João Jorge e Jacobina Maurer

João Jorge e Jacobina Maurer

I m A g E m

I m A g E m
O Velho do Espelho

"Por acaso, surpreendo-me no espelho:
quem é esse que me olha e é
tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus,Meu Deus...Parece meu velho pai -
que já morreu"! (Mario Quintana)

P E S Q U I S A

sábado, 15 de dezembro de 2018

51. OS MESSIAS bem VIVOS ...

 ... E o charlatanismo que nunca morreu



Quem conhece um pouco da minha história de vida sabe que pesquiso, registro e tenho um olhar, um carinho especial pelos chamados movimentos messiânicos.  Fazem muitos anos, umas quatro décadas, que esse tema atravessou meus caminhos e cruzou minha vida. Bem antes do curso de história que conclui, já, temporão. 

Acho que esse assunto, essa área de interesse - em especial sobre os Mucker e Jacobina Mentz Maurer - me levaram para a Licenciatura de História. Claro que minha militância política e social (o mundo do trabalho e a luta sindical dos trabalhadores) também influenciou muito nessa decisão. 



Vou escrever esse texto/depoimento, aos poucos, ao longo dos próximos dias. Mas preciso registrar que o Programa do Bial, nessa madrugada passada, onde uma dezena de mulheres relatam abusos sexuais e um padrão psicopático do afamado médium João de Deus, de Abadiânia, me faz crer que ele esteja cometendo esses crimes, a décadas, contra mulheres fragilizadas e devotas de sua Graça. E que pode ter se valido da força 'dessa superioridade mental' centenas, milhares de vezes contra mulheres que procuravam a cura de uma entidade espiritual. Buscaram a cura pra sua saúde e encontraram uma criatura humana muito mais doente que elas. O programa me impactou e incomodou muito e ainda nesse estado de transe resolvi escrever. 
Como era de se esperar a partir das denúncias iniciais o numero de mulheres denunciando a mesma situação não parou de crescer. Não se conta mais as dezenas e sim as centenas as vítimas do médium João de Deus. O desdobramento jurídico/policial deve encontrar e ouvir em todas as regiões do Brasil e mesmo no exterior mulheres repetindo a mesma história cujo inicio retrocede ao final dos anos 70.
Vou arriscar até um contraponto, um paralelo com outras situações similares na história. Uma defesa das práticas alternativas de cura, religiosas ou não, o benefício da dúvida pela entidade e não pelo cavalo cuja inocência considero pouco provável. 


A possibilidade de uma denuncia dessas não se confirmar é gravíssima porque ela acaba com o trabalho e com o médium, independente de culpa e comprovação. (Lembremos de casos recentes de denúncias falsas como a Escola de Base em SP ou do delegado evangélico Moacir Fermino, de Novo Hamburgo ou casos históricos como o Conselheiro de Canudos, Jacobina no Ferrabraz, João Maria no Contestado e outras incontáveis episódios de mortes e perseguições injustas). 
Compartilho com vocês essa necessidade de escrever sobre esse assunto. Fiquemos em paz!!!



segunda-feira, 26 de novembro de 2018

50. FeRRaBrAz



Sol Nascente - Foto Fabio Haag

Cavaleiro sarraceno ou 
gigantesco monstro medieval 
na canção gestada se eternizou, 
atravessou os séculos e os mares
e veio para o Novo Mundo 
com os imigrantes germanos, 
soldados, colonos, pietistas ortodoxos...
Ferrabraz no horizonte 
abrigo de todo bem,
refúgio de todo mal. 
Sobre o monstro de pedra
é só correr e saltar, 
sol queimando a retina, 
medo de voar 
para os braços de Jacobina...

domingo, 25 de novembro de 2018

Aí se sesse

Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém se acontecesse de São Pedro 
não abrisse a porta do céu 
e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse 
E tu cum eu insistisse 
pra que eu me arresolvesse 
E a minha faca puxasse 
E o bucho do céu furasse 
Tarvés que nois dois ficasse
Tarvés que nois dois caisse
E o céu furado arriasse 
e as virgi toda fugisse!
          Poeta Zé da Luz

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Marechal Deodoro - Alagoas







Marechal Deodoro é um município brasileiro do estado de Alagoas. Sua população estimada em 2016 era de 51.715  habitantes de acordo com o IBGE. O município faz parte da Região Metropolitana de Maceió. 




Essa histórica cidade, localizada às margens da Lagoa Manguaba, foi a primeira capital de Alagoas. Foi fundada em 05 de agosto de 1591 com a denominação de Sesmaria de Santa Madalena do Sumaúma, foi doado a Diogo de Melo Castro com os seguintes limites: Cinco léguas do litoral da Pajuçara ao porto do Francês; Sete léguas de frente a fundos para o sertão e mais quatro léguas da boca do rio Paraíba. 


Alguns autores indicam a fundação desse povoado no ano de 1611, pelo donatário da Capitania de Pernambuco Duarte de Albuquerque Coelho. Em 1633, o povoado foi atacado e incendiado pelos holandeses, a Igreja Matriz foi destruída. Em 1635, a vila serviu de refúgio para muitos portugueses vindos de Pernambuco, por ordem do general Mathias de Albuquerque. Nessa época, o custódio Frei Cosme de São Damião fundou um hospício e um oratório franciscano na Alagoa do Sul. Muitos dos refugiados foram transferidos depois para a Bahia.


Em 12 de abril de 1636 passou a ser denominada de Vila Santa Madalena da Alagoa do Sul.  O mapa da obra de Caspar Barlaeus, publicado em 1647, registra no local, próximo ao rio Pau Brasil, uma localidade ou capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição. A Vila foi escolhida como sede da Comarca de Alagoas, criada em 1711, subordinada à Capitania de Pernambuco. Na segunda metade do século XVIII a Igreja Matriz era dedicada à N.S. do Rosário. Existia o Hospício dos RR. PP. do Carmo Observante, a capela de N.S. do Ó e o Convento de São Francisco.




Em 1817, a Vila de Alagoas tornou-se a capital da recém criada Capitania de Alagoas. Em oito de março de 1823, a Vila foi elevada à condição de Cidade de Alagoas, que se tornou capital da Província de Alagoas. Em 5 de agosto de 1827, nasceu nessa Cidade de Alagoas, Manuel  Deodoro da Fonseca, que veio a se tornar o primeiro presidente da República. 


Em 1939, a capital foi transferida para Maceió. O município foi criado em 09 de novembro de 1939, com a denominação de Marechal Deodoro, em homenagem ao Marechal Deodoro da Fonseca, alagoano que foi o primeiro presidente da república do Brasil. 


Em 16 de setembro de 2006, foi considerada pelo Ministério da Cultura como Patrimônio Histórico Nacional, em virtude do seu passado e de ter sido berço do Marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República Brasileira.

Praia do Francês -
É uma das mais conhecidas e badaladas praias do Município de Marechal Deodoro. Na enseada é possível mergulhar, passear de barco, banana-boat e até ultra-leve. 


Existem diversas palhoças com petiscos e frutos do mar. Na faixa de praia aberta quebram boas ondas para o surf, e e possível ir caminhando até a Barra de São Miguel.


Poucos relatos históricos existem sobre a Praia do Francês. Região habitada por índios Caetés na época da colonização, os habitantes naturais da Pindorama, a Terra das Palmeiras. Pela sua estratégica enseada natural, a Praia serviu de porto para navios piratas, inicialmente franceses, que faziam exploração do Pau-Brasil abundante na vasta Mata Atlântica da época colonial. 


Daí a origem do nome, inicialmente chamada de Porto dos Franceses, derivou para Praia dos Franceses até o atual Praia do Francês.

Centro Histórico - 
Marechal Deodoro é uma cidade que preserva muita história e cultura. 


Quem visita o seu Centro Histórico, a 30 quilômetros de Maceió, se depara com um verdadeiro museu a céu aberto, onde é possível se sentir no passado ao andar pelas ruelas repletas de detalhes peculiares e arquitetura colonial. 


O comércio ainda conserva o ar saudosista da época e as casas criam um colorido especial às ruas, abrigando restaurantes, bares e lojas. 


O visitante pode conhecer a antiga Cadeia Pública e a Casa da Câmara, construções que datam da época de 1850, além do Palácio Provincial, que chegou a abrigar a família imperial e todo o grupo que formava a antiga comitiva real. 


As belezas do Convento São Francisco e das igrejas se destacam entre as construções em estilo barroco e colonial. 

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

49. Quando

"Quando cessarem
meus dias de sobre a terra andar 
vou, sem pressa, vagar 
pelas noites que, até, pra pele faz bem. 
E a lua sempre foi 
parceira dos poetas, dos
boêmios, dos escritores,
dos cuscos vagamundos
e dos historiadores...
e sempre, a todos, quis bem.
E eu um deles fui,
outro quis ser e um terceiro, 

ao certo, serei..."

domingo, 22 de julho de 2018

Sonhar também muda o mundo

        Embora difícil de implementar, a proposta anarquista contou com diversos                                         pensadores e influenciou vários países                                                                                                                               Edilene Toledo   –   1/8/2013

Quem já não sonhou com um mundo diferente, no qual fosse possível o máximo de liberdade com o máximo de solidariedade? Os anarquistas acreditavam, e acreditam ainda, que essa esperança não é uma utopia: ela pode se tornar realidade. Eles gostam de dizer que o ideal existe desde a Antiguidade, ou seja, desde que há luta pela liberdade. Mas a doutrina só se tornaria movimento organizado no século XIX, na Europa. Na pauta, a crítica à sociedade industrial, aos males do capitalismo e à sua indiferença diante do sofrimento humano.
A palavra anarquia, usada frequentemente para designar desordem e confusão, vem do grego e significa “sem governo”, isto é, o estado de um povo sem autoridade constituída. Do mesmo horizonte de significado nasce o anarquismo, doutrina política que prega que o Estado é nocivo e desnecessário e que existem alternativas viáveis de organização voluntária. Para a verdadeira libertação da sociedade seria necessário, ainda, destruir o capitalismo e as igrejas. Os anarquistas opunham-se à participação nas eleições e aos parlamentos, pois consideravam a democracia liberal uma farsa, negando qualquer forma de organização hierarquizada. A nova sociedade seria uma rede de relações voluntárias entre pessoas livres e iguais, em equilíbrio natural entre liberdade e ordem não imposta, mas garantida pela cooperação voluntária. Eliminados o Estado centralizado, o capitalismo e as instituições religiosas, afloraria a verdadeira natureza humana e as pessoas voltariam a assumir suas responsabilidades comunitárias. O futuro anarquista seria feito de um conjunto de pequenas comunidades descentralizadas, autogeridas e federadas, que a livre experimentação modificaria pouco a pouco.
 Proudhon e seus filhos (Gustave Coubert) 
O francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) foi o primeiro a organizar as ideias do anarquismo. Em seu texto O que é a propriedade? (1840), escreveu que a política era a ciência da liberdade, que o governo do homem sobre o homem, em qualquer forma, era opressão, e que a sociedade só atingiria a perfeição na união da ordem com a anarquia.  Ainda no século XIX, o anarquismo ganhou adeptos em todo o mundo, reconhecendo-se em um projeto internacional comum, embora em cada país os trabalhadores utilizassem a linguagem e a ação do anarquismo como resposta a seus problemas e preocupações específicos. 
O russo Mikhail Bakunin (1814-1876) defendia que a futura organização da sociedade deveria ser realizada de baixo para cima, pela livre associação. Bakunin e outros anarquistas rivalizaram com Karl Marx, sugerindo que o socialismo seria tão despótico quanto outras formas de Estado. Mais tarde, Emma Goldman (1869-1940), judia russa emigrada para os Estados Unidos, famosa por sua militância, fez duras críticas aos rumos dados pelos bolcheviques à Revolução Russa em função da centralização estatal e do autoritarismo, que teriam paralisado a iniciativa e o esforço individuais.Os anarquistas russos, em aberta oposição ao que consideravam uma ditadura distante dos ideais libertários, passaram a ser perseguidos e suas atividades foram proibidas já poucos meses após a Revolução de Outubro. Em 1920, grande parte dos membros do Exército Revolucionário Insurrecional, liderado pelo anarquista Nestor Makhno, foi fuzilada pela Cheka, a polícia responsável por reprimir atos considerados contrarrevolucionários. Em poucos anos, os anarquistas da Rússia foram quase todos mortos, aprisionados, banidos ou reduzidos ao silêncio.

Diversos outros pensadores influenciaram libertários de várias partes do mundo. A ideia da ajuda mútua como requisito central para a evolução ética da humanidade tornou-se referência através dos escritos do russo Piotr Kropotkin (1842-1921). Na resistência contra o golpe militar de Francisco Franco na Espanha da Guerra Civil, o operário Buenaventura Durruti (1896-1936) afirmava que os anarquistas traziam um novo mundo em seus corações. Victor Serge (1890-1947), nascido na Bélgica, de família russa e polonesa, escreveu em suas memórias que o anarquismo tomava os militantes inteiramente, transformava suas vidas, porque exigia uma coerência entre os atos e as palavras. Para muitos, tinha um caráter de conversão quase religiosa.

Os anarquistas incentivavam a luta dos trabalhadores contra a exploração capitalista através do apelo para diversas formas de ação, como greves, boicotes, comícios, passeatas, fundação de sindicatos, denunciando o que consideravam ações repressoras da burguesia e do Estado. Embora tenha conquistado corações e mentes em diferentes classes sociais, o anarquismo se difundiu, sobretudo entre os trabalhadores pobres urbanos, e foi um elemento importante em seu processo de auto-organização e agregação social, recreativa e cultural. A circulação das ideias anarquistas se dava por meio de campanhas, comícios, pela imprensa e em publicações, mas também com a organização do tempo livre em eventos como teatro, piqueniques e festas. Assim, os anarquistas transformavam, ou ao menos abalavam, uma mentalidade consolidada em vários países, segundo a qual trabalhadores pobres deviam ficar fora da política. Um dos livrinhos mais famosos de propaganda anarquista foi Entre camponesesdiálogo sobre a anarquia, do italiano Errico Malatesta (1853-1932), publicado em Florença, em 1884. Nele se lia a conversa entre dois camponeses, Giorgio, um jovem anarquista, e Beppe, um velho amigo de seu pai. Beppe tenta dissuadir Giorgio, argumentando que a política era coisa para os senhores, e que o trabalhador tinha que pensar em trabalhar e fazer o bem, assim viveria tranquilo e na graça de Deus. No fim, é o velho Beppe quem sai convertido ao anarquismo. Malatesta nasceu no sul da Itália, em uma família rica. Coerente com suas ideias, distribuiu as terras que herdou aos camponeses. Foi um dos anarquistas mais influentes em todo o mundo, inspirando inúmeros militantes e trabalhadores. Por isso foi duramente perseguido pelo regime fascista de Benito Mussolini, desde sua ascensão ao poder em 1922.
Errico Malatesta
Embora os anarquistas concordassem com os objetivos que queriam atingir, eles divergiram muito sobre os meios para alcançá-los. Na década de 1890 houve grandes atos de violência dos anarquistas no cenário mundial: foram mortos um rei da Itália, uma imperatriz da Áustria, um primeiro-ministro da Espanha, um presidente da França e um dos Estados Unidos.  Mas a maioria dos anarquistas recusou essas ações individuais e violentas. Alguns tentaram experimentar a organização libertária formando pequenas comunidades autogeridas que, em geral, tiveram vida curta e difícil. Outros organizaram insurreições. Muitos se dedicaram à formação e à participação nos sindicatos de trabalhadores, que consideravam um espaço privilegiado para a difusão da ideia anarquista e um exercício importante de autogestão. Houve os que investiram na educação, criando escolas alternativas que visavam formar crianças autônomas, e na arte engajada, como o teatro popular e a literatura com conteúdos políticos.

 Milicianos anarquistas de CNT-FAI 
Barcelona, 28 de agosto de 1936. 
No Programa Anarquista, escrito por Malatesta em 1903, ele argumentava que os anarquistas queriam mudar radicalmente o mundo, substituindo o ódio pelo amor, a concorrência pela solidariedade, a busca exclusiva do próprio bem-estar pela cooperação, a opressão pela liberdade. “Queremos que a sociedade seja constituída com o objetivo de fornecer a todos os meios de alcançar igual bem-estar possível, o maior  desenvolvimento possível, moral e material. Desejamos para todos pão, liberdade, amor e saber”, escreveu Malatesta na conclusão do programa. Já nos anos 1920 e 1930, o movimento anarquista perdeu força, com o surgimento dos partidos comunistas e o aumento da presença do Estado nas sociedades ocidentais, fechando o ciclo do chamado anarquismo histórico. Na Espanha, em Aragão e na Catalunha, os anarquistas conseguiram realizar uma verdadeira revolução durante a guerra civil: operários e camponeses se apoderaram das terras e das indústrias, estabeleceram conselhos de trabalhadores e fizeram a autogestão da economia. Essa coletivização teve considerável sucesso por algum tempo e, embora derrotada, foi a experiência anarquista mais importante da história e ficou na memória dos libertários como a prova concreta de que a anarquia era possível.
Á partir dos anos 1960, quando se confirmaram suas previsões sobre os perigos da centralização do poder nos países socialistas, houve uma retomada do anarquismo em todo o mundo. Suas ideias libertárias influenciaram movimentos sociais, como o estudantil, o feminista, o ecológico e o hippie, penetrando com força também nas universidades. Em tempos de contestação do capitalismo e da capacidade dos governos de representar suas sociedades, os ideais anarquistas parecem mais vivos do que nunca.
Edilene Toledo é professora da Universidade Federal de São Paulo e autora de Anarquismo e sindicalismo revolucionário: Trabalhadores e militantes em São Paulo na Primeira República (Fundação Perseu Abramo, 2004).  

48. Há gostos e há julhos

 Há lágrimas e desgostos,
há julhos e agostos,
pelos bons que partem 
sem aviso, sem adeus
(não há avisos
mas há deus)...
Ficam os mesmos,
que não queimam nem ardem
marcando nossos rostos
de crentes e ateus...
(se há teus então leve dusteus
e deixe, mais um pouco, dusmeus) ...

22 de julho de 2014 - 
Lembrando Rubens Alves e Ariano Suassuna

quarta-feira, 18 de julho de 2018

47. MeMóRiA SiNDiCaL (VIII)

1934 - Foto da segunda diretoria eleita do Sindicato.dos Trabalhadores no Couro e Artefatos de Novo Hamburgo. 

De pé (da esquerda para a direita): Caleno Oliveira, Adolfo F. de Matos,
Emilio Oldenburg, Carlos Acker e Olmiro de Oliveira.
Sentados: Aloisio S. Campani, Alberto José Lopes e Júlio Mohr

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Carta de um imigrante

CARTA DE UM EMIGRANTE ENVIADA, EM 1832, PARA SEUS PARENTES NA ALEMANHA

Muitos mulfingers (moradores de Mulfinger) abandonaram sua pátria no decorrer dos dois últimos séculos; ou eles se mudaram para outras localidades da Alemanha ou se retiraram definitivamente para regiões transoceânicas. Esta última opção especialmente foi muito freqüente ao longo do século 19.Através de uma carta de emigrante publicada no “Kocher-Jagtboten” em 1832, nós nos tornamos cientes dos difíceis destinos dessas pessoas que foram expulsas pela precariedade existencial de sua pátria:
 “Da Colônia São Leopoldo, próxima da cidade de Porto Alegre, no Império do Brasil: escrito a primeiro de janeiro de 1832". Fonte: Blog Historias do Vale do Caí postado no dia 08 de maio de 2018.


Carta original extraída do livro dos mil anos de Mulfinger, 1980, pesquisado por Luis Alberto Friedrich, e tradução feita por Mário Silfredo Klassmann em novembro/2002.  

http://historiasvalecai.blogspot.com/2018/05/5382-carta-de-um-imigrante.html

quarta-feira, 27 de junho de 2018

46. A revolução conservadora

Mudo ando,
mudo passo,
mudo paro 
e o tempo
que não muda,
que não passa
branqueia minha barba,
surrupia-me as melenas
revelando-me, por fim,
cada vez mais conservador.
Não quero abrir mão
de mais nada,
das coisas que tenho,
da serenidade conquistada,
dos momentos felizes
com quem escolhi ficar.
Quero conservar,
manter sem mudar...
O tempo me contou
das coisas que
não vou mais mudar.
Não mudo mais de gênero,
nem de sexo,
nem de esposa
ou família,
nem time de futebol
nem de partido
ou convicções políticas ...
Também não mudo mais
minha sincera
e empedernida convicção
que homens e mulheres,
são diferentes
mas não desiguais
porque todo ser humano
tem direito a justiça da igualdade
e a felicidade que isso proporciona.
Nenhum ser humano
pode ser rotulado
por seu poder de compra
ou faixa de consumo.
Cada pessoa no controle
do próprio corpo,
conduz sua nave
pelo espaço
na busca do prazer
e da felicidade de
amor dar e amor receber...
Me assumo
como conservador,
mantenho e retenho
minha cisma teimosa
que cada um
deve assumir
"a dor e a delícia
de ser o que é"
porque sob todas as formas,
além de todas normas
"toda maneira de amor
vale a pena".

Glnei Andrade

sexta-feira, 15 de junho de 2018

45. MeMóRiA SiNDiCaL (VII)


Depoimento I - Gilnei Andrade
Nascí no dia 07 de abril de 1962, no bairro Quilombo em São Sebastião do Caí. Sou o filho do meio de Amandio Pereira de Andrade e Erna Terezinha Freitas de Andrade. Meu irmão mais velho é o Gilson, que foi dirigente dos bancários em Novo Hamburgo e atualmente trabalha na Caixa Federal em Brasília e a irmã mais nova é a Gislane, que trabalha no TRE em Porto Alegre. Sou neto de pequenos agricultores pelo lado materno e pequenos comerciantes pelo lado paterno. Minha infância foi vivida brincando e correndo na rua e atrás dos balcões dos armazéns do meu pai e do avô paterno, tomando banho no arroio Cadeia e no rio Caí e visitando a propriedade rural dos avós maternos na vila Conceição, interior de S.S. do Caí. Estudei no Grupo Escolar Felipe Camarão cuja diretora era nossa vizinha na estrada Julio de Castilhos, atual rua Esperanto. Essa diretora da escola a dona Ivone Weber, e também a mãe dela a dona Olinda, eram amigas de minha família, deram ajuda e assistência a mim e meus irmãos antes e depois do falecimento de nossa mãe. 
Gilnei Andrade 1976
Com quinze anos comecei a trabalhar, com carteira assinada, na lancheria da Estação Rodoviária local. No final dos anos 70 um grupo de estudantes secundaristas foi atraído para a militância social e partidária por causa de um incidente na cidade entre a ARENA e o José Clóvis de Azevedo. O professor José Clóvis era caiense e dava aula de Geografia e História para várias turmas de sexta, sétima e oitava série da Escola Normal onde todos iam estudar depois de completar a quinta série no Felipe Camarão. Ele incentivou a criação e acompanhava como professor-conselheiro a direção do Grêmio Estudantil. O Grêmio Estudantil passou a editar um boletim informativo falando dos problemas da educação, das multinacionais no Brasil e apresentando biografias de figuras da história mundial, numa edição o Marx, noutra o Lênin, até que deu problema. A direção da ARENA da cidade decidiu intervir no Grêmio e demitir o professor José Clóvis, esse mesmo que acabou sendo o primeiro reitor da UERGS, a Universidade Estadual criada, em 1999 ou 2000, pelo Governador Olívio Dutra. O professor José Clóvis passou a se reunir, nos sábados á tarde, com esses estudantes discutindo o que tinha ocorrido, falando de política, ouvindo músicas do Chico Buarque, do Caetano e do Geraldo Vandré e falando da situação do Brasil. Fizemos alguns curso de formação política e fomos incentivados a fazer militância partidária no Setor Jovem do MDB local.  Esses estudantes não eram da minha idade, eram mais velhos, mas como entre eles estavam o Gilson e o Leo Weber, o filho da diretora, eu acabei participando. 
Américo Copeti
Nas eleições de 1978 lembro que ajudamos na campanha dos candidatos apoiados pela Tendência Socialista do MDB que elegeu como deputado estadual o Américo Copetti que morava em Novo Hamburgo. Numa das ocasiões nessa campanha o Américo Copetti contou a história de um carro DKW que possuiu e cuja porta abria ao contrário. Disse que certa feita dirigindo com um filho ao seu lado no carro não percebeu que a criança abriu a porta do carro em movimento e que a força do vento jogou a porta para trás puxando a criança que passou por baixo da porta e caiu. Disse que olhando pelo retrovisor viu a criança rolando na estrada e os carros que vinham atrás desviando do filho que, felizmente, sofreu apenas alguns arranhões. 
Fabrica de calçados anos 80
Ainda em 1978, com dezesseis anos, fui trabalhar na empresa Reichert Calçados e morei em Campo Bom. A primeira experiência de trabalhador do calçado durou seis ou sete meses. O pagamento da pensão que fornecia quarto e alimentação comprometia quase todo o salário da fábrica. E saí da pensão e fiquei, durante duas ou três semanas, morando numa DKW com dois irmãos de Montenegro que também saíram da pensão. Estacionamos a DKW num beco nos fundos da filial do Reichert onde trabalhávamos e a noite dormíamos, os três, no carro.  Para conseguir esticar as pernas tínhamos que tirar do lugar o volante do carro. Nos fins de semana colocávamos o volante de volta no lugar e voltávamos para o Caí e Montenegro. Dias depois alugamos uma garagem onde havia um banheiro. Desse período da fábrica lembro-me de uma visita, pouco dias antes das eleições de 1978, de dois candidatos da ARENA que passaram na fábrica e apertaram a mão dos trabalhadores. No setor de corte, onde eu trabalhava, havia vários eleitores do MDB que sujaram bem as mãos antes de cumprimentar os senhores Claudio Strassburger e Níveo Friedrich.
Milton Rosa e Lula
Na época nem sabia mas minha ida para Campo Bom era parte de um movimento muito comum no final dos anos 70. Na minha cidade e muitas outras do interior do estado não havia emprego para  todos os jovens e muitos conhecidos e amigos meus tinham saído da cidade para  trabalhar em Novo Hamburgo, Campo Bom e Sapiranga. Lembro dos filhos de uma senhora, a dona Iracema, que trabalhou durante algum tempo como empregada doméstica em nossa casa, no Caí, e todos eles, eram quatro ou cinco, um  a um, foram trabalhar numa fabrica de calçados.  A lembrança permaneceu viva na minha memória porque não conseguia dizer o nomes complicado da empresa Catléia de Sapiranga. Esses jovens, fizeram alguns anos antes, exatamente o que eu vim a fazer tempos depois. Quando cheguei em Campo Bom fui apenas numa fábrica pedir emprego e um dia depois já estava trabalhando. Lembro que no setor do corte da empresa Reichert, onde comecei, eu era o único com segundo grau e isso me promoveu para o setor de expedição de calçados. Na época os carros de som anunciavam pelas ruas as vagas existentes nas fábricas. Nos horários de entrada e saída das fábricas era um oceano de pessoas de guarda-pó azul e andando a pé, de bicicleta ou espremidas nos ônibus. Era comum que as empresas mantivessem ônibus fretados buscando e levando os trabalhadores para suas casas nas cidades vizinhas.
Niveo Friedrich e Orlando Muller
Na filial da empresa Reichert onde trabalhei os empregados usavam um guarda-pó (jaleco) azul, os chefes de seção usavam da cor verde e o chefe ou encarregado geral um vermelho. Claro que este tinha o apelido de cardeal, um passarinho de crista vermelha. Naquele momento havia um novo chefe geral que não foi muito bem recebido, não lembro a razão, mas possivelmente porque o chefe anterior era mais próximo dos empregados ou porque o novo era muito entendido ‘na teoria’ mas nada sabia da realidade do chão de fábrica. Em pouco tempo ele aprendeu que devia relacionar-se bem com todos porque de outra forma não teria futuro na empresa. Essa filial ficava num prédio antigo onde funcionou uma fábrica de vidro, ou talvez de tijolos porque havia um espaço aberto de um grande forno e de uma chaminé alta.  Nas festas de Natal e Ano Novo, de 1978, os meus parceiros de aluguel não voltaram das férias em Montenegro. Sem poder bancar o aluguel sozinho saí da fabrica e voltei para a casa da avó, em S.S. do Caí, onde retomei os estudos e conclui o ensino médio em 1981. Nesse momento aquele grupo de estudantes do professor José Clóvis tinha aumentado com a adesão de mais estudantes, de pessoas ligadas a grupos de trabalho social da Igreja Católica (as CEBs – Comunidades Eclesiais de Base) e de algumas pessoas vindas dos partidos comunistas e suas dissidências. Esse grupo já tinha rompido com o MDB e criado na cidade, em 1980, o PT - Partido dos Trabalhadores. 
Gilnei Andrade anos 90
Entre 1980 e 1982 trabalhei na Blauth Veículos, concessionária Mercedes Benz do Caí cujos proprietários adquiriram parte da Ritmo Veículos, concessionária Fiat em Novo Hamburgo. Em 1980 e 1981 fui presidente do Gremio Estudantil Alceu Masson e fizemos jogos interséries, atividades e promoções culturais. Ajudamos a vender bônus para o Fundo de Greve dos metalúrgicos grevistas do ABC paulista e fizemos um show, com o grupo Tapes, se não me engano, com renda revertida para os colonos sem-terra acampados na Fazenda Anoni em Ronda Alta.  Nesse mesmo período fui delegado do Sindicato dos Metalúrgicos de SSdo Caí no ENCLAT - Encontro da Classe Trabalhadora em Porto Alegre que discutia a fundação da central unica dos trabalhadores. Ao sair da empresa, no início de 1982 fui convidado por um dos sócios para trabalhar na Ritmo Veículos, em Novo Hamburgo. Aceitei o emprego e vim morar com meu pai que, após novo casamento, estava morando em Novo Hamburgo

Olívio Dutra
Lembro de que em dois momentos parte daquele grupo do Caí tinha vindo a Novo Hamburgo: num ato político com uma missa ecumênica de apoio a uma grande ocupação de terras na vila Dois de Setembro, que deve ter ocorrido em 79 ou inicio de 1980 e para a posse da direção eleita do Sindicato dos Metalúrgicos, em 1980. Quando vim trabalhar em Novo Hamburgo já era do PT e conhecia o pessoal da região que articulava o partido.  Entre eles, além do professor José Clóvis, estava o Nelson de Sá, um trabalhador do calçado de Novo Hamburgo que agitava o movimento comunitário, as oposições sindicais e a fundação do PT. Conhecia ainda o João Machado e o Paulinho Haubert, dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos, conhecia o Olívio Dutra, presidente dos bancários de Porto Alegre, o Raul Pont, professor da Unisinos pois já havia movimentação das eleições de 1982 e alguns deles foram candidatos. Logo no início do meu trabalho na Ritmo, em junho de 1982, houve uma greve de dois dias dos metalúrgicos da cidade e participei das assembléias e dos piquetes. Depois vim a saber que a minha função no controle de estoque das peças dos automóveis era ligada a categoria dos comerciários mas eu já havia me associado e permaneci vinculado ao sindicato dos metalúrgicos. 
Edson Mattos, Milton Rosa, Ledi Bobsin, Eloina de Sá, Gilnei
Andrade, Jacó Bittar, Inacio Fritzen, Jair Menegheli, Polidoro
Pacheco, Orlando Muller, Antonio Salonides Nidi Paz, Nelson Sá,
Olivio Dutra e Lula - Sindicato dos Sapateiros NH 1983
Em 1983 participei como delegado dos metalúrgicos de Novo Hamburgo no Congresso de Fundação da CUT, em São Bernardo do Campo.  O Congresso da fundação da CUT foi realizado nos antigos pavilhões da Vera Cruz, a Hollywood brasileira que antes de falir produziu dezenas de filmes principalmente as chanchadas brasileiras. A prefeitura de São Bernardo havia reformado os pavilhões que serviam como um Centro de Convenções.  Foi a segunda vez que vi o Lula, presidente do sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista que estivera antes em comícios em Novo Hamburgo e região. Em outubro de 1983 saí da Ritmo Veículos. No inverno de 1983 houve uma grande e bem sucedida greve geral no Brasil. Em Novo Hamburgo os metalúrgicos e os sapateiros com apoio dos comerciários organizaram piquetes principalmente na saída das garagens dos ônibus municipais.  Embora durante o dia o número de grevistas e brigadianos nas ruas fosse quase equivalente a greve paralisou as escolas, parte do comércio e algumas indústrias. No dia anterior a greve um comboio de carros militares saiu do quartel em São Leopoldo e fez um desfile de advertência de Canoas até Novo Hamburgo, passando pelas ruas centrais de cada cidade, numa demonstração de ameaça. Tive uma segunda e ainda mais rápida passagem pela indústria de calçados. Trabalhei, em 1984, num atelier contratado pela Esfinge e depois trabalhei diretamente nos Calçados Esfinge. Nesse período que trabalhei no atelier da empresa Esfinge, na rua Rincão, conheci o Orlando Muller, presidente do sindicato dos sapateiros, que esteve na empresa em função do atraso no pagamento dos empregados. A Esfinge, uma empresa tradicional da cidade, atrasou os pagamentos porque vinha enfrentando muitas dificuldades. Havia sido vendida para alguns empresários especialistas em golpes com empresas pré-falimentares e realmente faliu algum tempo depois sem pagar ninguém. Daí em diante passei a trabalhar diretamente com a militância sindical e partidária. Fui funcionário administrativo e assessor do Sindicato dos Metalúrgicos de Novo Hamburgo de julho de 1984 a dezembro de 1987, em 1988 trabalhei na sede do PT e na campanha eleitoral e depois fui  assessor do PT na Câmara Municipal de Vereadores entre fevereiro de 1989 e fevereiro de 1995. Foi um período de convívio mais intenso com o Nelson de Sá o principal ativista social e dirigente do PT local daquela época. O Nelson Sá merece ter sua história contada porque agitou o movimento comunitário e sindical durante 30 anos e construiu o PT na região e no estado. Foi o incentivador e organizador dessa retomada do movimento de esquerda em Novo Hamburgo. 

Direção eleita Sindicato dos Metalúrgicos NH 1980 
No sindicato dos metalúrgicos fui um pouco funcionário administrativo e outro pouco assessor político.  O João Machado que venceu as eleições de 1980 foi reeleito em 1983 e 1986. Logo após essa eleição ele transferiu-se para a Federação dos Metalúrgicos, órgão de representação estadual da categoria e seu vice o Paulo Haubert assumiu o sindicato. O ano de 1986 foi efervescente para o movimento sindical na cidade. Estimulada por alguns empresários apresentou-se uma chapa de oposição nos metalúrgicos e a CUT organizou chapas de oposição nos sindicatos dos bancários, construção civil e sapateiros. Nas eleições realizadas na primavera de 1986 os metalúrgicos mantiveram sua direção cutista e as oposições venceram nos bancários com Maira Jean Pinto e com meu irmão Gilson Andrade na chapa e venceu também nos sapateiros com Milton Rosa. A eleição da construção civil foi anulada em função de irregularidades, uma junta governativa assumiu o sindicato e no ano seguinte a oposição ligada a CUT também venceu. 
Gilnei Andrade e Olívio Dutra
Ainda em 1986 houve eleições estaduais e o Nelson de Sá foi candidato a deputado estadual. Não se elegeu mas o PT estreiou na Assembleia Legislativa do Estado com Raul Pont, Adão Pretto, José Fortunati e Selvino Heck. Elegeu ainda como deputados federais constituintes Olívio Dutra e Paulo Paim. Em 1987 sai do sindicato e fui trabalhar para o PT. Fui um dos coordenadores da eleição municipal de 1988 onde o PT elegeu dois vereadores: Milton Fagundes que era o advogado do sindicato dos sapateiros e Alécio Bloss, bancário, que era ligado a grupos sociais da Igreja Católica e mora até hoje no bairro Canudos. No inicio de 1989 virei assessor parlamentar na Câmara Municipal e assumi a presidência municipal do PT em 1992.  Nesse ano o vereador e advogado Milton Fagundes concorreu a prefeito e o PT reelegeu o vereador Alécio.  Ainda como presidente do PT participei da eleição de 1994 na qual o Olivio Dutra perdeu para o Britto no segundo turno. No início de 1995 deixei a presidência do PT e fui trabalhar na empresa Novosat. 
PT NH 1996 - Tarcisio Zimmermann e Gilnei Andrade
Em 1996, concorri a vice-prefeito de Novo Hamburgo na chapa liderada por Tarcísio Zimmermann. O PT cresceu, fizemos quase 14 mil votos e elegemos três vereadores o Alécio Bloss novamente, o pastor luterano Helio Pacheco e o líder comunitário da Boa Saúde, Irovan Couto. Nelson de Sá faleceu em agosto de 1998, durante a campanha, sem festejar a vitória do partido que criou e por quem militou por mais de trinta anos.  Permanecí no comércio até o início de 1999. Com a eleição do governador Olívio Dutra, em 1998 e de Tarcísio Zimmermann e Ronaldo Zulke como deputado federal e estadual da região fui trabalhar na Assembléia Legislativa onde permaneci até fevereiro de 2009.  

A presença de Olívio Dutra no Governo do Estado contribuiu para algumas importantes iniciativas no enfrentamento  e na resistência a crise do setor coureiro-calçadista. Os sindicatos da região criaram a Escola dos Trabalhadores 8 de Março que realizava cursos de formação  sindical, qualificação profissional e elevação do grau de escolaridade para os trabalhadores. A criação de cooperativas de trabalhadores que, em alguns casos, assumiram as ‘massas falidas’ e continuaram produzindo enquanto arrastavam-se os processos de falência das empresas, as iniciativas de auto-gestão e a economia popular e solidária se  intensificaram nesse momento. Eu voltei à presidência municipal do PT em 2000     e
fui ainda coordenador do PT Regional Vale do 
Sapateiro. 


Em 2004 depois de uma eleição municipal tumultuada onde ‘quase’ vencemos o pleito e com as dificuldades iniciais do governo Lula e o episódio do mensalão eu diminui o ritmo da militância partidária e passei a dividir meu tempo com outras atividades mais prazerosas mental e fisicamente. No início de 2005 voltei a estudar e comecei o curso de História na Feevale. Com a vitória do PT e a posse de Tarcísio na prefeitura municipal de Novo Hamburgo em 2008 saí da Assembléia Legislativa e vim trabalhar na cidade assumindo a Diretoria de Relações Institucionais da Secretaria Geral de Governo da Administração Municipal.
Gilnei Andrade 
2009/2010