João Jorge e Jacobina Maurer

João Jorge e Jacobina Maurer

I m A g E m

I m A g E m
O Velho do Espelho

"Por acaso, surpreendo-me no espelho:
quem é esse que me olha e é
tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus,Meu Deus...Parece meu velho pai -
que já morreu"! (Mario Quintana)

P E S Q U I S A

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Raul Pont:

Estou saindo do parlamento, não da política. Sistema eleitoral está podre.


O deputado estadual Raul Pont (PT) anunciou, em entrevista publicada segunda-feira (26/8) no Jornal do Comércio, que não pretende concorrer nas eleições do ano que vem. A decisão de Pont, atual presidente do PT do Rio Grande do Sul, não significa um abandono da política. Pelo contrário, é um gesto carregado de significados, entre eles a inconformidade com a crescente influência do poder econômico na vida política brasileira, inclusive dentro do partido que ajudou a fundar e a construir. 
Em uma conversa, na tarde desta quarta-feira, em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Raul Pont explicou ao Sul21 os seus motivos: “É uma decisão pessoal que, evidentemente, pode estar subordinada a um debate político no partido ou na minha corrente (a Democracia Socialista). Mas a minha disposição pessoal é de não concorrer. Não há uma única razão. A primeira delas tem a ver com o sistema eleitoral que nós temos. Não estou descobrindo agora que esse sistema não é bom ou que o acho antidemocrático. Eu luto e brigo contra isso há décadas. Quando fui eleito para a Câmara Federal a primeira coisa que fiz foi tentar levar adiante uma emenda constitucional que buscava estabelecer um mínimo de igualdade na representação proporcional dos estados. Não consegui apoio nem nas bancadas dos partidos de centro e de direita de São Paulo, o maior prejudicado nesse modelo. Ninguém quis discutir a proposta e o projeto acabou arquivado”
Esse era apenas um aspecto de um sistema eleitoral que passou a ser cada vez mais questionado, chegando ao ponto hoje, como se viu nas manifestações de junho, de sofrer um grave processo de deslegitimação junto à população. E isso que, naquela época, observa Raul Pont, o poder econômico não havia penetrado tanto a esfera política como hoje. Aqui, ele aponta uma razão que expressa um grande descontentamento com o estado de coisas dentro do PT: “Naquele momento, as nossas campanhas no PT ainda não estavam dominadas por essa lógica dos demais partidos e as nossas candidaturas ainda eram muito coletivas. De lá para cá, e principalmente a partir das eleições de 1998 e 2002, com a eleição de Lula quando batemos no teto da nossa representação parlamentar, nós só patinamos. Mesmo com o partido elegendo mais deputados estaduais, e construindo mais diretórios estaduais, municipais e militantes, e ganhando a presidência, a nossa bancada federal parou de crescer. E hoje está diminuindo, ainda que tenhamos eleito o presidente da República três vezes seguida. Um estudo da Consultoria Legislativa da Câmara Federal mostra que, na eleição de 2010, 370 deputados foram eleitos combinando a condição de candidaturas mais caras (entre as 513 candidaturas mais caras do país)”.
O mais grave desse cenário, diz Pont, é que ele tende a continuar e a se aprofundar, inclusive dentro do PT. O valor das contribuições empresariais para as campanhas, exemplifica, dobra ou mais que dobra a cada eleição, chegando a quase 5 bilhões de reais na última campanha. E ele faz uma ressalva: “Isso do que foi declarado. Houve muita triangulação dentro dos partidos e o que corre sem declaração é incalculável”. Assim, trabalhando só com os dados do Tribunal Superior Eleitoral, temos, na última eleição, quase 5 bilhões de reais doados por pessoas jurídicas para candidatos. “E são doações para candidatos, não para os partidos. Os candidatos são escolhidos a dedo por essas empresas, em todos os partidos, inclusive o nosso. O número de empresas dispostas a financiar candidaturas dentro do PT cresce de maneira assustadora”. Essa é uma das razões que levou Pont a decidir não concorrer em 2014. “É um protesto mínimo e uma espécie de denúncia de que esse sistema está podre e dominado pelo poder econômico, e o será cada vez mais”
Mas esse não é o único motivo. Ele explica: “Para mim, a militância parlamentar é uma militância como qualquer outra. Não faço carreira disso. A maior parte da minha vida política ocorreu fora do parlamento. Comecei a militar 50 anos atrás e não tinha a mínima ideia ou pretensão de ter algum cargo. Militava no movimento estudantil, no Sindicato dos Bancários. Em 1964, eu era bancário e comecei a estudar História na UFRGS. A minha militância começou efetivamente na resistência ao golpe militar em março de 64. De lá para cá eu não parei e na maior parte da minha militância não precisei de mandato, atuando até em condições muito mais adversas que a atual. Então, para mim o parlamento não é o único espaço de atuação. Há o partido, sindicatos, entidades sociais, o trabalho que posso fazer como professor universitário na área de ciência política. Posso contribuir também com a formação política dentro do partido”. E uma terceira razão tem um caráter mais pessoal: “Tenho 50 anos de militância. Vou completar 70 anos de idade no ano que vem. É claro que isso cansa e a minha vitalidade não é a mesma dos meus tempos de estudante e de jogador de basquete. Acho que o partido precisa se renovar e abrir espaço para novos quadros. Votei a favor do limite de mandatos no último Congresso do PT (que aprovou um limite de três mandatos). Acho que é um bom exemplo sinalizar para a juventude, para outros companheiros e companheiras que estão com mais vitalidade, mais pique, e que respondem também a uma nova conjuntura. Depois de 30, 40 anos, a vida de um partido político, principalmente num caso como o do PT que teve um crescimento muito rápido, tende a uma certa burocratização, à consolidação de funções e cargos de direção e representação parlamentar, que vai acomodando as pessoas. Temos que ter regras e práticas como o limite de mandatos ou a quota de 50% de gênero nas direções partidárias (também adotada pelo PT no seu último Congresso) para evitar que isso ocorra”
Ao explicar suas razões, Raul Pont deixa claro que sua decisão de não concorrer em 2014 não significa uma aposentadoria política. Pelo contrário, ele aponta com determinação suas novas trincheiras de luta: “Eu só não vou mais lutar aqui dentro, vou lutar lá fora, Vou continuar escrevendo sobre isso, denunciando essas práticas, ajudando a organizar as pessoas em favor de outro modelo de política. Acho uma tarefa importante que pretendo continuar cumprindo por toda a vida. Não estou saindo da política, estou saindo do parlamento, de uma representação parlamentar”. Para não deixar dúvidas sobre isso ele critica duramente a aprovação da PEC do Orçamento Impositivo, que obriga o governo a pagar todas as emendas individuais dos parlamentares ao orçamento da União, até o valor de R$ 10 milhões por deputado e senador: “Há algumas coincidências que são impressionantes. O mesmo Congresso que não consegue votar o fim da guerra fiscal, um mínimo de reforma tributária para o país, a reforma política e eleitoral, um imposto sobre as grandes fortunas, coisas que todos dizem serem justas e necessárias, no meio dessa crise toda, 376 deputados, com toda a facilidade e rapidez, aprovam uma proposta de clientelismo impositivo. As emendas parlamentares, por si só, já são uma excrescência da política, um clientelismo escancarado, a antessala da corrupção. Todo mundo que já passou por uma prefeitura sabe disso. De certa forma, é a legalização da corrupção e do clientelismo. Com exceção do PT que, para meu desgosto e contrariedade, liberou o voto, todos os demais partidos, inclusive os ditos esquerdistas do PSOL, votaram favoravelmente. Esses partidos orientaram o voto ‘sim’ nos dois turnos. Como o PT não fechou questão, ao menos os deputados que integram a Mensagem ao Partido e alguns outros votaram contra (40 deputados do PT votaram a favor).
Neste ponto, Raul critica a postura da atual direção do PT: “Eu sou parte da direção, mas sou minoria dentro do Diretório desde a fundação do partido. Como é que essa direção coordenada pelo Rui Falcão, que é o presidente do partido, sequer estabelece uma orientação para a bancada. Pode até perder. Mas se você não orienta, não diz que determinada política está errada, fica difícil. Ninguém defende que essa PEC é uma política correta e republicana. Se todos os partidos orientam o voto ‘sim’ e o nosso libera o voto, nem o nosso partido se distingue. Como é que você quer que o eleitor, olhando para isso, vá confiar nos partidos políticos. Nós estamos afundando um processo de representação democrática duramente alcançado, que não é nenhum paraíso, mas que é superior às ditaduras e a muitas democracias já completamente dominadas pelo poder econômico como é o caso dos Estados Unidos. Essa lógica é mortal para o sistema democrático e só favorece o autoritarismo e saídas fascistas”. 

Marco Weissheimer 
Publicado no Sul21 dia 28/08/13

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Roessler, um caçador dos caçadores

Henrique Luiz Roessler, um protetor da natureza

Ambientalista avant la lettre gaúcho, fundador da União Protetora da Natureza – UPN, Roessler foi um dos precursores da proteção ambiental no Brasil, destaca Elenita Malta Pereira. Sua luta paraconscientizar a população se dava através de artigos em jornais e em fiscalizações a campo.

 Por: Márcia Junges

Conhecido em todo o Rio Grande do Sul nos anos 1940-60, Henrique Luiz Roessler atuava como fiscal das contravenções à natureza no estado. Em sua trajetória “prática e escrita estavam imbricadas de maneira indissociável, como armas em sua luta para defender a natureza dos devastadores”, explica Elenita Malta Pereira na entrevista que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line

Munido de leituras e conhecimentos, Roessler tinha um grande diferencial: “aplicar, na prática, o conteúdo dessas leituras e, através das crônicas jornalísticas, difundir esses conhecimentos para o público em geral”. Já àquele tempo ele queixava-se da falta de verbas e, inclusive, de um veículo para fazer as fiscalizações a campo. 
Fundou a União Protetora da Natureza – UPN e foi incansável na denúncia dos ataques contra o patrimônio natural gaúcho. Para Elenita, “hoje, quando as consequências dos exageros na exploração da natureza estão visíveis a todos, provocando situações ainda não dimensionadas pelo homem, como as mudanças climáticas e o colapso de inúmeros ecossistemas, o discurso de Roessler ainda faz sentido”.

Elenita Malta Pereira - Graduada, mestre e doutoranda em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS é autora da dissertação Um protetor da natureza: trajetória e memória de Henrique Luiz Roessler, que intitula sua palestra nesta quinta-feira, 17-11-2011, no IHU ideias, das 17h30min às 19h, na Sala Ignácio Ellacuría e Companheiros, no Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Quem foi Henrique Luiz Roessler? Qual é o contexto de sua vida, luta e origens?
Elenita Malta Pereira – Roessler era filho de descendentes de imigrantes alemães oriundos da região próxima à fronteira com a França. Sua família era proprietária da empresa Pedro Blauth & Companhia, que atuava no ramo da navegação no Rio dos Sinos. Nasceu em Porto  Alegre em 1896, mas ainda bebê veio com os pais morar em São Leopoldo, cidade onde, mais tarde, foi desenhista, construtor de barcos, escultor e contabilista. Estudou no colégio jesuíta Nossa Senhora da Conceição, onde passeios ao ar livre e banhos no Rio dos Sinos faziam parte da rotina dos estudantes.

A atividade que o tornou um personagem conhecido em todo o Rio Grande do Sul nos anos 1940-60 foi uma eficiente atuação como fiscal das contravenções à natureza no estado. Em 1934, um conjunto de leis de proteção à natureza começou a ser publicado pelo governo de Getúlio Vargas, como o Código de Caça e Pesca e o Código das Águas. Também nesse ano apareceu o primeiro Código Florestal brasileiro, que previa a formação de uma polícia florestal em todo o Brasil. Em 1939, Roessler, que já era capataz do Rio dos Sinos – remunerado – desde 1937, ofereceu-se para trabalhar gratuitamente nessa polícia, ocupando o cargo de delegado florestal. Cinco anos depois, acumulou a função de fiscal de caça e pesca. Os dois cargos eram vinculados ao Ministério da Agricultura, na época o órgão responsável pela proteção à natureza no país.

IHU On-Line – Em que aspectos é possível dizer que Roessler foi um dos precursores da proteção ambiental no Brasil?
Elenita Malta Pereira – No contexto em que Roessler viveu já havia discussão ambiental, mas não da forma abrangente como há hoje. O termo “ecologia”, até o início dos anos 1970, estava restrito ao meio acadêmico e, pelo que pude verificar, nunca foi utilizado por Roessler. Ele se apoiava em leituras de revistas de divulgação, como “Caça e Pesca”, editada por Monteiro Lobato , “Chácaras e quintais”, uma das mais importantes publicações da época, e de livros escritos por autores brasileiros e estrangeiros sobre conservação dos elementos naturais. O seu grande diferencial foi aplicar, na prática, o conteúdo dessas leituras e, através de crônicas jornalísticas, difundir esses conhecimentos para o público em geral. Na trajetória de Roessler, prática e escrita estavam imbricadas de maneira indissociável, como armas em sua luta para defender a natureza dos devastadores.

IHU On-Line – Quais eram suas principais atitudes de denúncia e conscientização sobre o cuidado com o ambiente?
Elenita Malta Pereira – Fiscalizando tanto as margens do Rio dos Sinos como o desmatamento, as queimadas, a caça e a pesca ilegais, Roessler viajou por todos os cantos do Rio Grande do Sul, aplicando autos de infração, multas e se envolvendo em conflitos com quem não aceitava sua fiscalização rigorosa. Um dos maiores problemas que ele enfrentou foram as “passarinhadas”, uma prática muito apreciada nas cidades que receberam grupos étnicos italianos no estado. Roessler e os “passarinheiros” protagonizaram episódios de violência física e, principalmente, simbólica em xingamentos de ambas as partes: para os caçadores, Roessler era um “cangaceiro”, “autoritário”, “nazista”, que atrapalhava suas passarinhadas. Para Roessler, os caçadores eram “tarados de alma negra”, “assassinos”, movidos por uma “herança maldita” de seus antepassados.
Em uma dessas fiscalizações, em 1952, Roessler sofreu um acidente em que perdeu o pé direito. Isso o obrigou a ficar dez meses afastado da fiscalização (o que foi uma tortura para ele!) e a usar uma prótese mecânica para o resto da vida. A perna substituta provocava dores, mas não o suficiente para afastá-lo das diligências de fiscalização. Depois do período de repouso, ele voltou a fiscalizar e, em abril de 1954, sofreu um processo judicial movido pelos caçadores de passarinhos, vivendo um dos períodos mais difíceis da sua vida.

                                         Amor à natureza

Em dezembro de 1954, ele foi destituído dos cargos de delegado florestal e de fiscal de caça e pesca, por conta de um novo estatuto dos funcionários públicos, que não permitia funções não remuneradas (Lei 1.711/52). Para contornar a situação, entre as alternativas possíveis, Roessler, espelhando-se em iniciativas semelhantes no exterior e no Brasil, fundou a União Protetora da Natureza – UPN, em 01-01-1955. A UPN, sediada em São Leopoldo, foi a primeira entidade de proteção à natureza do Rio Grande do Sul em sentido amplo: sua militância abrangia a defesa de todos os elementos naturais. 

Em 1955, Roessler conseguiu, pelo menos, reaver uma das credenciais perdidas. Através do contato com amigos influentes, conseguiu continuar como fiscal de caça e pesca, no âmbito da Secretaria de Agricultura estadual. Dessa forma, atuando na UPN e na fiscalização, ao mesmo tempo, pôde aliar a atuação prática, coibindo as transgressões das leis protetoras, com uma série de campanhas educativas pela proteção dos elementos naturais, através de palestras e distribuição de panfletos em escolas, clubes assistencialistas, a agricultores e ao público em geral. 

Em fevereiro de 1957, Roessler se tornou colunista do jornal Correio do Povo, na seção “Assuntos Rurais”, publicando crônicas sobre os problemas ambientais do Rio Grande do Sul daquele contexto, sempre às sextas-feiras. Esse espaço foi importantíssimo em sua trajetória, porque tornou seu trabalho conhecido por um número bem maior de pessoas. Ao todo, ele publicou cerca de 300 textos, abordando a questão florestal (desmatamento, queimadas, reflorestamento), o drama dos rios (poluição industrial, morte de peixes envenenados, projetos de retificação do Rio dos Sinos), a matança de pássaros motivada pela “passarinhada”, a pesca ilegal (utilização de objetos proibidos, dinamite), a matança de alevinos nas bombas de sucção nas lavouras de arroz, o impacto da moda (casacos de peles, adereços com penas de pássaros), os direitos dos animais (utilização de animais como cobaias, vivissecção, crueldades), a constituição de parques e reservas naturais, a educação de crianças e jovens para a proteção da natureza e o questionamento da noção de “progresso”. 
Essa variedade de temas era tratada com uma linguagem ácida, corrosiva até, permeada de ironia muitas vezes. É que Roessler queria muito chamar a atenção das pessoas sobre a urgência de se mudar a conduta em relação à natureza: para ele, era preciso criar, forjar, o amor à natureza e a mentalidade de conservação dos elementos naturais.

IHU On-Line – Como essas críticas eram recebidas pelas empresas e pelo poder público? Ele tinha apoio da população em sua causa?
Elenita Malta Pereira – Essa foi uma questão interessante que apareceu em minha pesquisa. Havia empresas que o apoiavam, como fabricantes de armas e vendedores de artigos para a caça e pesca em geral. Essas empresas patrocinavam seus cartazes e panfletos educativos, numa espécie de “marketing socioambiental”, parecido com o que vemos atualmente. Por mais paradoxal que isso possa parecer hoje, Roessler não era contra a caça legalizada, e sim contra a caça ilegal, fora de época e que matasse espécies não permitidas por lei. Mas houve conflitos com curtumes da região do Vale do Rio dos Sinos, que despejavam seus resíduos in natura, contaminando a água bebida pelas populações ribeirinhas.

 Em fevereiro de 1961, houve uma grande mortandade de peixes no Rio dos Sinos provocada pelos detritos dos curtumes, segundo Roessler. Ele chegou a enviar carta a Jânio Quadros , solicitando providências. O presidente sensibilizou-se com o ocorrido e sancionou um decreto (50.877/61) com medidas mais rigorosas para a punição dos estabelecimentos que lançassem resíduos nos rios. Quando ele renunciou, Roessler ficou desolado, porque, em sua opinião, foi o único presidente que se importou com os recursos naturais do país. No entanto, em geral, o governo apoiava mais no discurso do que na prática, porque criava órgãos e publicava leis, mas Roessler queixava-se constantemente da falta de verbas e até de um veículo para realizar as diligências de fiscalização. Pelo que pude apurar, seus leitores no Correio do Povo o apoiavam, especialmente os professores, que, aliás, eram fundamentais para o sucesso das campanhas educativas da UPN.

IHU On-Line – Quais são as principais atividades da Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler?
Elenita Malta Pereira – A Fundação Estadual de Proteção Ambiental - Fepam, além de conceder licenças ambientais, é um dos órgãos responsáveis pela fiscalização e aplicação das leis de proteção ambiental no estado. Ela faz mais ou menos o que Roessler fazia, através do Serviço Florestal e da Divisão de Caça e Pesca. Por isso o homenageou Roessler em seu nome.

IHU On-Line – Em que ideias se baseava a produção escrita de Roessler?
Elenita Malta Pereira – Um aspecto que não havia sido previsto no início de meu trabalho, mas que acabou ocupando um espaço importante na pesquisa, foi a “ideia de natureza” de Roessler. A partir da análise de uma amostragem de textos correntes no Rio Grande do Sul e no Brasil, bem como de autores citados em suas crônicas jornalísticas, foi possível constatar que ele estava muito bem sintonizado com o que se produzia sobre o tema. Seu discurso se alicerçava no nacionalismo, na educação e na religião. Articulando esses três elementos, formulou sua concepção de natureza: uma criação divina, uma dádiva de Deus aos humanos e, ao mesmo tempo, o patrimônio maior da nação, por isso o incentivo à sua proteção, através de campanhas educativas, era fundamental. 
Somente quando as pessoas entendessem o quanto a natureza era importante, haveria esperança de um amanhã; o uso responsável dos elementos naturais era necessário para que as gerações futuras não sofressem com a falta deles, bem como a reserva de áreas naturais, ainda “intocadas” pelo homem. Esses dois princípios nortearam toda sua atuação e pensamento: conservação e preservação; eram seus mandamentos, sua profecia, que ele seguia e anunciava à sociedade. Roessler se sentia um predestinado, apresentava-se mesmo como um profeta, prevendo que, se o homem não fizesse sua parte, a terra se tornaria um deserto, um inferno. Incorporando um discurso que sacralizava a natureza, através da utilização de imagens religiosas e reforçando a culpa humana pela destruição dos elementos naturais, visava atingir o maior número possível de adeptos para sua crença: a religião da proteção à natureza.

IHU On-Line – Em que medida ele influenciou a criação de ONGs e entidades voltadas à proteção ambiental?
Elenita Malta Pereira – Em 1971, a Agapan  homenageou Roessler, ao lado do Padre Balduíno Rambo , como patrono. A Agapan-NL , de São Leopoldo, hoje UPAN, fez o mesmo. Em 1978, quando um grupo de jovens alunos do Prof. Kurt Schmeling resolveu fundar uma entidade ecológica, seu nome foi escolhido para designá-la: Movimento Roessler. 
Algumas das pessoas que fundaram essas entidades eram ex-integrantes da UPN, que não conseguiram reorganizar-se depois da morte de Roessler, em 1963 (Roessler se mostrou insubstituível em sua luta obstinada contra os transgressores das leis ambientais; ele era quase um homem-entidade, centralizando todas as decisões e atividades). Outros eram ligadas ao naturismo e eram leitores das crônicas dele no Correio do Povo. Um dos fundadores da Agapan, Augusto Carneiro, afirmou ter sido “ecologizado” por Roessler.

IHU On-Line – Qual é o seu principal legado para as gerações que o sucedem?
Elenita Malta Pereira – Hoje, quando as consequências dos exageros na exploração da natureza estão visíveis a todos, provocando situações ainda não dimensionadas pelo homem, como as mudanças climáticas e o colapso de inúmeros ecossistemas, o discurso de Roessler ainda faz sentido. Esquadrinhando o Rio dos Sinos em sua canoa e dormindo muitas noites de verão na casinha de Tarzan que construiu em cima de uma árvore, ele buscou a integração máxima com a natureza. 
Fez muito mais do que o possível em sua breve vida (63 anos), divulgando a proteção à natureza em todos os recantos do estado do RS, em todos os suportes ao seu alcance. Seus textos, no mínimo, podem nos mobilizar à ação ainda, mesmo que os problemas atuais sejam outros, bem mais difíceis, aliás. A paixão com que denunciava negociatas de madeira, muitas vezes estimuladas pelo próprio estado, ou com que defendia a educação de jovens e crianças pela proteção à natureza ainda podem nos inspirar na luta por justiça ambiental e pela difusão de uma postura responsável para com a biodiversidade que nos cerca. 
Como Roessler fez muitas vezes, podemos e devemos cobrar atitudes corretas de políticos e de empresas que, muitas vezes, usam a palavra “sustentabilidade” – hoje extremamente vulgarizada – como uma estratégia de promoção de suas imagens, e não realmente preocupadas com a manutenção da vida em todas as suas formas.
De forma contundente e apaixonada, seus escritos apresentavam os problemas, denunciavam transgressões e sugeriam soluções para acabar com a devastação. Seu mérito foi justamente oferecer informações sobre a situação ambiental do Rio Grande do Sul naquele momento, na esperança de conscientizar as pessoas da necessidade de transformação. Com toda a destruição ambiental a que estamos assistindo, principalmente nos recentes episódios de morte de toneladas de peixes no seu querido Rio dos Sinos, podemos perceber que essa era uma tragédia anunciada por Roessler. 
Cabe perguntar: ainda dá tempo de ouvi-lo?

FONTE PESQUISADA:
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4208&secao=380

                                  Henrique Luiz Roessler

Henrique Roessler é um destes muitos heróis anônimos do Brasil. Feito Zumbi e Aimberê, ele também lutou pela nossa Terra. Sua obra maior: A defesa da natureza. Nos idos de 1939 começa a atuação deste gaúcho nascido em 1896.
Trabalhando como voluntário, obtém o posto de delegado de caça e pesca, movendo intensa ação fiscalizadora, apoiado por uma rede de mais de 400 colaboradores do sul do país. Fez muitos amigos e inimigos. Estes últimos conseguiram que fosse demitido do cargo por exercê-lo gratuitamente.
Em resposta, funda em 1.º de janeiro de 1955 a União Protetora da Natureza (UPN), primeira entidade ecológica brasileira. Já em 1953 ele havia criado o Juramento de Proteção à Natureza e passado a publicar artigos no Correio do Povo, atividade que manteve até 1963, quando faleceu.
Antes disso, perdeu parte do pé em armadilha promovida por caçadores. Seu exemplo frutificou. Muitas entidades ecológicas, começando pela Agapan, seguiram seu exemplo. Entre ela, o Movimento Roessler para Defesa Ambiental, de Novo Hamburgo/RS.

Sua obra foi resgatada no livro O Rio Grande do Sul e a Ecologia. Seu nome batiza hoje vários logradouros, incluindo praças, ponte, parques e a própria Fundação de Proteção Ambiental do Rio Grande do Sul (FEPAM).





Henrique Roessler e sua Luta dentro de uma Perspectiva Histórica


Por Arno Kayser

Por ter nascido no final do século passado, Henrique Roessler teve a oportunidade de conviver com a natureza gaúcha relativamente intacta. O que pode ser perfeitamente visto nos trabalhos de Balduíno Rambo, pesquisador contemporâneo e conterrâneo de São Leopoldo, que, trabalhando a campo nos anos 20 e 30 escreveu um dos livros fundamentais das Ciências Naturais gaúchas: “A Fisionomia do Rio Grande do Sul”.
Este trabalho é uma continuidade dos trabalhos de Lidmann e Saint-Hilaire e descreve um tempo em que a paisagem natural era marcada pela pecuária extensiva. As florestas de Araucária e as matas do Alto Uruguai ainda estavam de pé em sua maioria.
São os tempos da doutrina positivista de Borges e uma tecnologia humana disponível no estado com pouco impacto ambiental. O que foi muito bem retratado por José Lutzenberger (pai do ecologista) em suas cenas gaúchas. Neste ambiente é que viveu e cresceu o menino jovem Roessler. Tempos de contato com uma natureza rica e preservada que permitia coisas como beber água direto do rio do Sinos, em plena rua da margem, bem no centro de São Leopoldo, onde ele vivia com os pais.
Com a década de 20 e 30 inicia um novo ciclo na economia brasileira. É o início da industrialização no país, calcada no capital acumulado pelos barões do café e na grande massa de imigração estrangeira e européia que trouxe mão de obra qualificada. No Vale do Sinos também ocorreu o mesmo fenômeno.
Neste tempo é que Pedro Adams Filho monta as primeiras fábricas modernas de calçados baseadas no uso de máquinas importadas movidas pela energia elétrica da usina pioneira da cascata de São Miguel (construída em 1916). Máquinas estas importadas apoiadas pela política nacionalista de Getúlio Vargas.
Paralelo a isto ocorre o período de grande devastação florestal visando num primeiro momento a exploração do pinho nativo e depois a expansão agrícola até o rio Uruguai para cultivo de trigo e mais tarde de soja para substituir as importações no período da 2ª Guerra Mundial.
Roessler denuncia a existência de mais de 1500 serrarias operando no Estado nesta época. Este fato produziu uma grande modificação na paisagem gaúcha e os primeiros sinais de poluição e expansão urbana desordenada na grande Porto Alegre. Tempo em que se começou a deixar de tomar banhos no Guaíba, por exemplo.
Foi contra estes efeitos que Roessler se voltou. Não é à toa que o seu trabalho oficial começa em 1939, como delegado de caça e pesca e posteriormente na UPN – União Protetora da Natureza. Pode-se ver isto claramente nos artigos desesperados que começou a produzir na segunda metade dos anos 50 via Correio do Povo Rural. Ali este processo é claramente apontado em artigos sobre a devastação florestal, caça, denúncias da poluição, lixo e esgotos. Ele combateu o primeiro ciclo de industrialização do país voltada para um desenvolvimento nacionalista que marcou os governos populistas dos anos de 30 a 50 desde Getúlio até JK.
Roessler não chegou a ver a segunda parte deste processo que com os governos militares foi implantada. É o período de abertura da economia ao capitalismo estrangeiro. Nos anos 60 começa a operação Tatu, que, patrocinada pela Fundação Rockfeller, introduz o calcário, trator, adubos químicos, monoculturas de exportação e agrotóxicos no campo. Acompanha o fenômeno uma grande migração campo-cidade que busca trabalho na indústria nacional emergente nos grandes centros econômicos gerandos as “Monstrópolis”, que Roessler previu com todos os problemas de poluição, esgoto e caos urbano.

No seu Vale amado, começa o ciclo de exportação de calçados em 1969 que liquidou definitivamente com o rio do Sinos. No interior, a paisagem foi profundamente modificada. Só nos anos 80, este fenômeno começou a ser revertido graças ao intenso trabalho dos herdeiros de Roessler que, iniciando pela Agapan em 1971, se multiplicaram no Estado, gerando novas gerações de ecologistas. Fenômeno que não é só gaúcho, mas mundial. Roessler o acompanhava no seu tempo via material que recebia das instituições conservacionistas da Alemanha. Hoje em dia as novas gerações fazem o mesmo muitas vezes via Internet.
Os tempos mudaram, mas muitos dos problemas ainda precisam ser enfrentados. O inimigo agora vem sob a forma de internacionalização da economia, da biotecnologia e outros aparatos. O Movimento ecológico não pode parar se quiser permanecer fiel aos seus antecessores. 

FONTE:
 http://roessler.org.br/personalidades/henrique-luiz-roessler/

Site Planeta Rei

O site Planeta Rei tem uma lista completa das 100 músicas mais tocadas de cada ano, nas rádios brasileiras, de 1904 até hoje, com link direto para vídeos do youtube. Vale a pena dar uma olhada, muito interessante.



Jacobina Mentz Maurer e o Movimento Mucker (III)

   VIDEIRAS DE CRISTAL - O Romance dos Mucker: 
Contrastes entre ficção e história

Tiane Reusch de Quadros1
 "As almas dos fiéis se assemelham a videiras de Cristal: fecundas nos verões
 luminosos mas frágeis e quebradiças quando cobertas pela geada no inverno." 
(Videiras de Cristal, Luiz Antônio de Assis Brasil,1990) 


Em Videiras de Cristal, de Luiz Antônio de Assis Brasil, temos uma parcela da história do Rio Grande do Sul mesclada com ficção. Embora o autor se utilize da História como pano de fundo, sabemos que a veracidade não é o principal objetivo de uma narrativa ficcional. 

ADORNO em sua obra Teoria Estética afirma que mesmo a obra de arte mais sublime adota uma posição determinada em relação à realidade empírica, ao mesmo tempo que se subtrai, ao seu sortilégio, não de uma vez por todas, mas sempre concretamente e de modo inconscientemente polêmico contra a sua situação à respeito do momento histórico (ADORNO, 1970, p. 16). Apesar do não-comprometimento da Literatura com a História, através da leitura da obra de Assis Brasil passamos a perceber a dimensão histórica da revolta dos Mucker. A partir disso, é possível iniciar um processo de resgate histórico, indo a algumas fontes e contrastando informações para obter ao menos uma noção de como teria ocorrido a tragédia do Ferrabraz. 

Até há algumas décadas, de acordo com GALVÃO E ROCHA (1996, p. 31), havia praticamente só uma fonte de consulta: o livro "Os Mucker", de autoria do padre jesuíta Ambrósio Schupp, que conta a história dos Mucker, como se estes fossem um bando de fanáticos, chefiados por um curandeiro e charlatão de nome Maurer e sua mulher, uma louca e analfabeta que se dizia reencarnação de Cristo, chamada Jacobina. Ainda de acordo com os autores, quando Luiz Antônio de Assis Brasil escreveu o romance "Videiras de Cristal" retratou a trama do Ferrabraz sob o enfoque do romance-ficção, mas seguiu, ainda assim, embora literariamente aprimorado, a linha seqüencial de Schupp.


Assis Brasil
 
 A importância da memória na construção da História 

A Literatura é capaz de trazer à tona fatos históricos que possam ter ficado esquecidos, deixados à margem por uma sociedade que não conserva a memória de seu povo. Grandes tragédias ocorridas no passado muitas vezes se transformam em relatos breves e desprovidos de emoção às vistas da História. De acordo com FÉLIX (2004), estudar memória é falar não apenas de vida e de perpetuação da vida através da história; é falar também nas memórias dos excluídos, daqueles que a fronteira do poder lançou à marginalidade da história, a um outro tipo de esquecimento ao retirar-lhes o espaço oficial ou regular da manifestação do direito à fala e ao reconhecimento da presença social2 

Muitas vezes a História conta os fatos partindo de um único ponto de vista, deixando de lado a voz de muitas pessoas envolvidas. FELIX (2004, p.41) esclarece que "o modo de seleção da história funciona de maneira diversa do modo de seleção da memória podendo, entre ambas, haver tensão e oposição". 
A memória não é considerada uma fonte totalmente confiável de informações pela História, pois as lembranças estão sempre em relação exclusiva com o indivíduo que viveu uma experiência, e isso pode fazer com que os relatos não correspondam fielmente à realidade, estando carregados de visões pessoais. Segundo a mesma autora, " A memória liga-se à lembrança das vivências, e só existe quando laços afetivos criam o pertencimento ao grupo, e ainda os mantém no presente. Não é o físico ou o territorial que permite a existência do grupo e, sim, a dimensão do pertencimento social, criado por laços afetivos que mantém a vida e o vivido no campo das lembranças comuns, geradora de uma memória social." (2004, p. 39) 

Por mais que versões pessoais dos fatos históricos não sejam imparciais, é necessário conhecer diferentes pontos de vista, pois a História não é construída por uma única voz. Como as vivências dos excluídos são, muitas vezes, carregadas de sofrimentos, ocorrem na memória zonas de sombras, de silêncios e não-ditos. Esses discursos são decorrentes da angústia de não encontrar escuta, demostrando o medo dos indivíduos e dos grupos sociais de serem punidos ou de serem mal-entendidos. É essa fronteira entre o dizível e o não-dizível que separa a existência de uma memória coletiva organizada de uma sociedade que é majoritária ou de um Estado que deseja se impor, de uma outra "memória coletiva subterrânea" da sociedade civil dominada ou de grupos específicos.3 
Na revolta dos Mucker, muitas vozes ficaram silenciadas em função do massacre. A versão que conhecemos condena os supostos fanáticos e, infelizmente, Videiras de Cristal não privilegia "o outro lado" da História.

João Maurer e Jacobina Mentz Maurer

 Os "Mucker" 

Antes de tudo, para que possamos compreender a revolta dos "Mucker", é necessário sabermos onde se realizou esse conflito. GALVÃO E ROCHA, em sua obra "Mucker fanáticos ou vítimas?" trazem a localização geográfica do ocorrido: A leste do Rio Grande do Sul, no prolongamento da serra dos Dois Irmãos, fica o morro do Ferrabraz, com uma altura aproximada de 350 metros. No meio do caminho, entre o Hamburgerberg e o Ferrabraz, havia dois vilarejos: o Campo Bom e a Fazenda Leão (Leonerhoff). Da Fazenda Leão, vinte minutos a pé, adentrando no mato, na direção nordeste, chega-se à região chamada "Padre Eterno", sopé do morro Ferrabraz, palco de todo o drama dos Mucker. (GALVÃO E ROCHA,1996, p.32) 

A Fazenda Leão é hoje o desenvolvido município de Sapiranga. Quanto à significação de "Muckers", de acordo com GALVÃO e ROCHA (1996), embora apareça em alguns escritos a palavra "Muckers", trata-se de uma pluralização indevida. Por invariável, escreve-se "Mucker " tanto para singular quanto para plural. Dos mesmos autores, consta ainda que, pela definição de alguns filólogos alemães, Mucker deriva-se do verbo mucken (incomodar), e é uma palavra de muitos sentidos, entre eles: inconformado, contestador, descontente, vingativo, teimoso, casmurro, reclamante. É incorreta, para os autores, a tradução de fanático que alguns querem dar. Em Videiras de Cristal, a palavra muckers aparece com a conotação de "santo fingidos, santarrões e hipócritas". (ASSIS BRASIL, 1990, p. 108) 
De acordo com os historiadores, os Mucker não tinham, inicialmente, a intenção de se tornarem violentos. Foram a exclusão social e a falta de uma cultura mais esclarecida que acabou levando-os para o confronto, a revanche e a violência. 


Os muckers - Padre Ambrosio Schupp


O romance Videiras de Cristal e a História 


De acordo com a História, o episódio dos "Mucker" gira em torno da família Maurer, no qual o casal João Jorge e Jacobina criaram um círculo de interesses (João Jorge curava os doentes através das plantas e Jacobina lia a Bíblia e fazia pregações). A partir disso surgiu uma pequena sociedade, que muitos chamavam de seita. 

Além do casal Maurer, temos o pastor João Jorge Klein, que auxiliava Jacobina nas pregações. No confronto, destacam-se João Lehn (o inspetor de quarteirão), o subdelegado Cristiano Splinder e o delegado de polícia de São Leopoldo Lúcio Schreiner. Os confrontos com a Igreja Católica e Protestante e com as autoridades policiais se deu a partir de incêndios que foram realizados nas casas de famílias da região, o que resultou em muitas mortes. Os incêndios foram atribuídos aos Mucker, e isso causou a revolta da população e das autoridades da época. O grupo foi massacrado e recebeu a culpa pelos crimes da região. 

GALVÃO e ROCHA questionam a atribuição dos crimes aos Mucker: Há até hoje uma busca de por quês, a respeito de tantas mortes, incêndios e destruição. As pistas encontradas não são unânimes. Parece claro que a intolerância e a maldade de alguns, de lado a lado, está ligada a distúrbios genéticos de gerações passadas, descendência dos criminosos degredados. Os Mucker foram colocados contra a parede, e matar era a única forma de se defenderem. Outros invocam razões de vingança e punições contra dissidentes e perseguidores. Aí aparece o radicalismo e o fanatismo. E, por fim, há correntes que sustentam que o clima social entre os moradores da colônia, antes dos Mucker, era de isolamento e de uma certa intransigência, geradora, não raro, de inimizades. Nesse bojo, muitas mortes teriam sido praticadas por rivalidades, na certeza de que a culpa recairia nos Mucker.

A leitura da obra de GALVÃO E ROCHA é bastante elucidativa, uma vez que traz a dúvida quanto àquilo que até então tinha sido considerado uma verdade absoluta. A revolta dos Mucker é uma história com final trágico, em que muitas pessoas morrem por algo que, nos dias atuais, seria considerado apenas mais uma entre tantas manifestações de fé. 
Como os personagens centrais do episódio dos Mucker são João Jorge Maurer e sua esposa Jacobina, vejamos agora o que traz a obra Videiras de Cristal e o que dizem outras versões acerca dos mesmos. 


Videiras de Cristal de Assis Brasil


João Jorge Maurer e a cura através das plantas 


João Jorge Maurer, esposo de Jacobina Maurer, era admirado pelos moradores de sua região pelo seu dom de curar com as plantas: No princípio era apenas o Doutor Maravilhoso - Der Wunderdoktor! - como todos exclamavam, fascinados pela sua habilidade em curar com as plantas, embora fosse analfabeto e seus horizontes não alcançassem além do distrito de São Leopoldo. (ASSIS BRASIL,1990, p. 18)  Existem diferentes versões para o fato de João Jorge ter adquirido sua tão famosa habilidade, mas o que prevalece é o fato de ser sua esposa, Jacobina, a responsável pelo sucesso das curas: João Jorge Maurer perguntou uma vez a ela [Jacobina] por que as plantas nem sempre faziam efeito. Jacobina respondeu: "Farão efeito se você quiser me ouvir. O espírito natural pode te orientar. Ele fala pela minha boca". A partir desse dia, João Jorge explicava aos clientes que as receitas das poções não eram mais prescritas por ele, mas sim pelo Espírito Natural que falava por intermédio de Jacobina." (ASSIS BRASIL,1990, p. 55) 

Em "Os Mucker", SCHUPP narra a "vocação" de Maurer ao uso das plantas através de uma "voz misteriosa": Um dia - assim se referem os outros - estava João Jorge na roça, de machadinha em punho, "esmoiteava" e abatia a rudes golpes uma árvore após a outra. Era um dia quente, e Maurer sentia mais do que aliás o incômodo de seu trabalho. Mal tinha ele erguido o busto, para conceder a si mesmo uns momentos de descanso, quando ouviu uma voz: "João Jorge, por que tanto te atormentas? Vai, joga de ti a tua machadinha e faze o que te apraz! Nasceste para ser médico!" (SCHUPP, 1993, p. 39) 
De acordo com GALVÃO E ROCHA, João Jorge teria conhecido um homem, talvez um pastor ou um simples curandeiro, de nome Ludwig Buchorn, de quem aprendeu a usar a riqueza das plantas da região para fins medicinais. O fato verdadeiro teria sido que Buchhorn curou Jacobina de seus males crônicos e ensinou João Jorge a identificar ervas e aplicá-las adequadamente. Por ser o Ferrabraz uma colônia na qual havia falta de médicos (o mais próximo ficava em São Leopoldo, a três horas de carroça), surgiam, não só na região mas em muitos lugares do Rio Grande do Sul , curandeiros. João Jorge conhecia as necessidades de sua região e passou a receitar chás às pessoas que o procuravam. Além disso, João Jorge criou um pequeno hospital em sua casa, onde os doentes permaneciam até a cura. 
Ainda dos mesmos autores consta que as doenças mais comuns eram ferimentos decorrentes do trabalho no campo e cansaço proveniente do esforço físico. Pessoas de diferentes localidades do estado procuravam o "Wunderdoktor" segundo a pesquisa de GALVÃO E ROCHA, que criticam o posicionamento de SCHUPP quando este afirma que "o Brasil, rico em plantas medicamentosas, possibilita que até pessoas ignorantes conheçam grande número delas e as empreguem com vantagem" (GALVÃO E ROCHA, 1996, p. 39), pois o padre considerava Maurer um charlatão, sendo que este apenas tinha a intenção de suprir as deficiências de sua região. João Jorge não impunha pagamento, segundo os autores, e isso teria lhe rendido a simpatia dos vizinhos, muitos pacientes e, mais tarde, quando sua fama aumentou, resultou em invejas e incompreensões. 
João Jorge seria um pacifista que, mesmo quando perseguido e aprisionado, nunca apelou para a violência. Quando estava para iniciar o conflito, ele teria ido embora. Não porque fosse um covarde, como o acusavam, ou porque se sentia traído por Jacobina, mas porque seu objetivo era curar e não matar. 


Cartaz do filme "Os Mucker"


Jacobina Mentz Maurer, a "profetisa" 

A obra de Ambrósio Schupp traz uma Jacobina cruel, que se aproveitava da boa-fé dos seus seguidores para promover sua falsa superioridade sobre todos: "Dizes que sou o Cristo, e eu o sou. E estas palavras saídas da minha boca são palavras do Espírito de Cristo. Estou sofrendo e hei de sofrer, mas vou experimentar uma ressurreição. Quem o acreditar e ainda algo mais, esse terá a vida eterna." Jacobina conhecia o seu público. Sabia até que ponto podia confiar em sua credulidade. Tinha proferido suas palavras com uma autoridade e firmeza, que garantia de modo pleno o efeito por ela visado. O que ainda faltava à sua encenação sacrílega era a de ela agora escolher também, como Cristo o fizera, seus apóstolos, e passou a fazê-lo. (SCHUPP,1997, p. 61) 

A obra de Assis Brasil também traz uma Jacobina crente no seu dom, porém, esta é mais humilde do que a de Schupp, pois reconhece que é apenas uma mulher que se comunica com Deus: Porque o Senhor falava a Jacobina e Jacobina falava a Ele; uma comunhão perfeita entre o Espírito e a Carne, entre a divindade e o homem. Ela, Jacobina, não era nada, ninguém, uma pobre coitada como todos os que se ajoelhavam e sofriam naquela sala. Mas por um especial Dom, só compreensível pela extrema generosidade de Deus, ela ouvia de Deus tudo o que Ele queria dizer aos homens; confiassem nela, ainda que sua presença e sua voz de mulher parecessem tão fracas. (ASSIS BRASIL, 1990, p. 98 e 99) 

Quanto ao adultério de Jacobina, em Videiras de Cristal o fato aparece diversas vezes, mas sempre de forma sutil, sem negar nem afirmar, mas dando fortes indícios de que era verdadeiro. O fragmento abaixo traz um desabafo da personagem de João Jorge, o Wunderdoktor, quando este se sente sem valor diante de Jacobina: Minha angústia aumenta e toma sentido quando vejo tantos homens à volta de Jacobina, todos desejando devorá-la com os olhos cheios de cobiça. Não imagine que posso ignorar esse Rodolfo Sehn, forte e barqueiro, como ele procura estar junto dela, pronto para atender qualquer uma de suas vontades. E noto também como ela se entrega a essa adoração, gostando de enxergá-lo completamente rendido. (ASSIS BRASIL, 1990, p. 177) 
O fato de Jacobina ser amante de Rodolfo Sehn também é discutido pelos populares. O fragmento abaixo faz parte de uma conversa entre Martinho Kassell, opositor da seita e Jacó-Mula, fiel seguidor de Jacobina: 
 -Você, que é próximo de Jacobina, você deve falar para ela ter um procedimento que não deixe dúvidas. Eu sei que ela é muito carinhosa com todos que chegaram lá, beija a todos, mas parece que Rodolfo Sehn faz coisas que os outros nem imaginam.
- O quê?
-Vai para a cama com Jacobina.
 -Isso é mentira, Kassel! - Jacó-Mula ergueu-se, enérgico.(ASSIS BRASIL, 1990, p. 270) 
Cena do filme 'Os mucker'


A obra de Schupp traz claramente a afirmação de que Jacobina teria "trocado" de marido, pois João Jorge era muito fraco para acompanhá-la:  Apareceu, afinal, Jacobina. Começou-se com um cântico, e assim, o culto religioso iniciara. Findo o hino, dispôs-se Jacobina para a pregação. Em primeiro lugar anunciou que se havia divorciado de João Jorge e unido matrimonialmente com Rodolfo. E ela justificava esse passo, dizendo que não era justo que quem tivesse pouco do Espírito, se achasse à frente de uma causa, que tanto espírito requeria que o espírito de João Jorge havia se considerado fraco em demasia e que sua força tinha se passado a Rodolfo. (SCHUPP, 1993, p. 174) 

SCHUPP traz a versão de que não só Jacobina teria abandonado o marido, mas também teria esta aconselhado outros casais a divorciarem-se. Os autores GALVÃO E ROCHA revelam que tudo o que se falou sobre Jacobina e os Mucker são boatos para denegrir a imagem de Jacobina e seus seguidores. Jacobina foi amante de Rodolfo Sehn? Esta afirmação pode estar na linha dos tantos boatos desabonadores contra os Mucker. Rodolfo era fiel a Jacobina e a João Jorge (...). Ele era forte, jovem e de boa aparência; funcionava como uma espécie de guarda-costas de Jacobina. Foi quem a protegeu na hora da luta final. Daí a afirmar uma relação mais íntima entre eles carece de maiores fundamentações.

O fragmento abaixo, dos mesmos autores, sintetiza a opinião dos mesmos sobre o assunto: Tudo indica que, no início João Jorge Maurer foi a figura principal, passando a liderança, posteriormente, para Jacobina. Quais as práticas que foram adotadas pela seita? Já sabemos que não foram nomeados apóstolos, nem praticados atos de libertinagem; não mataram crianças nem sangraram supostas vítimas; não foram indivíduos desordeiros, mas pacatos colonos e não construíram uma fortaleza, como era voz corrente.

Conclusão 

A obra de Schupp traz a afirmação de que os Mucker matavam aqueles que não aderissem à seita, e é essa a versão mais conhecida da história, que faz com que pensemos que eles realmente foram criminosos: O furor dos Mucker não mais tinha qualquer consideração, seja quanto ao sangue, seja quanto à amizade. O maior dos crimes era para eles que alguém pudesse negar-se a entrar na seita ou - o que era ainda pior - retirar-se dela. Quem o tivesse feito, era candidato à morte, mesmo se se tratasse de um irmão carnal. (SCHUPP, 1993, p. 220) 

Videiras de Cristal apresenta a história dos Mucker baseada nessa versão. Mas a grande questão levantada pelos historiadores GALVÃO E ROCHA permanece, pois ainda há muito o que se verificar quanto à veracidade dos fatos. Os autores buscam responder se os Mucker eram fanáticos ou vítimas através de sua pesquisa, e chegam à conclusão de que antes de serem fanáticos, eles foram vítimas do egoísmo, da opressão, da intolerância, do abuso de autoridade e da incapacidade de negociar conflitos, apenas para citar alguns exemplos. A reação violenta empreendida pelos seguidores de Jacobina e João Jorge é um fato inconteste, incapaz de ser minimizado. O que precisa ser mensurado, todavia, são os estímulos, as ameaças, as agressões que os arrancaram da situação de pacatos colonos para uma posição de enérgicos defensores de um direito que julgaram usurpado e ofendido. Essa avaliação é toda a medida da história. (GALVÃO E ROCHA, 1996, p. 104) 

A leitura de uma obra como Videiras de Cristal nos instiga a saber mais sobre a nossa história. No entanto, é preciso ter o cuidado de não procurar uma única fonte de consulta em busca da verdade, pois a versão dos fortes é freqüentemente privilegiada em relação a versão dos fracos, dos excluídos. Algumas pessoas, ao lerem uma obra literária, tomam como verdadeiros os fatos por ela apresentados, e é preciso estar alerta quanto a isso. O autor ficcional não tem comprometimento com a História, mas utiliza-se dela como melhor lhe aprouver. Os Mucker não são os monstros que a história pintou e, por isso, é necessário que o leitor, tanto da Literatura quanto da História possua um olhar crítico diante dos fatos, pois a Literatura também se inspira na História e, infelizmente, nem sempre difunde os acontecimentos de forma positiva. 

Cena do filme 'Os mucker'


BIBLIOGRAFIA:
ADORNO, Theodor. Teoria Estética. São Paulo: Martins Fontes,1970.
ASSIS BRASIL, Luiz Antônio de. Videiras de Cristal. - O romance dos Muckers. 5.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997.
FÉLIX, Loiva Otero. História e Memória: a problemática da pesquisa. Passo Fundo: Universitária, 2004. GALVÃO, Antônio Mesquita;
ROCHA, Vilma Guerra da. Mucker - fanáticos ou vítimas? Porto Alegre: Est, 1996.
SCHUPP, Ambrósio. Os "Mucker" - A tragédia histórica do Ferrabraz. 4. ed. Porto Alegre: Martin Livreiro,1993.

1 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Letras - Nível Mestrado / Estudos Literários da UFSM 2 FELIX,2004, p. 42. 
3 POLLACK in FÉLIX, 2004, p. 46. 
4 GALVÃO E ROCHA,1996, p.80. 
5 GALVÃO E ROCHA, 1996, p. 76. 
6 GALVÃO E ROCHA,1996, p.104.

FONTE  PESQUISADA:

Revista nº 7 em:  http://w3.ufsm.br/grpesqla/revista/num07/art_03.php

terça-feira, 23 de julho de 2013

O Caso Roswell (3)

A versão dos pesquisadores e cientistas 
 
Em 14 de junho de 1947, um fazendeiro chamado Mac Brazel encontrou um conjunto de destroços incomuns em sua propriedade, próxima à cidade de Roswell, no estado americano do Novo México. A princípio, Brazel não lhes deu importância, já que estava acostumado a encontrar restos de balões meteorológicos. 
Dez dias depois, porém, o piloto Kenneth Arnold relatou o primeiro encontro com discos voadores da história. Enquanto sobrevoava os estados do Oregon e Washington, Arnold avistou o que seriam aeronaves voando em formação e descreveu seu movimento como o de pedras ou discos deslizando na superfície de um lago. 

 

 A cobertura da imprensa logo cunhou o termo "disco voador", dando início a uma paranóia nacional, que resultou em quase mil relatos de avistamentos de discos voadores nas semanas seguintes. 
 Ao ir até a cidade e ficar sabendo dos "discos voadores", Brazel decidiu reexaminar o que tinha encontrado semanas atrás. Brazel julgou que o material prateado dos destroços tinha uma aparência muito futurística para ser um simples balão meteorológico e avisou o xerife da cidade. O xerife, por sua vez, entrou em contato com a base aérea do Exército em Roswell (sede do 509th Bomb Group - a unidade que havia sido criada especialmente para o bombardeio nuclear do Japão ao final da Segunda Guerra Mundial), que enviou dois oficiais de inteligência, o Major Jesse Marcel e o Capitão Sheridan Cavitt.

                                  Manchete

O Major Marcel recolheu o material e o transportou para a base de Fort Worth, para uma análise mais detalhada. Enquanto isso, no dia 8 de julho, a base de Roswell (comandada pelo Coronel William Blanchard) divulgou uma nota oficial informando que havia tomado posse dos destroços de um disco voador, o que imediatamente motivou uma manchete no jornal local, o Roswell Daily Record, - "RAAF [Roswell Army Air Field] captura disco voador em rancho na região de Roswell". A notícia também relatava que um casal da região havia avistado o que pensava ser um disco voador alguns dias antes.
 Enquanto isso, na base de Fort Worth, os destroços foram rapidamente identificados como papel alumínio, elásticos de borracha, fita adesiva e compensado - os restos de um dispositivo empregado em balão meteorológico. O General Roger Ramey, comandante da 8a. Força Aérea (a quem a base de Roswell era subordinada) chamou a imprensa e apresentou suas conclusões, permitindo que parte do material fosse fotografada com o Major Marcel. A foto de Marcel com o material apareceu nos jornais do dia seguinte, junto com a notícia de sua identificação.


 Marcel e os destroços

 Mas a história original já havia corrido o resto do país (e até outros países), antes que a notícia da identificação fosse publicada. O escritório do xerife, a base de Roswell e o jornal local foram inundados de ligações, em busca de notícias sobre o disco voador. Eventualmente, o desmentido teve efeito, fazendo com que a história sumisse dos jornais (apesar de Brazel ainda defender que o que havia encontrado não podia ser um balão meteorológico). Ao final do ano, o incidente de Roswell havia sido esquecido e ficaria registrado apenas como um fiasco de relações públicas do Exército americano e uma nota de rodapé na história da ufologia. Até o ano de 1978... 

FONTE:  http://www.projetoockham.org/misterios_roswell_1.html

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O Caso Roswell (2)

O Caso Roswell na versão dos ufologistas  

Considerado o maior marco da Ufologia Mundial o caso Roswell foi o mais impressionante relato e a mais absoluta prova do encobrimento do assunto Ovni do mundo. O caso já faz mais de 50 anos e continua sendo referencia no mundo.


Quarta-feira, 2 de Julho, 21:50h
O casal Wilmot está sentado em sua varanda, num bairro tranqüilo em Roswell, quando observa um grande objeto oval cruzar o céu. O objeto estava incandescente e voava em alta velocidade no sentido nordeste. Ao mesmo tempo, William Woody e seu pai vêem no céu um objeto brilhante indo em direção norte. Durante uma tempestade, o rancheiro MacBrazel e seus vizinhos ouvem uma explosão nas proximidades de onde moram, há algumas milhas de Roswell.

Quinta- Feira, 3 de Julho
Pela manhã, Brazel sai à cavalo para verificar os danos causados pela tempestade. Surpreende-se ao ver um campo de destroços de aproximadamente 4km quadrados, onde encontra lâminas de um metal muito maleável, mas que sempre retornava à forma original. Vê também bastões de matéria análogo ao basalto - objetos altamente resistentes, impossíveis de serem cortados ou queimados. Brazel percebe que há sinais impressos nos objetos: desenhos de cor lilás, parecendo com algum tipo de escrita oriental, talvez hieróglifos.


Sexta - Feira, 4 de Julho
Feriado nacional. Brazel leva alguns destroços ao seu galpão, entre eles há uma peça de, aproximadamente, 3m. Suas ovelhas não querem passar pelo campo de destroços. Os animais parecem sentir que algo estranho aconteceu no local. À noite, Brazel encontra alguns amigos, que o aconselham a contar tudo para as autoridades.

Domingo, 6 de Julho, 8:00h
Pela manhã Brazel vai até o escritório do xerife George Wilcox em Roswell. Leva alguns destroços na caminhonete. Ao ver os pedaços da suposta nave, o xerife envia alguns de seus subordinados para a fazenda para examinar o local do acidente. Chegando lá, não encontram mais os destroços, mas somente uma camada vitrificada sobre a terra. No mesmo dia da visita ao xerife, Brazel concede uma entrevista à 
radio local.

Domingo, 6 de Julho, 13:00h
O major Jesse Marcel vai ao escritório do xerife em Roswell com a finalidade de se encontrar com Brazel. Olha o material e decide visitar o rancho em que aconteceu o acidente. Seu superior, o general Roger Ramey, é informado sobre o achado e se comunica com o Pentágono.

Domingo, 6 de Julho, 17:00h
Chegando ao rancho, Brazel mostra os destroços no galpão para o major Marcel, que os examina com um contador Géiser. O aparelho não capta sinais de radiatividade nos objetos. Enquanto Marcel e seus homens pernoitam no galpão, o Pentágono organiza uma busca sigilosa no local da queda.

Domingo, 6 de Julho, 19:00hOs oficiais localizam os destroços e seus ocupantes. Imediatamente chegam ao local varias equipes de resgate e escavação. Também participa do processo o arqueólogo Cury Holden, que ao fazer pesquisas sobre povos pré-colombianos, descobre os destroços por acaso.

Segunda - Feira, 7 de Julho
Pessoas das proximidades encontram objetos pelo chão, como pequenos bastões de 1cm, com gravações parecidas com hieróglifos. Ninguém conseguia decifrar as inscrições, tampouco descobrir o tipo de material de que eram feitas as peças. Encontram também um pergaminho muito comum, além de fragmentos de folhas parecidas com alumínio que não se amassavam. O mais curioso de tudo é que os objetos parecem ser indestrutíveis, resistindo a todos os testes.

Segunda - Feira, 7 de Julho, 9:00h
O Pentágono ordena o bloqueio de todas as entradas e vias de acesso a Roswell. Os auxiliares do xerife Wilcox cercam o rancho Foster, não deixando ninguém passar.

Segunda - Feira, 7 de Julho, 13:00hGlenn Dennis, da funerária Ballard, em Roswell, recebe um comunicado de um dos oficiais da base:


" - Qual o tamanho dos caixões herméticos que o senhor tem? - São pequenos? - Há estoque?".
Dennis fica perplexo e quer saber se houve algum tipo de desastre nas proximidades. Diz que não tem estoque e que demoraria umas 24 horas para conseguir o material.

Segunda - Feira, 7 de Julho, 14:00h
No Pentágono, os generais Curtiss Lemay e Hoyt Vandenberg tem uma conversa sobre os UFOs, mais precisamente sobre o acidente de Roswell. Enquanto isso, o General Nathan Twinning (um dos membros do MJ-12), comandante e técnico de informações, muda seus planos e prepara uma viagem para o Novo México.

Segunda - Feira, 7 de Julho, 14:30hO oficial da base liga novamente para Dennis. Desta vez, lhe pergunta como preparar corpos que ficam muito tempo no deserto e se os produtos empregados poderiam modificar a química dos corpos. Dennis recomenda o congelamento dos cadáveres e oferece assistência, recebendo a seguinte resposta ofical :


" - Não se preocupe, só estamos querendo saber isso a fim de nos prepararmos para casos futuros".
Dennis aceitou a resposta, mas continuou intrigado. Mais tarde, ele conheceu um soldado que havia se acidentado no resgate e o levou a enfermaria do hospital mais próximo. Dennis estaciona sua ambulância ao lado de um veiculo da base e vê diversos pedaços de metal lá dentro. Ao entrar no hospital encontra uma amiga enfermeira, que sai de uma das salas de exame e exclama:

" - Suma daqui, senão você vai ter um aborrecimento gigantesco".
Segunda - Feira, 7 de Julho, 20:00h Grande parte dos destroços já haviam sido recolhidos e examinados. O major Marcel vai à base, pega alguns pedaços de destroços e leva para casa para mostrar a sua esposa e filhos.

" - Isto não é deste mundo. Quero que vocês se lembrem disso por toda vida", exclama Marcel.

Terça - Feira, 8 de Julho, 6:00h
Reunião particular entre o coronel Blanchard e Jesse Marcel, que mostra a ele as partes dos destroços achados no Rancho Foster. Meia hora mais tarde, acontece uma outra reunião secreta no escritório do coronel Blanchard, desta vez com a cúpula da Força Aérea.


Terça - Feira, 8 de Julho, 9:00h  O xerife Wilcox procura pelo pai de Dennis, que é seu amigo.
" - Seu filho parece estar em apuros", advertiu.
" - Diga a ele para não declarar nada do que viu na base".

Terça - Feira, 8 de Julho, 9:20h
Blanchard resolve lançar um comunicado à imprensa:

" - Os muitos boatos acerca dos discos voadores ontem se tornaram realidade quando o assessor de imprensa divulgou que o 509 Grupo de Bombardeiros da Força Aérea teve a sorte de chegar a possuir um disco - tudo isso graças à cooperação de um rancheiro local e de um xerife".

E o relatório do general continua:

"O objeto aterrizou em um rancho perto de Roswell na ultima semana. Como o rancheiro não tem telefone, guardou o disco até poder informar ao xerife, que por sua vez, notificou o major Jesse Marcel. Imediatamente, entramos em ação e o disco foi resgatado do rancho, sendo depois inspecionado na Base Aérea de Roswell e encaminhado a uma repartição superior".

Terça-feira, 8 de julho, 11:00 h                           O tenente começa a distribuir o comunicado à imprensa. Ele visita as estações KGL e KSWS, depois vai aos jornais locais Roswell Daily Record e Morning Dispatch, que publicam no mesmo dia a informação. As emissoras de rádio passam o comunicado para a agência Associated Press, que se encarrega de distribuir a notícia para o mundo. Algumas horas depois, o escritório do xerife Wilcox recebia telefonemas de todas as partes do mundo, como Roma, Londres, Paris, Alemanha, Hong Kong e Tóquio. Porém, este clima de liberdade de expressão não durou muito tempo. Frank Joyce, da emissora KGFL, remete um telex para a agência United Press International (UPI) e, como resposta, recebe um comunicado de Washington desmentindo o caso. Parte do telex informava o seguinte:

"Atenção. Aqui FBI. Finalizar relato. Repito: finalizar relato, assunto de segurança nacional. Aguardar.".


Terça-feira, 8 de julho, 11:00 h
Dennis recebe um chamado de sua amiga enfermeira:


" - Eu preciso falar com você. Você deve fazer um juramento sagrado de nunca mencionar o meu nome, senão eu terei enormes dificuldades...".
Dennis então promete à enfermeira que jamais diria nada a ninguém. Ela começa a contar tudo o que sabe sobre o caso: dois médicos pediram a ela para que fizesse apontamentos enquanto executavam uma autópsia provisória. Então ela desenhou o que tinha visto: uma cabeça com olhos fundos e grandes, pequenos orifícios nasais, boca fina, sem pêlos, braços compridos e finos. As mãos tinham 4 dedos cada, que terminavam com orifícios, parecidos com ventosas de polvos. Ela também descreve que os seres não tinham cabelos e sua pele era preta. A enfermeira diz ter visto 3 corpos, sendo que estavam muito mutilados, provavelmente por coiotes. Os corpos tinham somente 1,20 m e exalavam um terrível mau-cheiro. Os médicos chegaram a desligar o sistema de ar condicionado com medo de que o cheiro se alastrasse por todo o hospital. Mais tarde, a autópsia foi transferida para o hangar de aviões.

Terça-feira, 8 de julho, 11:30 h  A enfermeira se despede de Dennis. Algumas hora depois, fica sabendo que será transferida para outro continente, provavelmente para Inglaterra. Após algumas semanas, escreve para Dennis contando as novidades. O amigo responde a carta e, em vez de uma resposta, recebe em sua casa um envelope com o carimbo "Falecida".

Terça-feira, 8 de julho, 12:00 h  No aeroporto de Roswell pousa um avião de Washington trazendo uma equipe especial de técnicos e fotógrafos. Os destroços do UFO são levados para a base aérea de Wright Patterson, em Ohio, num avião pilotado pelo capitão Oliver Popper Handerson. Ao embarcar, o capitão vê 3 cadáveres extraterrestres no hangar guardados em gêlo seco.

Terça-feira, 8 de julho,12:30 h
 Fotógrafos da imprensa americana vão ao rancho Foster e se encontram com Brazel, que lhes faz a seguinte declaração:

" - Foi um erro notificar as autoridades. Se acontecesse novamente, eu não diria nada, porque isso é uma bomba".

Os fotógrafos também encontram alguns oficiais que vasculham o campo de destroços. Percebem que ninguém tenta impedi-los de fazer o trabalho.

Terça-feira, 8 de julho, 16:30 h       Voltam para Roswell, onde o xerife Wilcox lhes comunica que estão proibidos de fazer qualquer manifestação sobre o que viram. Enquanto isso, os militares também deixam o rancho, levando Brazel para Roswell. Chega à base um avião carregado com destroços. Logo após, Marcel levanta vôo com os destroços para o Forth Worth. Chegando lá, mostra o material para o general Ramey. No Rancho Foster, no lugar dos destroços são colocados pedaços de um balão meteorológico com um aparelho de orientação pelo radar no chão. É montada uma grande farsa, em que Marcel é obrigado a admitir que o acidente com um UFO não passava de um engano. O que antes era um disco voador, passou a ser visto como um simples balão.

Terça-feira, 8 de julho, 18:30 h                                                          

Um memorando interno da polícia federal comunica ao FBI que a história do balão meteorológico não corresponde aos fatos. Brazel é intimado a comparecer na base de Roswell, onde recebeu orientações para desmentir tudo à imprensa, Brazel é obrigado a ouvir coisas como:

" - Olha meu filho, guarde esse segrêdo com você, senão ninguém sabe o que pode lhe acontecer".
A esta altura, já circulavam em Roswell os mais absurdos boatos. Um deles dizia que os homens vindos de Marte se acidentaram no local e que, inclusive, um deles ainda permaneceu vivo por um bom tempo, gritando como um animal até a morte. Outro destes boatos dizia que um dos seres escapou do esquema de segurança e correu toda a noite pela cidade.

Quarta-feira, 9 de julho, 8:00 h

O coronel Blanchard sai de Roswell e visita o lugar da queda. Sua intenção é supervisionar o término do trabalho de resgate, pois logo entraria em férias. Quarta-feira, 9 de julho, 8:30 h Três aviões de transporte C-54 são carregados com destroços. A ação é acompanhada por inspetores de Washington, que supervisionam o carregamento. As aeronaves então levantam vôo em direção à Base Aérea de Kirtland, onde se encontra o general Twinning.

Quarta-feira, 9 de julho, 9:00 h

Walt Whitmore e seu repórter Jud Robert tentam ir ao Rancho Foster, mas não conseguem devido aos bloqueios dos militares. Curiosos de vários pontos do país - além de muitos repórteres - também tentam sem sucesso chegar ao local.

Quarta-feira, 9 de julho, 10:00 h

Pousa na base um avião de Washington trazendo um representante oficial do presidente Truman. Em Washington, o presidente recebe o senador Carl Hatch, do Novo México.

Quarta-feira, 9 de julho, 12:00 h

Os cadáveres dos ocupantes dos UFOs são preparados para o transporte. Oficiais da Base Aérea de Roswell visitam jornais e emissoras de rádio. O objetivo da visita era recolher cópias de um relatório para a imprensa do tenente Haut.

Quarta-feira, 9 de julho, 14:30 h

Em uma reunião de oficiais, o Ministério da Defesa comunica ao FBI que os discos voadores não são de responsabilidade nem do Exército nem das Forças Armadas.

Sexta-feira, 11 de julho

Tem início a operação Corretivo Mental em todos os soldados que trabalharam na operação de resgate. São conduzidos em grupos a um pequeno recinto, onde um oficial lhes explica:

" - ... isto foi uma questão de segurança nacional e está sob o mais severo sigilo. Não falem a ninguém sobre o que aconteceu. Esqueçam tudo o que viram"

Terça-feira, 15 de julho
MacBrazel é advertido mais uma vez, mas pode finalmente retornar ao rancho. Embora antes da queda fosse muito pobre, retornou para sua terra com uma caminhonete nova e com dinheiro suficiente para comprar uma casa e uma fornecedora de gelo.

Epílogo da Operação
No prazo de um mês, todos os participantes da operação são transferidos para outras bases. Em setembro, o professor Lincoln La Paz procura determinar a estrutura do objeto acidentado e afirma veementemente que os destroços são de uma sonda extraterrestre não tripulada. Em 24 de setembro, o presidente Truman cria a ultra-secreta operação Majestic 12, com a finalidade de explorar o que acontecera em Roswell. Já no fim de outubro de 1947, o general Schulgen do Pentágono faz um memorando secreto, incumbindo às Forças Armadas a função de compilar todas as informações existentes sobre os discos voadores. Essa é uma forte evidência de que o governo mentiu quando disse que o objeto acidentado era um balão meteorológico.

Setembro de 1949
Um parente de MacBrazel conta, num bar, que durante os dois últimos anos a família continuou encontrando vestígios da nave acidentada. No dia seguinte, foi procurado por militares, que trataram de confiscar as peças. Já em 1978, o ufólogo e físico nuclear Stanton Friedman localiza Jesse Marcel e o entrevista sobre o Caso Roswell. O silêncio finalmente estava rompido. Nos 16 anos seguintes foram editados 5 livros, baseados no depoimento de testemunhas do caso. A imprensa pôde também se manifestar, de forma que os jornais e emissoras de rádio e TV não pararam mais de explorar o assunto.

Nova Testemunha de Roswell
O jornal inglês The Observer publicou matéria com declarações sobre uma nova testemunha do Caso Roswell, desconhecida até então.

Anne Robbins acompanhou de forma indireta todas as ocorrências do mais famoso dos incidentes ufológicos, ocorrido há mais de 50 anos. Ela era esposa do então sargento Ernest Robert Robbins, falecido em 2000, que ajudou a resgatar três extraterrestres depois que o disco voador em que estavam se acidentou. Um deles ainda estava vivo.

Aos 84 anos, Anne conta que nunca desejou que sua história se tornasse pública. Segundo ela, o marido morreu jurando que os destroços encontrados naquela noite não eram de um mero balão, como alega a Força Aérea Norte-Americana (USAF) . Ela conta ainda que na noite do incidente, Robbins recebeu ordens para que comparecesse na base militar, de onde só sairia 18 horas depois, contando uma “história confusa sobre um disco voador”. Quando voltou, estava com o uniforme enrugado e molhado porque teve que mergulhar num tanque de desinfecção na base.

Robbins nunca falou detalhadamente sobre o assunto, e a cada nova investida da família, alegava sigilo militar. Das poucas informações que deu, comentou apenas que a nave era semelhante a dois pratos juntos, tinha diversas janelas e três tripulantes. Anos depois, chegou a desenhá-los. Tinham cabeça protuberante, olhos grandes e negros, sem nariz ou boca, a pele era marrom.

“Ele me contou essas coisas com muita frieza e franqueza. Não teria mentido para mim por 56 longos anos”.

Entretanto, Anne só se convenceu da veracidade dos fatos quando visitou o local exato da queda e viu uma mancha no chão, muito parecida com vidro preto, como se o chão tivesse sido queimado. A última vez que Robbins tocou no assunto com a esposa foi há vários anos, quando assistiam a um documentário sobre o tema.

Fonte: Revista UFO 88

 



25 de Junho 1997
Com o caso Roswell fazendo 50 anos, o governo dos Estados Unidos dá uma nova descupa para o que as testemunhas viram, segundo eles, bonecos que eram soltos de pára-quedas teriam confundido os aficionados por discos voadores com corpos de extraterrestres. Em 1994, a Força Aérea divulgou um relatório sobre o incidente de Roswell segundo o qual a suposta nave seria um balão secreto para detectar testes nucleares soviéticos.

FONTE: 
http://arquivoconfidencial.blogspot.com.br/2005/10/1947-o-caso-roswell.html terça-feira, outubro 04, 2005