João Jorge e Jacobina Maurer

João Jorge e Jacobina Maurer

I m A g E m

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O Velho do Espelho

"Por acaso, surpreendo-me no espelho:
quem é esse que me olha e é
tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus,Meu Deus...Parece meu velho pai -
que já morreu"! (Mario Quintana)

P E S Q U I S A

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Entrevista com combatente brasileiro em Rojava

Em janeiro o Comitê de Solidariedade à Resistência Popular Curda de São Paulo entrevistou Bal Dilsoz, brasileiro que está combatendo junto aos povos de Rojava e outros internacionalistas no Norte da Síria. Confira a seguir:
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Comitê: Qual o seu nome ou como podemos te chamar?  Bal Dilsoz:  Meu nome é Baz Dilsoz, mas pode me chamar de Heval Baz.
Comitê: Desde quando você está em Rojava?   Baz: Desde o ano passado (2016).
Comitê: Você se envolvia em política no Brasil? Segue alguma linha ideológica definida? Baz: Militei em um partido por quase seis anos, hoje estou num limbo ideológico entre o distributismo de esquerda e o Apoismo (segue teoria desenvolvidas por Abdullah Öcalan, conhecido como Apo entre os curdos).
Comitê: Qual o motivo que te levou a combater por Rojava? Baz: Por que aqui é a maior experiência revolucionária do nosso tempo, e por causa da monstruosidade do estado islâmico e da República da Turquia.
Comitê: Você concorda com o projeto do confederalismo democrático? E qual importância vê no que está acontecendo em Rojava atualmente? Baz: Sim, concordo e acho uma pena que no Brasil não se conheça essa corrente política. Pra mim, Rojava representa a esperança de um mundo melhor na nossa geração.
Comitê: Pode falar um pouco sobre seu time e batalhão e onde atuou. Baz: Passamos por vários Tabur (batalhão) aqui, entre infantaria ligeira, armas pesadas e logística. Trabalho não falta.
Comitê: O que você e seus companheiros esperam para o futuro próximo, na Síria e internacionalmente? Baz: Esperamos a democratização da Síria e sua unidade no federalismo, a derrota do fascismo de Erdogan e vemos com esperança as agitações revolucionárias em diversas partes do globo.
Comitê: Muitos internacionalistas atuam em Rojava também com o intuito de trazer acúmulo revolucionário para seus locais de origem, pode falar sobre isso e se acredita que parte dessa experiência pode se internacionalizar e aproveitada em um país como o Brasil. Baz: É verdade. Muitos de nós queremos adaptar as experiências daqui em nossos países de origem. O confederalismo democrático não está confinado ao Curdistão, pelo contrário, é um projeto pro mundo todo. Ele trás soluções diretas aos problemas causados hoje pelas nações-estados, e tem sobrevivido às provações práticas.
Comitê: Você aprendeu kurmanji, como se comunica?  Baz: Entre os estrangeiros falamos em inglês, geralmente. Mas todos aprendemos um pouco de Kurmanji. O quanto vc aprende depende somente da sua dedicação: tem hevalên que em três meses já conversam com os curdos, e tem outros que passam dois anos aqui e só falam "roj baş".
Comitê: Quais são as condições materiais dos locais onde vocês atuam hoje, existe dificuldades com alimentação, água potável, medicamentos e que tipos de restrições vocês sentem devido ao embargo do KRG, exemplo? Baz: Os soldados da logística do YPG são verdadeiros heróis, eles não deixam faltar nada para nós. Equipamentos, água, comida e remédios estão sempre disponíveis, mas por causa do embargo, a qualidade nem sempre é das melhores. O KRG é uma associação de criminosos, capangas de Erdogan. Seu objetivo agora é derrubar o governo revolucionário e colocar em seu lugar outra marionete do ocidente. Bom, que tentem, nós somos madeira que cupim nenhum pode furar.
Comitê: O que mais te chamou atenção nesse período? Baz: A consciência dos curdos sobre a revolução. Impressiona, só estando aqui pra saber.
Comitê: Chegou a participar de ações militares junto com combatentes mulheres? Baz: Sim, e acredite, elas são o demônio! O papel delas na luta é decisivo, são combatentes espetaculares.
Comitê: Se puder nos relatar algum acontecimento que teve junto com seu tabur pra tentarmos entender um pouco do que passa por aí. Baz: No front 103% do tempo é tédio, com 4% de margem de erro. A maior parte do tempo se faz trabalho de sentinela, se estuda e se toma chá. Mas, ao nascer e ao pôr do sol, a cobra fuma.
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“A revolução de Rojava é uma revolução das mulheres” –      Melike Yasar

Tradução: Comitê de solidariedade aos povos do Curdistão-RS.
Um silêncio forte, mas sutil é implantado durante meses sobre o Curdistão, especificamente na região de Rojava fronteira norte com a Síria e a Turquia. Os combates entre as milícias guerrilheiras da Unidade Proteção Popular (YPG / YPJ) e os mercenários do Estado Islâmico (EI) continua nas aldeias e cidades. Quando em janeiro de 2015 as forças EI foram expulsas da cidade curda de Kobanî, um processo de aprofundamento da revolução começou naquela região. 
Sob a liderança do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), o norte da Síria prevê uma nova forma de fazer política. Claro, a grande mídia silencia este fato de forma sistematicamente. Para a grande mídia, a parafernália militarista de coalizão (CI), liderada pelos Estados Unidos que bombardeia a área é muito mais atraente do que a organização de pessoas de diferentes nacionalidades que vivem em Rojava.
Melike Yasar, representante do Movimento Internacional de Mulheres curdas (MIMK), falou com o Marcha, sobre um processo aberto e em construção e, como ele se desenvolve no Curdistão sírio. O papel fundamental das mulheres para construir a revolução, a influência da vitória nas outras regiões curdas e, o futuro do Oriente Médio foram alguns dos temas discutidos.
A força das mulheres
Na linha de frente de combate estão elas. Os meios de comunicação às demonstram radiantes, quase como modelos de publicidade. Outras mídias, de redução deliberada e direta. As mulheres curdas, com seus rifles sobre os seus ombros, são uma parte fundamental de uma revolução. 
Yasar resume: “A revolução é uma revolução Rojava mulheres. A liberdade das mulheres está no cerne do paradigma do sistema Confederal. A resistência das mulheres em Rojava não começou agora, mas é o resultado da luta de muitos anos.” Assim, a referência de MIMK resume a importância das mulheres na implementação do Confederalismo Democrático em Rojava, a ideologia que rege o PKK (PYD, no norte da Síria) e que coloca em um duro questionamento as linhas políticas clássicas do Oriente Médio.
“A liberdade das mulheres significa liberdade para o povo”, diz Yasar-. Antes do proletariado, as mulheres foram o primeiro setor social oprimido. Todos os movimentos sociais e as revoluções do século XX defendeu o direito das mulheres, mas deixavam a solução para após a revolução. “Para o movimento curdo, isso foi como uma lição, ele analisou todas as revoluções e, definiu que o problema da mulher, será resolvido dentro da revolução e não após a revolução.”
Referindo-se Rojava, Yasar diz que apenas 10% das mulheres estão lutando contra o Estado islâmico e, o restante é dedicado à política e a construir uma nova sociedade, no meio de uma feroz guerra de agressão. “Em Rojava as mulheres foram às forças que armaram o sistema confederal, não somente com a luta armada em si. 
O mundo só conhece a luta armada das mulheres curdas, mas essa não é a única realidade. O mundo deve saber que as mulheres que têm armas em suas mãos é como estivessem segurando uma caneta também. A força das mulheres foi a mudança fundamental no Curdistão “.

Rojava hoje
Reconstruir um território devastado. Essa é a premissa do movimento curdo no norte da Síria. E reconstruí-lo com base no anti-estatismo, comunitarismo e na inclusão democrática do povo. Tarefa difícil, mas que ainda está de pé em Rojava. Para Yasar, “após a vitória em Kobanî, nas aldeias e em todos os movimentos há muitos mais esperança. Da mesma forma, ainda há muitos conflitos e guerras e, a ameaça ainda não desapareceu “.
A representante curda garante que todos os países do Oriente Médio “tem um plano diferente para Rojava”, enquanto o EI “não é um movimento que luta apenas contra os curdos, mas é uma organização criada pelos países capitalistas para reordenar a região ao seu gosto.” “Isso mostra que o Estado islâmico não só luta contra os curdos, mas que luta para destruir o novo sistema nascido em Rojava.”
“As pessoas tem consciência deste novo modelo e o defende com toda força, porque é o único modelo que elas e eles podem se sentir livre e que este pertence a eles”, diz Yasar referindo-se a Confederalismo Democrático. “Você tem que saber e ser claro que este modelo é anti-capitalista, por isso os países capitalistas tentarão destruí-lo”, diz ela. 
Ela acrescenta: “O Confederalismo Democrático não se constrói após a guerra, mas na guerra. Quando a guerra civil começou na Síria a primeira coisa que fizemos foi tirar os homens de Assad para construir esse sistema em Rojava. Esse modelo é o terceiro caminho, nem com o regime de Assad e nem com os grupos terroristas. O povo curdo sabe que trouxe esse novo modelo democrático com respeito as mulheres, jovens e para todas as pessoas.
Muito antes de Rojava se declarar autônoma em 2013, o movimento curdo construiu o germe do que se esta vendo agora. “Para que possa funcionar- explica Yasar-, nos bairros se fazem seminários para informar sobre este sistema, que se baseia em que todos os povos possam viver juntos. Nos bairros, nas aldeias, nos campos foram construídas assembleias. Dentro deste sistema, a liberdade das mulheres é uma importante guia. As mulheres colocaram uma dinâmica neste sistema e isso deve ser visto como consequência da luta do movimento curdo por 40 anos.
O impacto no Oriente Médio
“O povo do Oriente Médio, especialmente nos últimos anos, está vivendo uma cultura de resistência com a qual eles querem mudar o sistema em que estão vivendo”, diz Yasar. Sem dúvida, na região cresce as brigas internas e a interferência dos EUA. Os confrontos entre regimes mais ortodoxos, como a Arábia Saudita e Turquia, com Irã e Síria marcam os últimos tempos. No meio, o povo curdo procura seu destino.
Os povos do Oriente Médio “desejam modificar os regimes atuais, mas ainda não há alternativa própria - remarca a representante da MIMK-. A resistência do povo do Oriente Médio provocou respeito, mas nos exemplos da Líbia, Tunísia e Egito havia falta de alternativa. Portanto, o modelo Rojava dá muita esperança a muitos povos do Oriente Médio, esperança que um novo sistema pode ser construído. Os Estados sem dúvida não vão aceitar, porque este projeto é de um sistema é anti-Estado.”
Yasar afirma que “em Rojava não foi simplesmente aproveitar o momento, mas que o sistema já tinha uma base. Não podemos negar que a guerra civil na Síria nos deu a chance de colocar para funcionar o sistema, mas também para defender esta terra, porque naquela época os curdos necessitavam muito dela. Sabíamos que as decisões que tomariam os países imperialistas podiam afetar negativamente o povo curdo, mas, a vitória em Rojava afetou ainda mais e de forma positiva a todos curdos”.
As incógnitas sobre o que vai acontecer no Curdistão sírio e sua influência na região permanecem latentes. Algo de novo parece emergir no Crescente Fértil, mas perigos espreitam ao redor e contradições. Até agora, a maior defesa da revolução de Rojava é dada pelas próprias pessoas que vivem nesse solo. O poder para consolidar este processo irá definir o futuro.

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