Para entender e compreender melhor o #MoViMeNtOMuCKeR -
A história da humanidade foi sempre uma história de resistência, superação e luta. Luta pela sobrevivência, pela adaptação aos obstáculos da natureza, pelo direito à terra, pela liberdade de crença e de opção religiosa entre tantas outras...
Ferrabraz - Crédito foto Fabio Haag |
Jacobina Mentz Maurer era filha de André Mentz e de Maria Elisabeth Müller, imigrantes alemães. Os avós paternos de Jacobina, Libório Mentz e Madalena Ernestina Lips, chegaram ao Brasil no navio Germânia na primeira leva de imigrantes alemães que rumava para o Rio Grande do Sul, em 1824. Eram naturais de Tambach-Dietharz, na Turíngia, no centro da Alemanha (ainda antes da unificação alemã).
Foram recebidos pelo imperador Dom Pedro I e pela imperatriz Leopoldina que subiram a bordo do navio no porto do Rio de Janeiro. O avô de Jacobina Libório Mentz, chegou ao Brasil, já idoso, recebeu especial atenção da Imperatriz que lhe disse: - 'O senhor realmente é corajoso, em idade tão avançada, trocar uma pátria por outra. Homens tão bravos certamente são de grande valia para nós'.
Libório Mentz trouxe consigo uma carta enviada pelo poeta "Herr" Goethe a imperatriz Leopoldina. Em retribuição e reconhecimento D. Pedro I e a Imperatriz Leopoldina ordenaram que o lote número 01 da Colônia de Hamburgo Velho fosse concedido à família Mentz.
Essa família Mentz (Maenz) trouxe consigo um histórico de envolvimento em dissidências e disputas religiosas ocorridas na região onde viviam. Imigraram para o Brasil fugindo de perseguições políticas e religiosas. Os avós de Jacobina e mais algumas poucas famílias afastaram-se da igreja luterana, das escolas, cultos e outros serviços estabelecendo uma comunidade religiosa conservadora e independente, uma dissidência que ficou conhecida como "pietista". Essa postura culminou na perseguição a essas famílias que foram pressionadas a renegar suas crenças ou emigrar.
A maioria das famílias voltou atrás mas o avô de Jacobina decidiu embarcar para o Brasil. Em seu encontro com a imperatriz Leopoldina, o avô de Jacobina confidenciou-lhe que viera para o Brasil fugindo de perseguição religiosa na Alemanha e a Imperatriz lhe garantiu que no Brasil ele e sua família teria garantida a liberdade de culto.
Meio século depois a garantia não se confirmou e os descendentes de Libório Mentz junto com os demais integrantes do Movimento Mucker foram difamados, perseguidos, acusados e finalmente massacrados. Os sobreviventes foram presos, julgados e condenados. O movimento mucker, mesmo sendo anterior, remete e lembra os acontecimentos do arraial de Canudos de Antonio Conselheiro no sertão da Bahia. Alguns anos após a condenação numa revisão do processo todos os Mucker presos foram libertados. Mas a vergonha, a perseguição e a violência acompanharam os Mucker e seus descendentes ao longo dos anos.
Jacobina Mentz Maurer nasceu em Hamburgo Velho duas décadas após a chegada dos pais e avós ao Brasil. Cresceu numa comunidade rural composta por imigrantes alemães luteranos e católicos. Os avós de Jacobina foram os responsáveis pela construção da primeira igreja protestante do sul do Brasil. O episódio Mucker é instigante e a cada ano novas pesquisas e publicações vão revelando novos aspectos dessa história. Resta muito ainda para ser pesquisado, descoberto e revelado.
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Nesse sentido o documentário do Memorial do Judiciário produzido em 2018, que apresentamos a seguir, é merecedor de todos os aplausos. Demonstra profissionalismo, dedicação e carinho com o tema apresentado de forma aberta e plural, sem preconceitos, sem culpa, sem medo. É um dos melhores trabalhos sobre a história de Jacobina Mentz Maurer e do #MovimentoMucker.
"Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS) - 10/06/2018 -
Em mais uma de suas reportagens especiais, o Justiça Gaúcha mostra a história do movimento sócio-religioso dos Mucker (séc. XIX). Jacobina Mentz Maurer e João Jorge Maurer têm papel central nesse marcante episódio da história brasileira, que teve como epicentro o Morro Ferrabraz, em Sapiranga/RS".
*** No segundo semestre de 2018 o Memorial do Judiciário reuniu essa e outras histórias na exposição interativa Mitos e Realidade. Foi uma grande oportunidade para explorar e conhecer casos levados a julgamento e que povoam o imaginário dos gaúchos.
Primeira parte: https://youtu.be/8iRxlZtoMjo
Segunda parte: https://m.youtube.com/watch?v=Amqziu46Urk
Terceira e última parte: https://www.youtube.com/watch?v=0PKnWtQr7BQ