Vidas Curtidas, Vozes Dubladas e Sonhos Exportados
A memória do setor coureiro-calçadista:
os trabalhadores do setor nos anos 1970 e 1980
PRIMAVERA SINDICAL
Juntos busquemos um alento
para nossa aflição,
vamos parar um momento
para prestar atenção,
vamos olhar nossos pés,
que além de instrumento
da nossa locomoção,
registram nosso sentimento
e mostram nossa situação.
Do serviço para casa,
de casa para o sacrifício
são nossos pés os indutores
desse ‘ativo circulante’
que engrandece e garante
a mordomia “dos homens”
e a riqueza da Nação.
Na nudez do chão da fábrica
e na rapidez da esteira de produção,
o barulho, a poeira e o cheiro da cola
ensinam ao pobre obreiro
que junto com cada par de sapato
que segue para o estrangeiro
também segue suor e cansaço
de um trabalhador brasileiro,
também vão pedaços de sonho
de um operário sapateiro.
Assim se revela o segredo
dessas engolidoras de gente
do Rio Grande de São Pedro,
o trabalhador serve de alimento
para a fábrica de onde tira o sustento...
Assim é a vida dos sapateiros
e sapateiras
do Vale do Rio do Sinos,
que são brancos, são negros, são crianças,
são adultos, são meninas, são meninos...
Tudo se inovou na capital nacional
nenhuma fábrica pioneira resistiu
aos ventos da crise neoliberal,
Novo Hamburgo avançou mesmo assim
tornou-se uma cidade,
um lar para todos, para ti e para mim.
Os jovens ciclistas de Sapiranga
as mulheres – marlises e jacobinas –
e os homens - jorge, leopoldo e joão -
todos dias se jogam do Ferrabras,
almas e asas multicoloridas
para os braços da exploração.
A força da união muda a vida
e mostra a cada trabalhador que
só ensina quem continua
aprendendo,
que se revolucionarmos de fato,
nosso receio vira coragem,
nosso planejamento, atitude
e nossa vontade vira ato.
Chega de tanta espera,
Vamos reavivar
a chama do sindicato
Para que nosso time seja ‘fera’,
Seja Nelson Sá, Orestes, Osvaldo,
Breno, Charuto, Bahia, Vera,
Barão, Almerinda, Nestor Machado,
Fabrasil, Fábio, Nolasco
Dori, Mauro Pacheco, João Matias,
Américo, Guido, Alcides, Beto
Guido, Luiz Monteiro, Osní
Irovan, Lena e Milton Rosa...
A história acontecida
ao longo de nossas vidas
está muito mais presente
na memórias do povo
que nas páginas do eneagá,
peço nessa despedida final,
a nós que somos o passado presente
no vitorioso futuro que virá,
lembremos 1917, 33, 68 e 86,
as vidas curtidas, vozes dubladas
e sonhos exportados são rosas
anunciando a primavera sindical.
Gilnei Andrade - dez.
2010
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