João Jorge e Jacobina Maurer

João Jorge e Jacobina Maurer

I m A g E m

I m A g E m
O Velho do Espelho

"Por acaso, surpreendo-me no espelho:
quem é esse que me olha e é
tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus,Meu Deus...Parece meu velho pai -
que já morreu"! (Mario Quintana)

P E S Q U I S A

segunda-feira, 5 de março de 2018

38. Meu amigo Doratioto (V)

Durante minha graduação em História, na Universidade Feevale, busquei contatar - pelas redes sociais - o professor Francisco Doratioto ainda sob o impacto da leitura de seu livro Maldita Guerra. Para minha satisfação e surpresa Doratioto retornou e durante tres ou quatro anos, a partir de fevereiro de 2007, mantivemos correspondência por e-mail. A conclusão do curso e a agenda atribulada do professor  interromperam 'nossa prosa'... mas ela não se encerrou. Apenas começou e uma hora dessas vamos prosseguir.

Caro Gilnei,
Antes de mais nada te desejo muitas realizações em 2009. Te escrevo porque, salvo engano meu, você me enviou, talvez em agosto, um texto seu. Como eu estava com muito trabalho, te prometi que leria depois de outubro. Bom, o excesso de trabalho continuou até o final do semestre letivo. Espero que esteja gostando de seu curso de História.  
 Abraços,Doratioto, 10 janeiro 2009

Caro DoratiotoFeliz 2009 para voce e sua familia. Em função das eleições de 2008 fiz apenas uma cadeira em 2008/2. Vencemos as eleições em Novo Hamburgo e empurrei a conclusão do curso para o futuro. Agora preciso escolher entre seguir trabalhando na Assembleia Legislativa Gaucha ou vir para a Administração Municipal de Novo Hamburgo...A tendencia é de mudança...Um forte abraço.Gilnei, 11 janeiro 2009
 Caro Gilnei,
Desejo, sinceramente, que persista no curso de História e parta para uma pós-graduação. Agradeço o envio da notícia da Tese de Doutorado sobre o Asilo dos Inválidos da Pátria. Vou lê-la pois quando estava escrevendo Maldita Guerra pensei exatamente que faltava um estudo sobre o tema e ei-lo agora. 
Embora eu não seja exatamente um exemplo do presteza na resposta a e-mails saiba que, mais dia menos dia, os respondo e os seus em particular sempre serão bem vindos. Caso retorne a Brasília me avise para tomarmos um café e, como dizem no interior de São Paulo, trocar dois dedos de prosa.
 Abraço,
Doratioto
Parabéns pela vitória em Novo Hamburgo mas, após ler seu texto, espero que isso não venha a atrapalhar sua vida acadêmica. Fiquei impressionado pelo seu belo artigo sobre o Arquivo Petry; o texto está muito bom e, mais, mostra que você tem duas características importantes para se ser um bom historiador: paixão pelo documento, por nele recuperar o passado, e sensibilidade. 


CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE
Instituto de Ciências Humanas Letras e Artes
Curso de História
Disciplina de Seminário de Pesquisa e Prática em História e Cultura do Rio Grande do Sul
GILNEI FREITAS DE ANDRADE
Arquivo Leopoldo Petry: ‘Opus artificem probat’ ou quando a obra revela o artista
Profª Inês Reichert
Novo Hamburgo, junho de 2008










Arquivo Leopoldo Petry: ‘Opus artificem probat’ 
ou quando a obra revela o artista

“Hoje quando sinto o carinho de meus filhos,
quando aprecio o encanto dos meus netinhos,
quando me vejo cercado de atenção dos meus amigos,
então posso dizer que a vida me recompensa
plena e generosamente...
Tudo o que de desagradável ocorreu em meu passado,
desaparece, ante o prazer que me proporciona o presente”.
LEOPOLDO PETRY, na comemoração dos seus 80 anos

Não sei o que o futuro me reserva, nem onde meus passos me levam, mas à medida que caminho sinto cada vez mais prazer e alegria em seguir caminhando. Essa é minha sensação em relação ao curso de História que decidi fazer, ao dobrar a metade da minha vida. Tenho pensado em como viver com saúde, dignidade e paz a segunda metade de minha existência. Vou desfrutá-la vivendo e contando a história dos homens e mulheres dos tempos atuais e dos tempos que nos precederam. Isso me anima e reconforta, motiva para a realização de cada tarefa profissional ou acadêmica.  Foi com esse estado de espírito que realizei esse trabalho, pequena parte do curso. No início do semestre ao tomar conhecimento do trabalho proposto combinando horas de execução de tarefas práticas e uma elaboração teórica ao final, pensei que, além de pagar caro para estudar, teria de trabalhar de graça. Claro que essa impressão era parcial e momentânea porque o convívio e a confiança na professora Inês Reichert, desta feita em conluio com a professora Roswithia Weber, me dizia não tratar-se duma empreitada temerária. Mas sempre ficava uma pontinha de dúvida do que estariam tramando, juntas, essas duas gurias.O trabalho revelou-se extremamente profícuo e dignificante. A experiência de estar e trabalhar no Museu Visconde de São Leopoldo durante essas horas, o convívio com ascriaturas humanas que por lá circulam e labutam, mais o acerto na escolha do tema foram fundamentais para que o trabalho tomasse a forma que tomou. Eu já conhecia de fama e nome o major Leopoldo Petry. Em Novo Hamburgo ele é homenageado em duas escolas, uma municipal e outra estadual, na estrada de acesso ao bairro Lomba Grande e no Centro Administrativo Municipal, inaugurado há poucos anos.
A coincidência de manter relações de amizade e compadrio com alguns de seus descendentes também pesou no momento de escolher um dos inúmeros temas possíveis no Museu Visconde de São Leopoldo. O arquivo Leopoldo Petry também era familiar em alguma das leituras do passado, não tão recente, mas era com certeza relacionado ao episódio ‘mucker’. Procurei e encontrei. No livro ‘A revolta dos Mucker’ reeditado em 2002, pela Editora Unisinos, a autora Janaína Amado já na introdução da obra, na página 23, refere-se a coragem de Leopoldo Petry – um filho de imigrantes alemães – por ter abordado o assunto mucker. Manifesta entretanto discordância com o expediente utilizado por Petry que, segundo ela, utilizou todos os recursos favoráveis ou atenuantes aos mucker, de que dispunha, omitindo aqueles que poderiam incriminá-los ou confirmar parcialmente as acusações imputadas. Mas o importante mesmo vem a seguir, na página 25, onde a autora diz:
“O (meu) trabalho apóia-se basicamente em fontes primárias, em parte inéditas, coletadas em arquivos e bibliotecas do Rio de janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, e , secundariamente, em bibliografia especializada. Não consegui acesso ao Arquivo Mentz, de Porto Alegre – onde consta existir farto material sobre a história da imigração alemã no Rio Grande do Sul e a revolta mucker – e ao Arquivo Petry – onde, segundo seu organizador, o falecido historiador Leopoldo Petry, há dois documentos exclusivos referentes à revolta...”
Não sei detalhes das dificuldades encontradas pela historiadora Janaína Amado que, nos anos 70, percorreu a região buscando os papéis de Leopoldo Petry. Acredito que naquele momento os documentos ainda estivessem com a família ou tivessem recém chegado ao Museu Visconde de São Leopoldo. O acervo que pude manusear e organizar foi doado pela família, quando da venda da casa de Leopoldo Petry, alguns anos após seu falecimento, em 1966. A família optou por uma doação parcial preservando parte da documentação, de caráter mais íntimo ou pessoal ou ainda documentação contendo ataques mais agressivos e virulentos que sofreu ou desencadeou na vida política. Ocorre-me também elocubrar que a conjuntura política, na década de 70, não era muito favorável às buscas de Janaína Amado. Nesse período o genro de Petry, Níveo Leopoldo Friedrich era, ou havia sido recentemente, prefeito de Novo Hamburgo, eleito pela ARENA e  Janaína Amado pode ter sido boicotada por ser sobrinha de um notório militante e ex-deputado comunista, o célebre e brilhante escritor baiano Jorge Amado. Numa hipótese menos conspiratória ela não procurou as pessoas certas nos lugares certos, embora tenha circulado intensamente no Museu. Acredito que na sua primeira vinda ao Ro Grande do Sul a documentação parcial de Leopoldo Petry não estava no Museu e na segunda vinda ela não os tenha procurado lá. De qualquer forma o arquivo Petry está localizado e continua praticamente indevassado, parte dele no Museu Visconde São Leopoldo e outra parte, provavelmente a maior, com os familiares que, contatados, expressaram desejo e disposição de liberar o acervo para pesquisa e para a necessária conservação e organização. O material que pude manusear no Museu oferece infinitas possibilidades, pode gerar novos livros ou milhares de páginas de teses e dissertações. Cada um dos arquivos menores em que dividi os documentos, cartas, correspondências, fotos, etc. que Leopoldo Petry pesquisou, buscou e catalogou, pode resultar em novos trabalhos. E acho que isso seria motivo de muita satisfação para Leopoldo Petry que, talvez, até esboçasse um sorriso para nós. (...)    

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