemos as eleições em Novo Hamburgo e empurrei a conclusão do curso para o futuro. Agora preciso escolher entre seguir trabalhando na Assembleia Legislativa Gaucha ou vir para a Administração Municipal de Novo Hamburgo...A tendencia é de mudança...Um forte abraço.Gilnei, 11 janeiro 2009
 Caro Gilnei,
Desejo, sinceramente, que persista no curso de História e parta para uma pós-graduação. Agradeço o envio da notícia da Tese de Doutorado sobre o Asilo dos Inválidos da Pátria. Vou lê-la pois quando estava escrevendo Maldita Guerra pensei exatamente que faltava um estudo sobre o tema e ei-lo agora. 
Embora eu não seja exatamente um exemplo do presteza na resposta a e-mails saiba que, mais dia menos dia, os respondo e os seus em particular sempre serão bem vindos. Caso retorne a Brasília me avise para tomarmos um café e, como dizem no interior de São Paulo, trocar dois dedos de prosa.
 Abraço,
Doratioto
Parabéns pela vitória em Novo Hamburgo mas, após ler seu texto, espero que isso não venha a atrapalhar sua vida acadêmica. Fiquei impressionado pelo seu belo artigo sobre o Arquivo Petry; o texto está muito bom e, mais, mostra que você tem duas características importantes para se ser um bom historiador: paixão pelo documento, por nele recuperar o passado, e sensibilidade. 


CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE
Instituto de Ciências Humanas Letras e Artes
Curso de História
Disciplina de Seminário de Pesquisa e Prática em História e Cultura do Rio Grande do Sul
GILNEI FREITAS DE ANDRADE
Arquivo Leopoldo Petry: ‘Opus artificem probat’ ou quando a obra revela o artista
Profª Inês Reichert
Novo Hamburgo, junho de 2008










Arquivo Leopoldo Petry: ‘Opus artificem probat’ 
ou quando a obra revela o artista

“Hoje quando sinto o carinho de meus filhos,
quando aprecio o encanto dos meus netinhos,
quando me vejo cercado de atenção dos meus amigos,
então posso dizer que a vida me recompensa
plena e generosamente...
Tudo o que de desagradável ocorreu em meu passado,
desaparece, ante o prazer que me proporciona o presente”.
LEOPOLDO PETRY, na comemoração dos seus 80 anos

Não sei o que o futuro me reserva, nem onde meus passos me levam, mas à medida que caminho sinto cada vez mais prazer e alegria em seguir caminhando. Essa é minha sensação em relação ao curso de História que decidi fazer, ao dobrar a metade da minha vida. Tenho pensado em como viver com saúde, dignidade e paz a segunda metade de minha existência. Vou desfrutá-la vivendo e contando a história dos homens e mulheres dos tempos atuais e dos tempos que nos precederam. Isso me anima e reconforta, motiva para a realização de cada tarefa profissional ou acadêmica.  Foi com esse estado de espírito que realizei esse trabalho, pequena parte do curso. No início do semestre ao tomar conhecimento do trabalho proposto combinando horas de execução de tarefas práticas e uma elaboração teórica ao final, pensei que, além de pagar caro para estudar, teria de trabalhar de graça. Claro que essa impressão era parcial e momentânea porque o convívio e a confiança na professora Inês Reichert, desta feita em conluio com a professora Roswithia Weber, me dizia não tratar-se duma empreitada temerária. Mas sempre ficava uma pontinha de dúvida do que estariam tramando, juntas, essas duas gurias.O trabalho revelou-se extremamente profícuo e dignificante. A experiência de estar e trabalhar no Museu Visconde de São Leopoldo durante essas horas, o convívio com ascriaturas humanas que por lá circulam e labutam, mais o acerto na escolha do tema foram fundamentais para que o trabalho tomasse a forma que tomou. Eu já conhecia de fama e nome o major Leopoldo Petry. Em Novo Hamburgo ele é homenageado em duas escolas, uma municipal e outra estadual, na estrada de acesso ao bairro Lomba Grande e no Centro Administrativo Municipal, inaugurado há poucos anos.
A coincidência de manter relações de amizade e compadrio com alguns de seus descendentes também pesou no momento de escolher um dos inúmeros temas possíveis no Museu Visconde de São Leopoldo. O arquivo Leopoldo Petry também era familiar em alguma das leituras do passado, não tão recente, mas era com certeza relacionado ao episódio ‘mucker’. Procurei e encontrei. No livro ‘A revolta dos Mucker’ reeditado em 2002, pela Editora Unisinos, a autora Janaína Amado já na introdução da obra, na página 23, refere-se a coragem de Leopoldo Petry – um filho de imigrantes alemães – por ter abordado o assunto mucker. Manifesta entretanto discordância com o expediente utilizado por Petry que, segundo ela, utilizou todos os recursos favoráveis ou atenuantes aos mucker, de que dispunha, omitindo aqueles que poderiam incriminá-los ou confirmar parcialmente as acusações imputadas. Mas o importante mesmo vem a seguir, na página 25, onde a autora diz:
“O (meu) trabalho apóia-se basicamente em fontes primárias, em parte inéditas, coletadas em arquivos e bibliotecas do Rio de janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, e , secundariamente, em bibliografia especializada. Não consegui acesso ao Arquivo Mentz, de Porto Alegre – onde consta existir farto material sobre a história da imigração alemã no Rio Grande do Sul e a revolta mucker – e ao Arquivo Petry – onde, segundo seu organizador, o falecido historiador Leopoldo Petry, há dois documentos exclusivos referentes à revolta...”
Não sei detalhes das dificuldades encontradas pela historiadora Janaína Amado que, nos anos 70, percorreu a região buscando os papéis de Leopoldo Petry. Acredito que naquele momento os documentos ainda estivessem com a família ou tivessem recém chegado ao Museu Visconde de São Leopoldo. O acervo que pude manusear e organizar foi doado pela família, quando da venda da casa de Leopoldo Petry, alguns anos após seu falecimento, em 1966. A família optou por uma doação parcial preservando parte da documentação, de caráter mais íntimo ou pessoal ou ainda documentação contendo ataques mais agressivos e virulentos que sofreu ou desencadeou na vida política. Ocorre-me também elocubrar que a conjuntura política, na década de 70, não era muito favorável às buscas de Janaína Amado. Nesse período o genro de Petry, Níveo Leopoldo Friedrich era, ou havia sido recentemente, prefeito de Novo Hamburgo, eleito pela ARENA e  Janaína Amado pode ter sido boicotada por ser sobrinha de um notório militante e ex-deputado comunista, o célebre e brilhante escritor baiano Jorge Amado. Numa hipótese menos conspiratória ela não procurou as pessoas certas nos lugares certos, embora tenha circulado intensamente no Museu. Acredito que na sua primeira vinda ao Ro Grande do Sul a documentação parcial de Leopoldo Petry não estava no Museu e na segunda vinda ela não os tenha procurado lá. De qualquer forma o arquivo Petry está localizado e continua praticamente indevassado, parte dele no Museu Visconde São Leopoldo e outra parte, provavelmente a maior, com os familiares que, contatados, expressaram desejo e disposição de liberar o acervo para pesquisa e para a necessária conservação e organização. O material que pude manusear no Museu oferece infinitas possibilidades, pode gerar novos livros ou milhares de páginas de teses e dissertações. Cada um dos arquivos menores em que dividi os documentos, cartas, correspondências, fotos, etc. que Leopoldo Petry pesquisou, buscou e catalogou, pode resultar em novos trabalhos. E acho que isso seria motivo de muita satisfação para Leopoldo Petry que, talvez, até esboçasse um sorriso para nós. (...)    

37. Meu amigo Doratioto (IV)


Durante minha graduação em História, na Universidade Feevale, busquei contatar - pelas redes sociais - o professor Francisco Doratioto ainda sob o impacto da leitura de seu livro Maldita Guerra. Para minha satisfação e surpresa Doratioto retornou e durante tres ou quatro anos, a partir de fevereiro de 2007, mantivemos correspondência por e-mail. A conclusão do curso e a agenda atribulada do professor  interromperam 'nossa prosa'... mas ela não se encerrou. Apenas começou e uma hora dessas vamos prosseguir.


'Caro Doratioto
Saudações primaveris. Aqui, mais ao Sul, a chegada da primavera sempre ilumina a vida de plantas, animais e gentes. Dias mais claros e ensolarados, sem o calor infernal do verão. Se bem que esse ano o inverno não foi de muito frio, mas choveu muito e respiramos muito vapor d água com muita umidade.
Espero que tudo esteja bem contigo e a família. Tomo a liberdade de te enviar uma dissertação de doutorado sobre a Casa dos Inválidos da Guerra Grande que ainda não foi publicada mas é muito interessante. Faz parte das discussões daquela comunidade no Orkut que aborda a Guerra do Paraguai. Diferente da regra geral no Orkut, essa comunidade tem realizado e aprofundado boas discussões. De quando em vez alguém propõe reiniciar a guerra e reabrir as feridas, mas isso faz parte... Sobre meu curso fazendo um semestre por ano lá por 2010 ou 2011 vou me formar. E aí estarei às vésperas da aposentadoria e a minha neta, que nasceu no fim de março, já estará com dois ou três anos'.
 Gilnei Andrade.  01 setembro 2008


Caro Gilnei,
 Estava, creia-me, para escrever agradecendo o envio e dizendo que leria o material e enviaria meus comentários, mas somente em outubro. Ocorre - e daí a demora em responder a seu e-mail - que mudei de universidade e assumi a cadeira de História da América da UnB, compartilhando-a com o prof. Jaime de Almeida. Como podes imaginar, há um sem fim de providências burocráticas a tomar o que, juntamente com o preparo de aulas e os compromissos que assumi no inicio do ano em dar palestras, tem me ocupado todo o tempo. 
Estarei viajando na próxima 4a. feira, por uma semana, e, no final de setembro de novo. Daí que só em outubro lerei o material que me enviou, para fazê-lo com a merecida atenção e, ademais, o tema me interessa. Quanto ao orkut já vi o grupo de debates sobre Guerra do Paraguai. Aliás, agradeço a defesa que você faz de mim junto a um paraguaio. Este, aliás, escreve que qualquer um entra na Academia Paraguaya de la Historia o que não é, evidentemente, verdade: tem-se que ser indicado por um dos membros e há votação no plenário dos acadêmicos. O fato ´de que fui eleito em 1997 e, não tenho dúvida, hoje, depois do "Maldita Guerra", eu seria vetado pela corrente "nacionalista".
 Olhei o grupo há meses e depois não voltei porque não me sobre tempo e, depois, meus interesses intelectuais avançam na história paraguaia do século XX, de modo que me parece justo deixar o tema Guerra do Paraguai para outra geração de historiadores que, por sua vez, fará uma leitura crítica do meu trabalho e, quem sabe?, contando com fontes que eu não tenha pesquisado poderá avançar mais no conhecimento do tema. Sempre me incomodou historiadores que ficavam meio donos de um assunto, o que, claro, não impede alguém de ser um grande especialista.Nos "falamos" em outubro. 
 Abraço, 
 Doratioto







Tese de Doutorado 

Autor: Gomes, Marcelo Augusto Moraes (Catálogo USP)
Nome completo Marcelo Augusto Moraes Gomes 
Unidade da USP Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Área do Conhecimento História Social 
Data de Defesa 2007-04-13 
ImprentaSão Paulo, 2007 OrientadorLeonzo, Nanci (Catálogo USP)
Banca examinadora: Alambert Junior, Francisco Cabral Benevides, Cezar Augusto Carneiro Dantes, Maria Amelia Mascarenhas Ferlini, Vera Lucia Amaral Maximiano, Cesar Campiani
Título em português ' A Espuma das Províncias ' - um estudo sobre os Inválidos da Pátria e o Asilo dos Inválidos da Pátria, na Corte (1864-1930)
Palavras-chave em português Asilo dos Inválidos da Pátria
Ex-combatentes  Guerra do Paraguai  História Militar   Rio de Janeiro 
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-05072007-144427/pt-br.php