João Jorge e Jacobina Maurer

João Jorge e Jacobina Maurer

I m A g E m

I m A g E m
O Velho do Espelho

"Por acaso, surpreendo-me no espelho:
quem é esse que me olha e é
tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus,Meu Deus...Parece meu velho pai -
que já morreu"! (Mario Quintana)

P E S Q U I S A

sexta-feira, 28 de junho de 2013

26. A emoção e a coragem de José Paulo Bisol

Do que tu lembras quando te falam do Bisol?
Eu lembro do vice do Lula em duas eleições, do secretário de segurança do Governo Olívio sempre envolvido em polêmicas, do senador combativo e do juiz aposentado que declamava seus poemas no rádio e na TV. Bisol disputou como candidato a vice-presidente de Lula em 1989 e 1994.
Em 1989 foi alvo de várias acusações da grande imprensa que fazia denuncias e questionava sua atuação como senador. Brizola condicionou sua presença no palanque de Lula, no 2º turno da disputa, á ausência de Bisol. Em 1994 acabou sendo substituído na chapa de Lula, em plena campanha, por Aloisio Mercadante.
Como Bisol bem lembrou na entrevista abaixo, o primeiro comício de 2º turno de 1989 onde Brizola, após abrir seu apoio a Lula, participou foi o de Novo Hamburgo, no dia 05 de dezembro.



O dia em que o todo o Brasil acompanhou 
                                             os acontecimentos de Novo Hamburgo                                                       

Eu lembro desse dia e como aconteceu. Foi assim:                                                                           Depois de uma dia de reuniões em Porto Alegre, no dia 05 de dezembro, seriam realizados dois comícios em Novo Hamburgo no fim da tarde e depois, á noite, em Caxias do Sul. O clima em Novo Hamburgo era de extremo cuidado com a segurança porque a confusão no comício do Collor em Caxias do Sul (provocado pelo pessoal do Collor com camisetas do Lula) havia ocorrido poucos dias antes.
Brizola só aceitou vir a Novo Hamburgo e subir no palanque se Bisol não estivesse. Mas Bisol deslocou-se para Novo Hamburgo antes de Lula e Brizola e criou-se uma situação surreal. Bisol passou pela avenida Sete de Setembro ou imediações onde conversou com pessoas e brincou com uma criança e veio para a Câmara de Vereadores onde seria o comício. 
No primeiro turno o comício de Brizola em Novo Hamburgo havia reunido cerca de 30 mil pessoas e o comício do segundo turno, no fim da tarde, reunia quase o mesmo público.


                                    

Quando Lula, Brizola e a comitiva chegaram reuniram-se na sala da bancada do PT, no quarto andar da Câmara, enquanto Bisol era mantido no plenário no térreo que dava acesso a grande sacada que servia como palanque do comício. A tentativa de convencer Bisol a ir para Caxias do Sul - onde Brizola não iria - era dificultada por sua insistência em ficar no comício onde grande público já aguardava mesmo antes do seu início. 
Quando o comício começou Lula e Brizola desceram para o térreo enquanto Bisol, finalmente convencido, subia a serra para Caxias. O comício foi muito bonito, como foram todas as atividades de 1989 e no dia seguinte toda a imprensa nacional falou do 05 de dezembro de 1989, o dia em que o Brasil todo voltou seus olhos para Novo Hamburgo.

                                                                                     Gilnei Andrade



 
A entrevista de Bisol -

...O único partido em que me senti confortável, realizado, foi esse partido que acabo de falar: o PT daquela época. No que eu pude, eu lutei. Só não entrei pro PT naquele tempo, porque pra ser vice eu não podia entrar. Isso em 89 e 94. 

Sul21 – Na campanha de 89, houve um incidente envolvendo o senhor e o Brizola, não é verdade? Acho que foi num palanque, no Rio de Janeiro.
Bisol -
Acho que não foi no Rio. Foi aqui mesmo no Rio Grande do Sul. Acho que em Novo Hamburgo. Ele disse que não iria ao palanque em que eu estivesse. Ele me surpreendeu completamente, porque nunca tinha me dito nada. Alguém soprou alguma coisa no ouvido dele e ele acreditou. É por isso que eu digo que ele fez muita bobagem em relação à minha pessoa. Depois se arrependeu. Quando nós fizemos as pazes ele me pediu desculpas.

Sul21 – Dali para a frente ficaram amigos?
Bisol -
Ficamos distantes. Eu continuei a ser um testemunho favorável a ele, do seu momento mais importante, que foi o momento da Legalidade. Não dá para a gente gente desvalorizar o valioso porque houve uma coisa errada. Essa grandeza é mínima.

http://www.sul21.com.br/jornal/2011/09/bisol-%E2%80%9Clula-e-um-neoliberal-capitalista-ele-nao-tem-nada-de-novo%E2%80%9D/


terça-feira, 18 de junho de 2013

A resposta é mais democracia

                                                  
                                                    
 Não enxergar o elo entre as ruas e o ciclo histórico costuma ser fatal    às lideranças de uma época. Acreditar que o elo, no caso dos recentes protestos em São Paulo, está no aumento de 20 centavos sobre uma tarifa de transporte congelada desde janeiro de 2011, é ingenuidade.
Supor que a ordenação entre uma coisa e outra poderá ser restabelecida à base de cassetetes e pedradas é o passaporte para o desastre. Desastre progressista, bem entendido.
A lógica conservadora nunca alimentou dúvidas existenciais ou políticas quanto a melhor forma de manter o caos nos eixos.Esse é um apanágio do seu repertório histórico.O colapso do trânsito, inclua-se nesse desmanche o custo e o tempo despendidos nos deslocamentos, é apenas o termômetro mais evidente de um metabolismo urbano comatoso.Cerca de 1/3 dos paulistanos, aqueles mais pobres, residentes nas periferias distantes, levam mais de uma, a até mais de duas horas no trajeto da casa ao trabalho.Os tempos indicados são referentes à ida; não consideram o gasto no retorno.Os dados são de pesquisa recente do Ibope. Não se produz uma irracionalidade desse calibre sem um acúmulo deliberado.
Estudos do Ipea reiteram a piora nas condições de transporte urbano das principais áreas metropolitanas do país desde 1992.O Brasil tem a taxa de urbanização mais alta em uma América Latina que lidera o ranking mundial nesse indicador, diz a ONU. O país concluiu a transição rural/urbana em três décadas, açoitado pela política de modernização conservadora do campo.Isso se fez sob a chibata de uma ditadura militar .E não poderia ter sido feito exceto assim.
A virulência do Estado ditatorial fez em um terço do tempo aquilo que as nações ricas levaram um século para realizar. A coagulação da insensatez na atual ‘imobilidade urbana’ reflete o saldo de perdas e danos dessa marcha batida da história.
O crescimento populacional desordenado das grandes cidades, agudizado pelas referidas migrações é um dos alicerces da ruína. Ancorada na omissão pública de décadas, a expansão irracional e especulativa da mancha urbana ganhou vida própria.Com os desdobramentos logísticos sabidos: aumento das taxas de deslocamento e motorização; explosão dos congestionamentos e do custo do transporte.Na vida da cidade e no bolso de cada cidadão.
Não é figura de retórica dizer que esses ingredientes acionam o pino de cada bomba de gás lacrimogênio e faíscam o pavio de cada enfrentamento irrefletido nas batalhas campais registradas na cidade de São Paulo em menos de uma semana. Repita-se: o conservadorismo tem certezas esféricas quanto a melhor forma de lidar com a nitroglicerina social contida nas cápsulas de concreto que ergueu no país nas últimas décadas.
Suas escolhas não podem ser as mesmas das forças progressistas.O nivelamento regressivo acontecerá caso a inércia política ceda o comando dos acontecimentos à lógica da violência.



No caso dos protestos em São Paulo, a responsabilidade da autoridade municipal é superlativa. Cabe-lhe reafirmar o divisor entre a gestão progressista de uma sociedade e a visão conservadora sobre os seus conflitos.
Carta Maior saudou a vitória de Fernando Haddad em 2012 por entender, como entende, que ele representa o resgate do cimento da democracia na reconstrução de São Paulo.Mais que isso.Por entender que a sorte de São Paulo sob a liderança da nova administração marcará o destino da agenda progressista brasileira no período em curso.A maior metrópole latino-americana constitui um gigantesco laboratório de desafios e recursos.Tem a escala necessária para gerar contracorrentes vigorosas, a ponto de sacudir e renovar a agenda da esquerda brasileira, após mais de uma década no comando do país.
A deriva em que se encontram os serviços e espaços públicos da cidade é obra meticulosa e secular de elites predadoras. Ao longo de décadas, a Prefeitura consolidou-se aos olhos da população como um anexo dessa lógica expropriatória, quando deveria funcionar como um escudo do interesse coletivo.Incapaz de se contrapor à tragédia estrutural que marca a luta pela vida em São Paulo, tornou-se uma ferramenta irrelevante aos olhos da cidadania.
A tragédia se completa com o descrédito da população em relação ao seu próprio peso na ordenação institucional da cidade. Daí para acender uma espiral de enfrentamentos bastam 20 centavos de diferença na tarifa. Sim, há outras nuances e interesses entrelaçados ao destaque esquizofrênico com que a mídia convoca e, depois, alardeia o caos a cada protesto.Tais motivações são as mesmas que fizeram do tomate um astro olímpico na modalidade ‘descontrole dos preços’, há menos de um mês.
As mesmas que hoje alardeiam ‘a explosão’ do dólar – e, ontem, denunciavam o ‘populismo cambial’ e os malefícios, verdadeiros, do Real sobrevalorizado. Essas motivações exercitam sua sofreguidão cotidianamente na mesmice de uma mídia que se esboroa sob o peso de sua própria irrelevância jornalística.
A resposta da Prefeitura de São Paulo aos protestos não deve se pautar pelos uivos do jogral conservador.
Não se trata, tampouco, de conciliar com a violência gratuita.
Mas, sim, de encarar as manifestações como um mirante privilegiado para fixar uma nova referência na vida da cidade. Qual seja, a de calafetar o abismo conservador que predominou secularmente na relação entre a Prefeitura e os moradores da metrópole, sobretudo a sua parcela mais pobre. O trunfo do prefeito Fernando Haddad é ter sido eleito para isso. Ele tem legitimidade para subtrair espaços à engrenagem opressora e devolve-los a uma cidadania há muito alijada das decisões referentes ao seu destino e ao destino do seu lugar.
Um salto de qualidade e intensidade na participação democrática na gestão da cidade; essa é a resposta para a fornalha da insatisfação.Da qual os incidentes de agora podem representar apenas um prenúncio pedagógico.São Paulo é o produto mais representativo do capitalismo brasileiro.Um labirinto de contradições, uma geringonça que emperra e se arrasta, desperdiça energia e cospe gente enquanto tritura e refaz o seu concreto de desigualdade.
Não há solução administrativa ou orçamentária imediata para o caos deliberadamente construído aqui.
A resposta à lógica que sequestrou a cidade dos seus cidadãos é devolvê-la a eles fortalecendo os canais existentes e abrindo outros novos, que dilatem o seu discernimento e a capacidade de erguer linhas de passagem entre o presente e o futuro.A alternativa é a anomia, eventualmente sacudida de gás lacrimogênio e pedradas.

(*) NR: a menção ao uso de coquetéis molotov nas manifestações foi suprimida do texto por se tratar de informação divulgada pelo aparato policial, sem comprovação até o momento (12/06/2013; 23h51)

Postado por Saul Leblon às 17:37 em 
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1264
12/06/2013

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sergei Eisenstein (1898-1948)

 
  Revolucionário, professor, pensador do cinema, realizador, Sergei Mikhailovich Eisenstein é um dos nomes fundamentais na consolidação da linguagem das imagens em movimento. Com 26 anos fez “A greve”, mostrando que arte e política podiam andar juntas. Com 27, deu ao mundo “O Encouraçado Potemkin”, tão (ou mais) importante que “Cidadão Kane” na história do cinema.  

Filmado em apenas 2 meses e montado com extraordinário apuro técnico, o “Potemkin” tem cenas cujo ritmo supera, com folga, qualquer clip pós-moderno da geração MTV. Logo depois fez “Outubro”, menos narrativo, demonstrando sua “Teoria da Montagem de Atrações”, até hoje modelo para filmes experimentais e trabalhos de vídeo-arte. 
Nestas três obras, apesar de financiado pelo estado, Eisenstein teve bastante liberdade criativa. Seus problemas começaram com “A linha geral”. Stalin julgou que a obra não estava de acordo com o “realismo soviético”, estética que fora estabelecida pela Revolução como a mais adequada para educar e conquistar as “massas”. Stalin chegou a mudar o nome do filme para “O velho e o novo” e propor algumas alterações. Eisenstein não gostou.




Graças ao sucesso extraordinário do “Potemkin”, foi chamado pela MGM e, junto com seus colaboradores Alexandrov e Tissé, embarcou para os Estados Unidos. Só que deu tudo errado. Seus projetos não decolavam, apesar de ter amigos poderosos como Chaplin e Flaherty. Eisenstein resolveu então afastar-se de Hollywood e fazer “Que Viva México”, uma obra ambiciosa sobre a história de um país e sua cultura. Infelizmente, as filmagens foram interrompidas por problemas financeiros, e o material, mais tarde, caiu em mãos gananciosas e pouco inspiradas. 


Desolado, o cineasta só tinha uma saída: voltar para seu país e tentar recolocar-se entre as engrenagens stalinistas. Contudo, os tempos eram ainda mais duros. Nem a imprensa o perdoava por seu afastamento e pelo seu curto idílio capitalista. Começou “O prado de Bezhin”, mas as filmagens foram interrompidas por “instâncias superiores”. Quando sua carreira parecia perdida, entretanto, recebeu a ordem de filmar “Alexandre Nevski”, como uma peça de propaganda anti-germânica (Hitler crescia e ameaçava invadir a União Soviética).



E, assim como já fizera no “Potemkin”, Eisenstein construiu uma obra-prima que está acima da ideologia (ou melhor: alimenta-se da ideologia, mas não está submetida aos seus dogmas). A cena da batalha no gelo é antológica (no sentido estrito da palavra), tanto pela fotografia maravilhosa, quanto pela habilidade narrativa.




 Com o prestígio recuperado, Eisenstein começou “Ivã, o Terrível”, que deveria três partes. Mas então começou a II Guerra, e tudo se complicou. A primeira parte foi concluída, mas a segunda, que teria seqüências em cores, novamente caiu no desagrado de Stálin, que queria um herói indômito, vigoroso, monolítico, e não um ser humano de verdade, como Eisenstein planejava construir. O cineasta morreu de ataque cardíaco em 1948, em desgraça com o regime soviético, mas já consagrado no mundo todo.


FILMOGRAFIA
- “A greve” (1924)
- “O Encouraçado Potemkin” (1925)
- “Outubro” (1927)
- “A linha geral” (1929)
- “Que viva México” (1931) - inacabado
- “O prado de Bezhin” (1935) – inacabado
- “Alexandre Nevski” (1938)
- “Ivã, o Terrível” (1944/45) – em duas partes

Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Disponível em http://www.terra.com.br/cinema/favoritos/eisenstein.htm

domingo, 9 de junho de 2013

Mar Portugues

O grupo Contrabando interpreta o tema "Mar Português", de um poema homónimo de Fernando Pessoa. Este tema faz parte do segundo álbum deste grupo intitulado "coisas do ser e do mar" (2008) e é uma composição original do seu guitarrista, Henrique Lopes, na voz de Nuno Cabrita. Fernando Pessoa é um poeta referencial na obra deste grupo de música. O grupo, cujo primeiro álbum, "Fresta", foi editado em 2000, conta também com interpretações de outros importantes autores da língua portuguesa, o que, aliás, define a ideia deste projecto musical, como sejam, Agostinho da Silva, Branquinho da Fonseca, Ary dos Santos ou José Gomes Ferreira.




MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado,
quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
 Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

 www.youtube.com/watch?v=c7414ciO1Hs

Monte Castelo


A música (...) “Monte Castelo” de Renato Russo é um diálogo com o texto bíblico “O amor é um dom supremo’’ escrito pelo apóstolo Paulo à Igreja de Coríntios (que fala da sublimidade do amor como sentimento puro, verdadeiro e generoso) e o soneto 005 de Camões “amor é um fogo que arde sem se ver” (que apresenta o amor existente entre homem e mulher).



                  
Monte Castelo 

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.

É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal,
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem.
Todos dormem. Todos dormem.
Agora vejo em parte,
Mas então veremos face a face.

É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade,
 Sem amor eu nada seria.
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos

sábado, 8 de junho de 2013

Paulo Staudt Moreira

Por: Patricia Fachin


Política e literatura sempre foram temas presentes na vida do professor e coordenador do PPG em História da Unisinos, Paulo Staudt Moreira. Jovem militante no período da Ditadura, ele era afeiçoado a partidos de esquerda, principalmente ao Partido dos Trabalhadores (PT). Na entrevista que segue, o professor reflete sobre o atual momento político brasileiro e enfatiza que “vivemos num processo de descoberta da democracia, o que, para nós, brasileiros, é uma novidade”.
Confira.
Origens – Nasci em Alegrete, no ano de 1962. Meu pai, Antonio Carlos Moreira, nasceu em Bagé e é de origem portuguesa e siciliana. Minha avó enviuvou muito cedo, então ele teve de trabalhar a partir dos oito anos de idade, vendendo pastel na rua. Por volta de 1943, ele mudou para Porto Alegre e morou em várias pensões, todas no Bairro Floresta, onde conheceu minha mãe. A origem dela é completamente diferente: é uma típica descendente de alemães A família tinha alguns bens na cidade de Tapera, porém empobreceu, fato que a fez ir morar em Porto Alegre, passando a trabalhar como comerciaria em uma loja.
"Em 1953, eles se casaram e tiveram quatro filhos: primeiro minhas duas irmãs e, depois, enquanto morávamos em Alegrete em função do trabalho do meu pai na Cooperativa da Viação Férrea, nascemos eu e meu irmão. Quando eu tinha cinco anos, a família retornou a Porto Alegre. Sou um típico portoalegrense e gremista.

Estudos – Sempre estudei em escola pública. Iniciei os estudos no Grupo Escolar Camila Furtado Alves, em Porto Alegre e conclui o então Segundo Grau (hoje, Ensino Médio) no Colégio São Pedro. Nesta época, os militares retiraram do currículo escolar matérias contestadoras, políticas e introduziram disciplinas profissionalizantes. Então, me formei em Contabilidade, o que me garantiu o primeiro emprego. Com 16 anos, comecei a trabalhar como técnico contábil em uma imobiliária. Depois, trabalhei cinco anos em um banco privado.

Ditadura – No período da Ditadura, havia um investimento nas comemorações cívicas. Até hoje isso é algo complicado para mim. Sinto-me estranho cantando o Hino Nacional; sempre acho que é meio reacionário ser nacionalista. Lembro com carinho e respeito de uma professora chamada Rosa Maria. Ela subvertia a Moral e Cívica, discutia liberdade e cidadania, e, sem querer, me incentivou a ser historiador. Meu pai nasceu em 1922, no mesmo ano de nascimento do Brizola. Criei-me influenciado pelo brizolismo do meu pai e, portanto, rejeitando a ditadura militar. Mais tarde, ao aderir a outros partidos mais de esquerda, tive algumas discussões com ele. Nada de muito grave, pois ainda somos muito ligados.

Faculdade – Quando conclui o Ensino Médio, fiquei apenas trabalhando. Mais tarde, escolhi um curso superior que desse dinheiro. Na época, a tendência era cursar Processamento de Dados. Então, iniciei o curso na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Em determinado momento, percebi que era muito infeliz trabalhando como bancário e frustrado fazendo aquela faculdade. No terceiro semestre da graduação, tinha a nítida certeza de que iria me tornar um analista de sistemas razoável, mas muito triste. Foi aí que decidi cursar História, na Unisinos. A professora Helga Piccolo me convidou para ser bolsista. Isso foi fantástico porque ela me introduziu no mundo da pesquisa. Continuei trabalhando no banco mais alguns anos, até que assumi a profissão de professor, lecionando em escolas estaduais. Em outra ocasião, a professora Helga me incentivou a cursar o mestrado na UFRGS e acabou orientando a minha dissertação. Nesse período fiz um concurso estadual e me tornei Historiador do Governo do Estado, em 1992. Trabalhei, desde então, no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Depois, fiz doutorado na mesma universidade, orientado pela professora Sandra Pesavento, que faleceu há pouco tempo.

Carreira acadêmica – Ser professor na universidade parece algo inacreditável. Quando entrei na Unisinos, há oito anos, encontrei professores que me deram aula na graduação. O respeito que tenho por eles é impressionante. Lembro das aulas de história medieval com o Baldissera, de história moderna com a Beatriz Franzen, de história gaúcha com a Capovilla, de arqueologia com o Pe. Ignacio Schmitz , de história antiga com o Pe. Milton Valente. Além disso, fui colega de aula de vários dos atuais professores, os quais conheço há 30 anos. Marluza Harres, Eliane Fleck, Maria Cristina Martins, Sirlei Gedoz, Marcos Tramontini , todos colegas e amigos dos corredores da Unisinos, depois, de congressos e da associação dos historiadores gaúchos. 
Família – Sou casado. Conheci a Dani [Daniela Carvalho], minha esposa, aqui na universidade. Ainda não temos filhos, mas estamos encomendando.


Lazer – Adoro livros policiais e adoro romances. Sou apaixonado por música e frustrado por não saber tocar nenhum instrumento. Fui, durante muito tempo, assíduo corredor. Nos primeiros anos trabalhando na Unisinos, sempre ia até o complexo desportivo para correr na pista. Isso me fortalecia para as aulas. Também gosto de futebol.

Religião – Minha família é católica e uma das tarefas que tenho é levar ocasionalmente a minha mãe à missa. Quando eu estava na graduação, tentei me tornar marxista e ateu. Em termos de marxismo até que fui bem sucedido, mas não no quesito fé, porque a Igreja sempre foi um lugar onde me senti bem. Minha mãe passou para mim um catolicismo humanista. Então, a religião e a fé, para mim, sempre foram “a cara” dela. Hoje, me considero um agnóstico e assumi as minhas dúvidas. Às vezes achamos que a nossa vida é sempre uma jornada em busca de certezas, mas não. Ela pode ser uma excelente peregrinação em busca das dúvidas.

Política – Eu era daqueles milhares que participavam de comícios do PT, escolhia candidatos para fazer campanha. Quem viveu esse momento sabe que foi lindo e não me arrependo. Acho que vivemos num processo de descoberta da democracia, o que, para nós, brasileiros, é uma novidade. O que menos tivemos na história brasileira foi democracia. Estávamos num afã muito grande de resolver todas as nossas demandas sociais e fazer com que o país se tornasse um paraíso.  Tentamos fazer a revolução porque achamos que tudo vai certo. Acontece que não é assim. Vivemos numa sociedade plural e cheia de problemas a serem resolvidos. Então, é obvio que o governo Lula causou uma série de frustrações, mas é um aprendizado da vida em democracia.
Claro que ficamos chateados ao observar que pessoas do PT compactuaram com práticas que criticávamos em outros governos. Não tenho mais uma prática política efetiva no sentido de apoiar candidatos, sair na rua. Meu pai acha que me tornei muito sem graça por que tínhamos grandes discussões políticas em casa: ele defendendo o brizolismo e eu o PT.

Sonhos – Meus sonhos são momentâneos. Sempre sonhei em morar em uma casa com pátio para poder cuidar de vários cachorros. Estou vivendo um momento profissional e sentimental que gosto muito.

Unisinos – Estou há oito anos na universidade e, nesse tempo, a Unisinos passou por várias transformações que chocaram professores e funcionários, como a saída de vários profissionais. Torno-me solidário e me sensibilizo com estas perdas de amigos e colegas. Mas a Unisinos não está isolada do mundo e esse é um processo radical que está ocorrendo em diversos lugares. Percebo que estamos num outro momento, ligado a uma ânsia de produtividade – o que não é uma característica apenas da universidade. Participei do Fórum de Coordenadores de Pós-Graduação, no Rio de Janeiro, e a reclamação era de que existe hoje um estimulo abusivo à produtividade. Isso pode nos conduzir a uma superprodução superficial. Tenho muita expectativa na forma como as atividades estão sendo conduzidas na Unisinos. A universidade é um referencial educacional. Certas palavras nos assustam e têm nos levado a algumas angustias. Quando ouvimos falar em sustentabilidade, competitividade, achamos que o capitalismo venceu tudo. Mas, na verdade, é a aceitação de algumas regras das quais não escapamos, porque estamos em uma universidade particular. Em termos de pós-graduação, estamos entre as melhores do país. A reitoria e as diversas unidades têm de estar conscientes dos riscos de um possível desestímulo às áreas das ciências humanas. Esse é um risco que não podemos correr. As ciências humanas são, por excelência, os locais onde se promove a consciência, a reflexão e a autocrítica. Por isso mesmo, precisam ser estimuladas.
IHU – O IHU é interessante. Parece-me o local de inerente reflexão e ponto crítico. O IHU é um ponto de referência e aponta para o futuro e o horizonte.

FONTE:

Joana Mina, Marcelo Angola e Laura crioula: Os parentes contra o cativeiro
http://www.apers.rs.gov.br/arquivos/1292867959.Livro_Processos_Crime.pdf

Provando do próprio veneno - Paulo Staudt Moreira
 http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/provando-do-proprio-veneno

sexta-feira, 7 de junho de 2013

A lista dos acusados de tortura


Revista de Historia da Biblioteca Nacional 
Dos papéis de Luiz Carlos Prestes consta um relatório do Comitê de Solidariedade aos Revolucionários do Brasil, de 1976. O documento traz uma lista de 233 torturadores feita por presos políticos em 1975 O acervo pessoal de Luiz Carlos Prestes, que será doado por sua viúva, Maria Prestes, ao Arquivo Nacional, traz entre cartas trocadas com os filhos e a esposa, fotografias e documentos que mostram diferentes momentos da história política do Brasil. Entre eles, o “Relatório da IV Reunião Anual do Comitê de Solidariedade aos Revolucionários do Brasil”, datado de fevereiro de 1976. 
 Neste período Prestes vivia exilado na União Soviética e, como o documento não revela quem são os membros deste Comitê, não se pode afirmar que o líder comunista tenha participado da elaboração do relatório. De qualquer forma, é curioso encontrá-lo entre seus papéis pessoais. 
O documento(...) foi noticiado pela primeira vez em junho de 1978, no semanário alternativo “Em Tempo”. Segundo o periódico, “na época em que foi escrito, o documento não teve grandes repercussões, apenas alguns jornais resumiram a descrição dos métodos de tortura”. O Major de Infantaria do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra é o primeiro da lista de torturadores, segundo o relatório. A Revista de História tentou ouvi-lo, mas segundo sua esposa, Joseita Ustra, ele foi orientado pelo advogado a não dar entrevista. “Tudo que ele tinha pra dizer está no livro dele”, diz ela, referindo-se à publicação “A verdade sufocada: a história que a esquerda não quer que o Brasil conheça” (Editora Ser, 2010). 

A repercussão da lista em 1978

A Revista de História conversou com um jornalista que integrava a equipe do “Em Tempo”. Segundo a fonte – que prefere não ser identificada – a redação tinha um documento datilografado por presos políticos. Era uma “xerox” muito ruim do texto, reproduzido em uma página A4. Buscando obter mais informações sobre o documento, os jornalistas chegaram ao livro “Presos políticos brasileiros: acerca da repressão fascista no Brasil” (Edições Maria Da Fonte, 1976, Portugal). Depois desta lista, o “Em Tempo” publicou mais duas relações de militares acusados de cometerem tortura. 
Na época, a tiragem do semanário era de 20 mil exemplares, rapidamente esgotada nas bancas, batendo o recorde do jornal. A publicação fechou o tempo para o jornal, que sofreu naquela semana dois atentados. A sucursal de Curitiba foi invadida e pichada. Na parede, os vândalos deixaram a marca em spray “Os 233”. O outro atentado aconteceu na sucursal de Belo Horizonte: colocaram ácido nas máquinas de escrever. Na capital mineira, a repercussão foi maior porque os militantes de esquerda saíram em protesto a favor do jornal. O próprio “Em Tempo” publicou esses dois casos, com fotos.

 Alice Melo e Vivi Fernandes de Lima
29/12/2011


 Lista dos torturadores: a favor ou contra? Uma polêmica tomou conta dos comentários da reportagem 'A lista dos acusados de tortura', publicada aqui no site, em janeiro. No final da matéria, que tentava explicar de onde saiu uma lista com 233 nomes de possíveis torturadores do regime militar - encontrada no acervo pessoal de Luiz Carlos Prestes (doado ao Arquivo Nacional)-, havia a publicação na íntegra deste documento. Muita gente criticou, muita gente apoiou. E você, o que acha disso tudo? Se não conhece a lista ou ainda tem dúvidas, leia a reportagem no link abaixo e volte aqui para comentar.

 http://www.revistadehistoria.com.br/forum/republica/topico/lista-dos-233-torturadores-a-favor-ou-contra

http://www.revistadehistoria.com.br/secao/na-rhbn/a-lista-de-prestes

Postado em 03/01/2012
 às 05:17 por Alice Melo

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Dicas de filmes



Neste blog voce pode acompanhar o resumo e imagens de filmes classicos da história do cinema. O objetivo do blog é chegar a 1.103 filmes. Já está no 125 em ordem cronológica pelo ano de produção. Cinema é tudo de bom. Cultura e diversão.


 O Mágico de Oz (1939)

O feiticeiro de Oz (1939) Victor Flemig

Este é um filme que dispensa qualquer tipo de apresentações, mas ainda assim, vamos escrever o que pensamos dele (a história em si já todos a conhecem concerteza).É sem dúvida, O filme que fez de Judy Garland uma estrela e sem dúvida com todo o mérito.
Outro dos elementos fortes é a sua banda sonora - "We're Off to See the Wizard", "If I Only Had a Brain/Heart/Nerve" - representando cada parte, um dos amigos de Dorothy (Espantalho/Homem de Lata/Leão, por esta ordem) - e a estrela da banda sonora "Over the Rainbow".
Cenas memoráveis, como o da bruxa a derreter "I'm melting, I'm melting", o feiticeiro a ser descoberto através de Toto (o cão de Dorothy) que puxa a cortina e o revela, o tornado (em tons sépia) que dirige Dorothy até á maravilhosa terra mágica de Oz (em Technicolor), entre muitas outras cenas.
É sem dúvida um filme para todas as idades e apesar de se notarem alguns erros é um filme que se aguentou muito bem com a idade. É um miminho de filme e já agora vamos todos, seguir pela Estrada de Pedra Amarela (Yellow Brick Road)?


  Tempos Modernos (1936)

Tempos Modernos (1936)
Modern Times
Charles Chaplin 

Outro filme de e com Charles Chaplin, desta vez os temas vão desde o homem vs. máquina, greves, desemprego (nada que se pareça com os tempos de hoje, por acaso, não é verdade?)   No famoso papel de Vagabundo, ele tenta ajudar uma orfã (acabam os dois por se entreajudarem).
Na época do sonoro, Chaplin fez todo o filme mudo - como aliás se tornou famoso - á excepção de uma cena em que canta (e é uma cena bem divertida por sinal).
Todo o filme, como não podia deixar de ser, é super engraçado e tem cenas hilariantes.
Para ver e para rir, porque rir faz sempre bem.

  Triunfo da Vontade (1934)

Triunfo da Vontade (1934)
Triumph des Willens
Leni Riefenstahl 

Um documentário de propraganda nazi, acerca das "maravilhas" do Nacional Socialismo, onde estão lá todos - Goebbels, Himmler, Speer, entre muitos outros e como não podia deixar de ser o "Deus todo-o-poderoso", Adolf Hitler.
Mostrar a pujança dos jovens e dos homens que o seguem, engradecer a Alemanha e os Alemães (puros) - no fim, uma nota de salientar, os milhares de pessoas que participaram neste comicio em Nuremberg (é de tirar a respiração) - e acaba por ser irónico, que esta cidade tenha sido anos depois palco dos famosos julgamentos aos apoiantes do Terceiro Reich.

 Drácula (1931)

Drácula (1931)
Dracula
Tod Browning
 
Revimos este clássico do terror de Tod Browning e ficámos com a mesma impressão - poderia ser melhor.
Já todos conhecemos a história de Drácula, mas para quem anda distraido aqui fica: Renfield, um agente imobiliário pensa ter um negócio com o Conde Drácula e acaba por ser uma das suas vitimas. Drácula vai para Londres e decide que Mina será a sua próxima vitima, mas o seu noivo e Van Helsing vão fazer de tudo para que Drácula não consiga os seus intentos.
Bela Lugosi está espectacularmente bem no papel de Drácula e Dwight Frye como o insano Renfield (comedor de moscas e afins).
Temos cenas memoráveis, mas algumas patéticas também - vermos os fios a segurar o morcego que voa e o final que poderia e deveria ter sido bem melhor.
Fica sempre a sensação de que este filme poderia ter sido mais bem aproveitado (perdoem-nos os fãs do mesmo).

Outubro (1927)

Outubro (1927)
Oktyabr
Grigori Aleksandrov e Sergei Eisenstein
 
Parece que estamos na fase dos filmes um pouco mais aborrecidos. "Outubro" não foi excepção.Parece um filme sem nexo a imitar um documentário sobre a Revolução Russa.
Não nos conseguiu cativar, achamos tudo muito estranho e algo confuso, mas acima de tudo isso o filme foi mesmo secante.
O único ponto positivo foi a cena da estátua a ser destruida (está muito bem feita).
Esperamos que os próximos filmes nos cativem mais e que esta (má) fase tenha terminado.
* Nota do blog Fazendo  História - Outubro é um classico do cinema realizado na comemoração dos 10 anos da Revolução Russa. Acho que neste caso aborrecido é o comentário original.
 

O Encouraçado Potemkin (1925)

O Couraçado Potemkine (1925)
Bronenosets Potyomkin
Grigori Aleksandrov e Sergei Eisenstein
Tinhamos muita curiosidade em ver este clássico do cinema - muito por causa de tantos elogios que nos foram dando acerca do mesmo. 
As expectativas foram superadas, pois o filme é brilhante. Cenas que ficam na memória e que nos fazem revoltar as entranhas.
Cenas como a carne com larvas, a criança a ser morta e espezinhada, o carro do bébé a cair pela escadaria, e tantas outras (são tantas que tornaria este texto enorme).
O melhor mesmo, é para quem se considera um amante do cinema, tentar vê-lo o mais breve possivel, se ainda não o fizeram.

A Viagem á Lua (1902)

A Viagem á Lua (1902)
Voyage Dans la Lune
Georges Méliès

A nossa demanda começa com esta curta-metragem de 14 minutos.Este é sem dúvida, quanto a nós, o primeiro filme de ficção cientifica e um filme "profeta", pois longe estava a Humanidade daqueles tempos de imaginar que algum dia o Homem poderia, realmente, "pisar" a Lua.
É sem dúvida um filme que qualquer cinéfilo tem que ver, pois apesar de ter sido realizado em 1902 com pouquissimos meios é um filme de qualidade, devido á "carolice" do genial Georges Méliès.
A cena fantástica e provavelmente a mais famosa da Lua a ser atingida pelo foguetão, os "exploradores" a fugirem dos habitantes hostis daquele Planeta... enfim, um filme que entreteve bastante.
Este foi um filme que conseguimos obter rapidamente e é um bom filme para ser adicionado a uma colecção.

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Adelino Francklin

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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Historiadores irlandeses revêem a Guerra do Paraguai pela ótica de Elisa Lynch



 

A irlandesa Elisa Lynch foi uma prostituta ambiciosa e manipuladora que incitou o ditador paraguaio Francisco Solano López a iniciar o conflito mais sangrento da história da América Latina, a Guerra do Paraguai. Pelo menos essa é a versão que ficou para a história, amplamente divulgada pelos periódicos brasileiros da época e que dirou até hoje.

Mas um grupo internacional de historiadores está propondo que a "Evita Perón do Paraguai" foi na verdade uma corajosa mulher à frente de seu tempo, que se dedicou ao país frente à invasão das tropas do Brasil. Uma mulher que cavou pessoalmente a cova do companheiro após ele ser morto por lanceiros brasileiros.

Para a maioria dos brasileiros, a Guerra do Paraguai é um período esquecido, renegado a vagas lembranças das aulas de história. Já para os paraguaios, foi o momento no qual o seu país, que despontava como potência da América do Sul, foi atirado de volta à idade da pedra, com estupros em massa e no qual em torno de 90% da população masculina foi dizimada.

E a obra "Calúnia: Elisa Lynch e a Guerra do Paraguai" mostra que essa ferida está aberta até hoje na sociedade paraguaia ao mostrar essa guerra trágica pela ótica de uma mulher que ficou lembrada como uma das mais cruéis do mundo.

O livro trilingue, em português, espanhol e inglês, é resultado do esforço conjunto de uma equipe de historiadores que se basearam em milhares de documentos de diversos países.




Veja abaixo a entrevista com o autor Michael Lillis, ex-diplomata que morou por vários anos no Brasil e se interessou por essa figura acusada de ajudar a criar um dos piores conflitos da América do Sul.

Livraria da Folha - Quando você ficou interessado pela primeira vez em Elisa Lynch?

Foi em 1991, eu estava me dirigindo ao Paraguai a negócios, trabalhava com leasing de aviões para empresas da região e o então presidente do país, General Rodrigues, pediu para me ver depois que assinamos o contrato. Ele disse que queria me perguntar o que eles achavam na Irlanda da heroína nacional do Paraguai? Eu não sabia do que ele estava falando, mas como fui um diplomata por vinte anos respondi "com muito interesse, sua excelência". Quando saímos do escritório eu perguntei a um amigo do que se tratava e ele me contou sobre Elisa Lynch. Outro colega depois me enviou um livro chamado "World's Wickedest Women" [pode ser traduzido como "as mulheres mais más do mundo"] e havia um capítulo inteiro dedicado a ela, onde ela era descrita como uma torturadora e prostituta. E nós provamos com nossa pesquisa que isso não possui nenhum fundamento histórico.

Livraria da Folha - Como foi o processo de criação da obra?

Em 1991 eu comecei apenas a me interessar pelo assunto, sem nenhuma pretensão de escrever um livro. Depois diversos amigos do Paraguai, Brasil e da Europa nos reunimos para trocar informações sobre Elisa Lynch. E então começamos a lidar com isso de forma mais séria a partir do ano 2001 com a ajuda do falecido comandante Rolim Amarro, fundador da TAM. Ele organizou um seminário de duas semanas em Assunção onde nós ouvimos cerca de doze historiadores de diversas partes do mundo, que trouxeram novas informações sobre essa mulher fascinante. Eu me afastei um pouco do livro após o acidente aéreo que causou a morte do comandante Rolim, pois ele era um grande amigo, mas retomamos o projeto nos últimos anos. Nós reunimos cerca de 10 mil documentos de diversas regiões do mundo, dos Estados Unidos, Brasil, Paraguai, Irlanda e muitos da Biblioteca do Vaticano.

Livraria da Folha - Você encontrou algum tipo de dificuldade por parte do governo brasileiro ou da comunidade acadêmica do país?

Não. O nosso principal historiador brasileiro, Ricardo Maranhão, chegou a se preocupar, pois parte dos arquivos brasileiros sobre a Guerra do Paraguai ainda é confidencial, está fechado para consultas. Não sabemos nada sobre o que existe dentro desse arquivo secreto e eu acho que a maioria dos historiadores de hoje concordaria que seria uma atitude positiva liberá-los, uma vez que selados como estão eles são fonte de especulação e até paranóia sobre o conteúdo desses documentos. A Irlanda tem uma história também difícil, semelhante à do Paraguai em diversos aspectos, e acredito que sempre é importante disponibilizar o máximo possível de informações para ajudar a diminuir o trauma que fica em um país que passa por momentos históricos tão devastadores.

Livraria da Folha - Você acha que o governo brasileiro hoje possui algum tipo de responsabilidade, não só de abrir esses documentos ao público, mas de talvez fazer uma declaração sobre a atuação brasileira no período?

Tanto eu quanto o co-autor Ronan somos irlandeses, e como falei nosso país passou por diversos momentos conturbados com a Inglaterra pela independência e outros episódios que remontam há séculos. Esse legado do passado sempre foi um enorme problema para a relação entre os países, mas quando Tony Blair emitiu em 1997 um pedido de desculpas pela responsabilidade da Inglaterra pela Grande Fome de 1840, que causou a morte de milhões de irlandeses, esse gesto obviamente não solucionou as divergências, mas foi uma grande ajuda para curar essa cicatriz do passado. Quando você vai para o Paraguai hoje você ainda percebe esse tipo de cicatriz na sociedade.

Livraria da Folha - Em todas as guerras ocorrem grandes perdas. O que houve de diferente da do Paraguai?

Nos dois últimos anos da guerra, eu sinto dizer, ocorreram diversas atrocidades contra civis. O Duque de Caxias chegou a recomendar ao imperador Dom Pedro 2º o fim do combate, pois o Brasil tinha claramente vencido, mas o imperador insistiu em continuar com a campanha. E isso deixou uma marca muito forte na consciência paraguaia. Não cabe a mim dizer que tipo de gesto o governo brasileiro deveria realizar. Poderia ser um pedido de desculpas, poderia ser, como acredito que o presidente Lula já esteja fazendo, encontrar formas de melhorar as relações entre as duas nações, talvez algo relacionado à hidrelétrica de Itaipu, que é muito importante para a infraestrutura do país. O Paraguai é muito pobre e o Brasil é uma nação que possui um lugar importante no mundo e acho que existem formas que o Brasil possa auxiliar o vizinho que também sejam proveitosas para o Brasil.

Livraria da Folha - Qual você considera a importância desse tipo de revisão de verdades históricas consideradas estabelecidas?

É importante que cada geração reveja o passado e reescreva a história. No caso da Guerra do Paraguai, e da biografia de Elisa Lynch em particular, isso é de extrema importância. Na criação deste livro nós descobrimos que muitas das lendas que cercava essa personagem foram fabricadas por inimigos tanto dentro quanto fora do Paraguai. E no final das contas, mesmo que ela não tenha sido perfeita de forma alguma, era uma mulher extremamente interessante, com grande coragem, que foi muito dedicada à causa paraguaia. Com relação ao conflito, ele simplesmente destruiu o Paraguai e deixou um terrível legado histórico no país. E devido à nossa perspectiva como irlandeses, um país que também passou por períodos históricos muito difíceis, consideramos que é importante trazer à tona essas questões para que possamos, tanto fazer algo sobre elas hoje, quanto evitá-las no futuro.



GUILHERME SOLARI
colaboração para a Livraria da Folha
30/11/2009 - 12h23
http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/ult10082u659511.shtml