Um ano já passou desde que o delegado evangélico, em surto místico, deu voz de prisão ao capeta, prendeu e arrebentou com a vida de sete inocentes. E como ficou?
*Duelo Paranóia: O delegado profeta e o curandeiro de Satã-
Desde que essa história explodiu na imprensa, em dezembro, uma pulguinha ficou coçando atrás das minhas orelhas. Os conflitos messiânicos como Canudos, Mucker, Monges Barbudos, Pedra Bonita, entre outros, tornaram-se - ainda mais - alvo de minha atenção depois da minha graduação em História na Universidade Feevale. Lembrei como a construção da versão-verdade dos vencedores ignora, suplanta e impede que se ouça ou busque conhecer a versão dos vencidos, dos oprimidos e dos marginalizados. O episódio ocorrido aqui em Novo Hamburgo e Gravataí é um crime, um duplo assassinato mas apresenta várias características similares aos conflitos messiânicos. Em setembro de 2017 quando foram encontradas partes dos corpos das crianças um dos 'empresários' acusados compartilhou notícias sobre o ocorrido no seu Facebook. Sua casa era próxima do local onde foram 'desovados' os corpos. No dia 21 de dezembro, o delegado Moacir Fermino, evangélico fervoroso, numa inusitada e espalhafatosa coletiva acusa sete pessoas de assassinato das duas crianças durante um ritual satânico de busca de prosperidade. O caso obteve repercussão nacional com a divulgação dos detalhes do ritual e do suplício das crianças que até hoje não foram identificadas. Cogita-se que foram trazidas da Argentina onde teriam sido trocadas por uma caminhonete roubada. A prisão provisória de cinco dos sete acusados - dois permanecem foragidos - foi tornada definitiva. Quando o titular da pasta, delegado Rogério Baggio voltou das férias passou a conduzir de uma forma mais sóbria, objetiva e científica as investigações. Provas periciais e acareação das testemunhas revelaram divergências e desacreditaram as conclusões profeticamente inspiradas do delegado Fermino. Nesta quarta, O7 de fevereiro, o delegado titular solicitou a liberação dos acusados detidos. Uma dessas testemunhas foi detida e o delegado disse que "todos os depoimentos eram uma grande mentira" o que faz o caso voltar a fase inicial de investigações. O delegado profeta responderá por sua postura e afirmações junto a Corregedoria da Polícia. .
** Revelação divina
A prisão de três suspeitos – o “bruxo”, um empresário e o filho dele – foi comandada pelo delegado Moacir Fermino, que na época estava à frente da investigação. Em entrevista coletiva à imprensa, ele disse que chegou as conclusões do caso, através de uma “revelação divina”.
“Foi uma revelação de dois profetas de Deus. Quando eu cheguei na delegacia, um deles me ligou, dizendo que tinha informações e que era para eu pegar um caderno para anotar. Foi uma revelação divina”, destacou o delegado'. (parte da notícia do jornal Correio do Povo ).