João Jorge e Jacobina Maurer

João Jorge e Jacobina Maurer

I m A g E m

I m A g E m
O Velho do Espelho

"Por acaso, surpreendo-me no espelho:
quem é esse que me olha e é
tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus,Meu Deus...Parece meu velho pai -
que já morreu"! (Mario Quintana)

P E S Q U I S A

segunda-feira, 5 de março de 2018

39. Meu amigo Doratioto VI (final)

Durante minha graduação em História, na Universidade Feevale, busquei contatar - pelas redes sociais - o professor Francisco Doratioto ainda sob o impacto da leitura de seu livro Maldita Guerra. Para minha satisfação e surpresa Doratioto retornou e durante tres ou quatro anos, a partir de fevereiro de 2007, mantivemos correspondência por e-mail. A conclusão do curso e a agenda atribulada do professor  interromperam 'nossa prosa'... mas ela não se encerrou. Apenas começou e uma hora dessas vamos prosseguir.

Caro Doratioto
 Vou manter o mesmo titulo das ultimas mensagens  que trocamos embora tenha transcorrido novamente um ano. Agradeço as referencias elogiosas ao meu trabalho sobre  Leopoldo Petry e seu arquivo. E embora convidado, não fui olhar esse material que está com a familia. Sou um aprendiz de historiador mesmo. O material do Museu da Imigração Visconde de São Leopoldo eu ajudei a separar e identificar e com o fim do semestre nunca mais voltei lá para  concluir o serviço. Pelo menos continuei interessado no tema e relí a obra de Petry 'O episodio do Ferrabraz' sobre o conflito mucker e retirei ontem na biblioteca da Feevale sua unica obra de contos e ficção o livro 'Carvalhos e Palmeiras'. Pude ler impresso vários dos contos e cronicas sobre a imigração alemã e a vida no Vale do Sinos, no seculo XIX, cujos originais eu tinha manuseado datilografados ou escritos a mão. 

Outra razão para manter o titulo da mensagem é a expressão do desejo que acabe de vez o inverno, o frio,  a umidade e a gripe A. Depois de muitos anos de invernos de faz de conta, em 2009, fez frio para valer. E descobrí que na proximidade dos 5.0 não enfrento o frio com a mesma coragem e destemor da adolescencia, dos 20 , dos 30... Após varias semanas de dor de garganta e quando o número de pessoas com mascaras cirúrgicas nas ruas, próximas a mim, começou a aumentar resolvi ir ao médico. Fui atendido ao ar livre (apesar do frio) numa espécie de quiosque que a 'minha' administração montou ao instalar dois conteiners com um toldo por cima em local aberto. Dessa forma tirou os suspeitos da gripe do contato com os outros doentes no interior dos hospitais e postos de atendimento.O Hospital Publico de Novo Hamburgo com 120 leitos está a mais de dois meses com quase 200 internados. Na cidade houve duas mortes em função da gripe.  Felizmente comigo não era nada de grave apenas o estrago provocado pela súbita mudança de temperatura nos pulmões e na garganta de um vivente. Nós tivemos mais de 30 graus num dia e dez graus no outro na semana passada. Nós temos frequentemente umidade de 80, 90 por cento no ar. As aulas foram suspensas 15 dias além das ferias de inverno... então por tudo isso CHEGA DE INVERNO, que 'venga' a primavera.... 

Mas aqui é assim se não for exagerado a gente inventa e aumenta o causo. Como disse um poeta nativo do alto da humildade típica dos gaúchos: " sou maior que a história grega, sou gaúcho e isso me chega pra ser feliz no universo"... Depois vira piada no Casseta e Planeta e acham ruim.  Essa história do gauchismo eu acho uma 'mentira do bem', mais ajuda que estraga. Nos intriga com os paulistas e os cariocas mas nada muito sério porque incomodação séria por aqui só tem com os castelhanos. Estamos chegando em setembro (te programa uma hora dessas e vem ao Rio Grande em setembro) o frio já passou e a gauchada pilchada se muda para os acampamentos com muita canha, churrasco e música para comemorar o 20 de setembro. A derrota mais festejada da história do Estado (em São Paulo sei que também comemoram uma derrota ocorrida em 1932). Aqui é assim mesmo, o gaúcho que era um gaudério, sem casa, sem bota e sem onde cair morto, que vivia de contrabando do couro do gado selvagem, bandido e ladrão, um bandoleiro que não sabia viver em cidade e não tinha paradeiro, filho da cruza de espanhol ou portugues com indio  virou mocinho do filme, virou simbolo do bem com uma auto-estima tão boa, tao lá encima que nem vale a pena dizer donde mesmo ele veio...

Quero combinar contigo uma palestra na Feevale qualquer hora dessas... A proposito negociei uma bolsa de 12 creditos e estou fazendo tres cadeiras. Me aproximo do 5° semestre, faltam só dois, o que significa uns dois anos mas termino antes dos 50 e isso é o que importa....
 Um abraço  Gilnei Andrade,                                                                                                                 22 agosto 2009

Caro Gilnei,
 Estou em dívida contigo. Você escreveu o e-mail no inicio da primavera e já estamos no final dela quando respondo. Como pode imaginar ando bastante ocupado, mas a demora em responder ao e-mail também se explica por minha proverbial desorganização cibernética. Quando havia cartas eu as respondia  rapidamente, mas isso não ocorre com e-mails. Não encontro explicação exceto, talvez, que eu recebia poucas cartas e recebo muitos e-mails, principalmente burocráticos (universidade, editoras. alunos,...) que acabam se acumulando. Fico contente em saber que avança no curso. Claro que um turismo também vai bem, como vi pelas fotos de sua ida ao Forum Social Mundial em Montevidéu. A última vez que fui a essa cidade foi em....1986! Em junho próximo voltarei lá, para o seminário bianual sobre história paraguaia. Farei apresentação sobre a "Missão Negrão de Lima ao Paraguai em 1947".
Por aqui muito, muito calor. Gosto de Brasília mas a temperatura poderia ser um pouco mais baixa.... Este ano tivemos o ingresso de vários professores novos, um deles gaúcho mas que faz questão de responder "eu sou de Canela", quando perguntado se é gaúcho. NA realidade ele vem do RJ, onde fez doutorado, e diz que a cada dia alguém contava uma piada sobre gaúcho e, aqui, pelo menos no Departamento de História, não contamos; ele está se sentindo no paraíso. Viu o livro do Michael Lillis que saiu sobre Elisa Lynch? Muito bom, cheio de novidades sobre uma personagem importante e sobre a qual pouco sabíamos. No final, ela não era prostituta...Mais uma "verdade" que é desmentida.
Abraços,
Doratioto, 18 novembro 2009

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