Dylan, quer legalização da maconha, etc.
O escritor Eduardo Bueno quer injetar consciência
histórica em nossas mentes, refez a trajetória descrita por Jack Kerouac
no livro On the Road, defende a legalização da maconha e tem uma obra
incompleta sobre Bob Dylan arquivada na sua sala. E, no meio de tantos
causos, ele ainda resolveu partir para a ficção...
(...) Assim como desconstrói mitos sagrados, Eduardo subverte a crítica e
admite sem qualquer constrangimento que pagou mico no quadro do
Fantástico, em parte porque atribui ao programa problemas de edição e
não pôde dar o final cut que gostaria, sobretudo por acreditar que vale a
pena se expôr para atingir seus objetivos - entre eles não está a
grana, diga-se: ele não recebeu mais do que R$ 8 mil por programa, além
do crédito do livro do qual se basearam os textos, Brasil: Uma História -
A Incrível Saga de um País.
"Quem me critica [aproxima-se do gravador e
grita, como se tivesse falando para uma multidão] deveria ver o povo na
rua me perguntando se era verdade que Tiradentes não tinha cabelo nem
barba", desabafa o alvo predileto de historiadores inconformados com sua
abordagem da história e atuação na TV. "Me divido entre uma profunda
pena deles e de mim próprio por estar inserido nessa discussão e uma
angústia de não poder torná-la pública e efetiva", provoca. "Tenho
consciência de que seria muito cruel chamar esses caras para uma
discussão, mesmo porque os únicos historiadores que me interessam não
querem discutir comigo, porque entendem o que faço [cita sem pausa]:
Nicolau Sevcenko, Lili Schwarcz, Mary Del Priore, Max Justo Guedes,
Kenneth Maxwell, Leslie Bethell, eles sabem a grandeza e a 'pequenês' da
minha obra. Grandeza no sentido de que popularizou a história com uma
dimensão até então inédita, 'pequenês' por não se propor a ser uma
investigação historiográfica, embora tenha se tornado em muitos
momentos." (respondendo as críticas de historiadores inconformados com sua abordagem da história e atuação na TV)
Quando parece que Eduardo vai parar, engata uma quinta
marcha com um ar sério, e baixa a voz: "Nunca quis contar isso antes,
mas duas crianças, uma de 7 [sete!, levanta a voz] e outra de 8 anos
[oito!, levanta a voz], me disseram 'vou ser historiador por sua causa'.
Outras cinco pessoas me revelaram que 'nunca tinham lido um livro antes
na vida!' [aí ele gagueja de emoção verdadeira e não consegue falar
mais nada] O que eu vou querer mais? Vou discutir? Não vou, né?"
O autor dos livros sobre a história do Brasil colonial - A Viagem do
Descobrimento; Náufragos, Traficantes e Degredados; Capitães de Areia; e
A Coroa, a Cruz e a Espada - que já venderam exorbitantes 840 mil
exemplares se propõe a discutir a maneira como o passado influi no
presente e esboça o futuro. "A crise do Brasil é moral e ética por
sermos um povo de desterrados, transplantados, que não sabem de onde
vieram e nem pra onde vão" [eleva novamente o tom de voz e mira o
gravador]. "Se tu não sabes que tempos são estes, e não tens a menor
consciência histórica do lugar onde vives, és um joguete nas mãos de
alguma coisa que a teoria conspiratória te levaria a crer que é obra de
políticos. É preciso buscar uma consciência histórica maior para tu
poderes exercer teus direitos, tua cidadania."
FONTE PESQUISADA:
Revista Rolling Stone - Edição 14 - Novembro de 2007
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