João Jorge e Jacobina Maurer

João Jorge e Jacobina Maurer

I m A g E m

I m A g E m
O Velho do Espelho

"Por acaso, surpreendo-me no espelho:
quem é esse que me olha e é
tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus,Meu Deus...Parece meu velho pai -
que já morreu"! (Mario Quintana)

P E S Q U I S A

sexta-feira, 31 de março de 2017

O povo yazidi grita por socorro

 A situação do povo yazidi é praticamente desconhecida entre nós. Muito pouco se conhece da sua história e dificilmente ouvimos falar deles em algum noticiário local. Mas não é assim em relação aos governos da Europa que conhecem muito bem a situação. Apesar de todas as advertências, em 2014, vergonhosamente permitiram que o DAESH (Isis Estado Islâmico) massacrasse mais de cinco mil yazidís no distrito de Singal, Curdistão Sul, noroeste do Iraque.




 A região curda (Kri), no Iraque, goza de autonomia sendo governada por Massud Barzani que sucedeu seu pai, Mustafá Barzani, que governou dos anos 60 até a sua morte em 1979. Singal está tecnicamente sob o controle administrativo do governo central do Iraque. A segurança do KRRG (Governo Regional do Kurdistão) e as forças militares estão presentes e ativas dentro do Singal. O ataque de agosto de 2014 foi facilitado porque as forças regulares de Barzan retiraram-se da zona, na noite anterior, levando tudo que puderam principalmente as armas deixando na mais absoluta solidão todos os habitantes do Singal. O DAESH entrou na região e massacrou milhares de yazidis. Outras milhares de mulheres e meninas foram sequestradas e vendidas como escravas sexuais em mercados do Iraque. Ainda hoje o paradeiro de cerca de tres mil mulheres é desconhecido. Outros cinquenta mil yazidís fugiram para as montanhas de Singal numa marcha desesperada em que tiveram de suportar a fome e a desidratação que maltratou principalmente as crianças e os idosos.

Mustafá e Massud Barzani


A única ajuda que receberam veio das Unidades de Auto-Defesa das YPG-J (que estavam lutando contra o DAESH - Estado Islâmico em Rojava / Síria) e das milícias do PKK - Partido dos Trabalhadores do Kurdistão. (O PKK é um movimento que permanece inexplicavelmente na lista de organizações terroristas, á pedido da Turquia e com a anuência dos EUA e da Europa.) A presença do PKK na região é intolerável para o governo de Barzani e seu aliado regional Erdogan, presidente da Turquia. Cento e oitenta mil yazidís foram deslocados forçosamente e encontram-se espalhados em vários centros de refugiados da região. As mulheres que sobreviveram decidiram organizar-se e juntaram-se as forças de Auto-Defesa e criaram suas próprias (YBBSs / YJS) num juramento que não sofreriam outro massacre sem condições de reação e defesa.



Pois justamente nesse momento, exatamente agora, três anos depois a cidade volta a ser atacada mas desta vez não pelo DAESH mas diretamente pelas forças peshmergas de Barzani. Dias depois de Barzani declarar - em linhas gerais - que o povo do Singal devia expulsar o PKK da região para evitar problemas e comprometer-se a não aceitar nenhum tipo de coordenação ou participação nas YBBS/YJS as preparações para o ataque foram iniciadas. A primeira medida que assumiu o governo do KRRG (Governo Regional do Kurdistão) liderado por Barzani foi bloquear a única entrada para a região. Depois, confiscou todos os bens dos que tentavam sair do lugar e antes do ataque direto, impediu a entrada de qualquer tipo de ajuda, desde alimentos e medicamentos até autopeças.



Nesse momento uma grande marcha ocorre na Europa para chamar a atenção internacional sobre o que está acontecendo com os yazidis. Não apenas para que os Governos Europeus condenem os ataques mas para que não permitam que aconteça. A marcha começou na Alemanha e culminará na Bélgica,onde será entregue na sede do Parlamento Europeu um pedido expresso nesses termos. Trata-se de uma apelo desesperado porque ainda há tempo para agir.



A pergunta que o povo yazidi faz ao mundo é se desta vez vão impedir a violência antes que ela ocorra.

FONTE -  Marcha por Singal em                                    https://www.facebook.com/nathaliabenavidesss/media_set?set=a.10209561706903062.1073741985.1339170318&type=3

sábado, 25 de março de 2017

Tornavida tornador


Faz um mês que o furacão passou. Desses que a força da natureza apavora. Ainda assusta a lembrança de vê-lo por dentro. Naquele vazio do meio do tornado. Naqueles segundos antes que os corredores de vento, com suas forças levem tudo para o ar.



Olhar o todo depois que o tornado passou e ir aos poucos, bem aos poucos, percebendo a grandeza dos seus estragos. Um tornado remove o que é estável por baixo da terra. Pelas entranhas. E joga longe. Quebra. Enche de água, que junta com o todo e cobre tudo de lama. E a gente olha longe na vista, até o horizonte e percebe tudo fora do lugar. Carcaças. Lixos. Formas irreconhecíveis do que antes era concreto. Pedaços. Do avesso. Quebrado. Destruído. Desmontado. Desfacelado. E coberto de lama.
E não se sabe por onde começar, olhar o todo dá falta de ar. Como se o ar do mundo pesasse dentro dos pulmões e nosso corpo pendesse pra frente. E se o olhar periférico dá vertigens, o olhar minucioso – aquele que olha os detalhes, que calcula os segundos que o tornado levou para passar, a força dos ventos e a velocidade que atingiu o solo – dá frio. Como se um sopro de gelo diminuísse a velocidade do coração em bombear sangue para o resto do corpo. E as extremidades funcionam sem vitalidade, estranhas ao novo ritmo do metabolismo. 



Então os dias após o tornado começam a passar e é difícil perceber com clareza quando é dia ou noite. A lama fez muita poeira e uma camada grossa cobre o céu. O misto da falta de percepção das horas com a falta de referências estáveis das coisas agora reviradas, faz com que habitemos o limbo. Esse espaço onde não agimos por falta de entendimento do passo seguinte. Observamos. Procuramos por pedaços de carcaças que sejam possíveis reconhecer e aos poucos começamos a reconstruir mentalmente o lugar das coisas, para buscar uma direção.
O processo de reconstrução desse espaço é lento. Quando reconhecemos um objeto, limpamos ele e decidimos se ele volta para o lugar anterior, se ele ganha um novo espaço ou se ele vai fora. Tem objetos que não são mais úteis. Tem objetos quebrados que a gente deixa de lado porque talvez daqui a pouco a gente encontre a parte que falta e tem objetos novos, que o tornado trouxe consigo de outros lugares.


Mas não tentamos limpar toda a lama de uma só vez. Até porque esse pó não sai instantaneamente. A gente começa tirando a camada mais grossa com uma pá. A segunda camada varrendo. A terceira com um pano úmido e ainda assim permanece uma camada fina que a gente percebe algumas horas depois de ter limpado. 
É difícil limpar e organizar as coisas sem ter ideia da dimensão do que a gente tem que organizar. Quão além do horizonte os estragos do furacão chegaram? Foco. Escolhe um objeto. Limpa. Define o que fazer com ele. Foco. Outro objeto. Limpa. Define o que fazer com ele. Nunca o todo. 



O lugar inteiro está cheio de lodo e o processo é lento. Tem algumas pessoas limpando também e tem outras fazendo castelo com a lama. Durante esse um mês vários ventos fortes assustaram. Alguns ventos conseguiram derrubar coisas que já haviam sido ajeitadas e o temor em relação a isso é que um novo furacão se aproxime.
Não sei quantos meses levarão para que a lama vá embora. Até que as coisas se “normalizem” nessa nova forma de organização. De um novo lugar, que não nega a passagem do furacão, pelo contrário, se reconhece mais forte em função dele. E que tem suas raízes rasas, recém replantadas, como esperança de novos frutos. Mas com o entendimento que nem toda planta sobrevive ao replantio. Enquanto isso tem brotos novos, nascidos pelas brechas, depois da tormenta e que já nascem entendendo esse espaço como o mundo real. Como ele é.

                                                                                                   Thais Andrade

quinta-feira, 16 de março de 2017

32. DESAGRAVO AO JORNALISMO PERSEGUIDO

Esse é um manifesto sincero de desagravo e reconhecimento a importância social e política do jornalismo que não pode ser alvo de socos e chutes na bunda ou qualquer outro tipo de perseguição ou agressões por pior que seja sua qualidade e por mais desleais e mentirosos que sejam alguns profissionais que o exercem; 

O jornalismo não pode ser perseguido mesmo que o jornalista esteja de roupa de palhaço, de bailarina ou de mergulhador de aquário porque o jornalista pode até ser um palhaço mas os palhaços não podem ser jornalistas; 

O jornalismo não pode ser ameaçado mesmo que o jornalista seja do tipo que arrasta seus filhos e sobrinhos para verdadeiros "programas de índio de cinema" porque o jornalista é pai e tio mas nem todos pais e tios são jornalistas; 

O jornalismo deve ser respeitado mesmo quando, travestido, torna-se 'jornalismo opinativo' trazendo opiniões que ninguém pediu, versões que ninguém acredita e fatos que ninguém corrobora pois é melhor um jornalista de opiniões reacionárias e contraditórias ativo do que uma sociedade cheia de opiniões sem um jornalista para defende-las ou ataca-las; 

 O jornalismo deve ser resguardado mesmo quando o profissional escreve para um blog que só sua mãe e tias acompanham ou para uma rádio comunitária que ninguém lembra a frequência pois não importa o 'contiúdo' o que importa mesmo é garantir o direito de escrever e falar no caso de surgir alguém que queira ler ou ouvir; 

As administrações públicas (a de Novo Hamburgo também) e os poderes constituídos devem preocupar-se em garantir a integridade física e mental dos jornalistas quer estejam no inicio ou fim de carreira, gozem de boa ou má forma física, vistam-se bem ou de forma andrajosa, portem-se de forma ética e educada ou não, porque maus jornalistas vão passar ou vão empreender noutras áreas mas o verdadeiro jornalismo deve permanecer. Tem que permanecer.